Designer Jacquemus responde a comentário homofóbico de líder da extrema-direita
Marion Maréchal, sobrinha de Marine Le Pen, criticou o nascimento dos filhos do designer de moda, que é homossexual e recorreu a uma barriga de aluguer. A cabeça de lista às eleições europeias garante, porém, que o comentário não é homofóbico. Mais de um mês depois, Jacquemus diz o que pensa.
Foto: Getty Images03 de junho de 2024 às 20:52 Madalena Haderer
A 22 de abril deste ano, o designer de Moda francês Simon Porte Jacquemus – cuja famosa marca de roupa é conhecida pelo seu sobrenome – anunciou ao mundo, através do Instagram, que ele o o marido, o italiano Marco Maestri, haviam sido pais de dois bebés, gémeos, dois dias antes. Jacquemus publicou uma fotografia das mãos dos recém-nascidos, em cujas pulseiras podem ler-se os nomes – Mia e Sun – à qual adicionou a seguinte legenda: "Bem-vindos ao mundo, nossos amores. Amamo-vos muito. O nosso sonho tornou-se realidade convosco. Papá Marco e Papá Simon."
O casal recebeu muitas mensagens de felicitação, mas também bastantes críticas ao facto de terem recorrido a uma barriga de aluguer – uma prática ilegal em França –, como foi o caso de Marion Maréchal, sobrinha da líder política de extrema direita Marine Le Pen, que usou a plataforma X (Twitter, para os saudosistas) para reagir com um lacónico "Onde está a mamã?" Um comentário que causou indignação entre muitos seguidores e que ficou sem resposta até há poucos dias, quando Jacquemus foi convidado para ir ao programa de televisão
Questionado sobre o comentário de Marion Maréchal, Jacquemus disse o seguinte: "Não partilhamos os mesmos valores. Não recebo lições dessa senhora. Acho que deve ocupar-se de si própria e dos seus valores. Penso que vivemos em dois mundos francamente diferentes. Portanto, se ela não compreende o mundo em que vivo, tanto melhor. Sinceramente, estamos muito distantes." O designer explicou ainda que foi importante para si partilhar a foto dos seus dois filhos pela mesma razão que partilhou as do seu casamento: "Quando era criança, gay, não tinha nenhuma referência de casais gay. Não sabia que era gay. Vivia na dimensão do não-dito." Jacquemus acrescenta ainda que considera ser importante ser um modelo para os mais jovens, normalizando a vida dos homossexuais – "dois homens, saudáveis, que se amam" – e contribuir para a sua "desdiabolização".
Por seu lado, Marion Maréchal, cabeça de lista para as eleições europeias do partido de extrema-direita Reconquête! – o nome do partido, "Reconquista!", é bastante explicativo –, foi chamada a explicar o seu comentário em diversas ocasiões. Numa delas, no estúdio de televisão do grupo Nice-Matin, num programa sobre as eleições europeias, Maréchal disse que o seu comentário está relacionado com aquilo que considera ser a "banalização" de um método [a barriga de aluguer ou gestação de substituição] que considera "vergonhoso e condenável". "Eu sou uma mulher e não sou um útero de aluguer. E as crianças não são objetos comercializáveis nem bens de consumo", afiança. E acrescenta o seguinte: "Conhecemos as práticas da gestação de substituição em países pobres, onde as mulheres são exploradas a troco de dinheiro, ou em países ricos onde há cláusulas de dois anos de garantia em caso de morte da criança." Marion diz que "há casos em que se ocorrer um acidente de automóvel ou acidente doméstico é possível pedir a substituição da criança, como se fosse um peixe de aquário."
Maréchal garante que o seu comentário não foi homofóbico porque não estava a atacar a homossexualidade do casal, mas a prática da barriga de aluguer, e deu o exemplo de Paris Hilton, dizendo que considera "odiável" o facto de esta "recorrer a uma gestação de substituição para não ter de passar pela gravidez".
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Marion parece ter herdado da tia, Marine Le Pen, o dom da polémica. E se há, de facto, um argumento relevante no que toca à exploração de mulheres em países pobres que poderão ser forçadas a participar num processo de gestação de substituição por não terem outras formas viáveis de ganhar dinheiro e sustentar as suas famílias, há também uma pergunta que não quer calar: teria Marion Maréchal sido tão vocal na sua desaprovação do processo que levou ao nascimento dos bebés de Jacquemus se o designer de Moda fosse casado com uma mulher?