A RE/MAX “não é só um projeto económico, é um ato de amor”
Nasceu e cresceu em Saragoça, Espanha, mas veio para Portugal na década de 1990 e nunca mais saiu. Beatriz Rubio sabia que queria chegar longe, mas nunca imaginou construir um império. O grupo Everybody Wins, que copreside com o marido, Manuel Alvarez, é constituído pela RE/MAX, MaxFinance, Melom Obras, Querido Mudei a Casa, entre outras marcas, e detém mais de 1000 franquias a nível internacional.
06 de novembro de 2025 às 14:23 Máxima
Beatriz Rubio chega elegante num fato branco, chama as duas filhas –
Patrícia e Marta – para ficarem ao seu lado nas fotografias, cruza-se com o
marido, Manuel Alvarez, nos corredores, sabe o nome de todos os colaboradores
por quem passa. Conhecida pelo seu otimismo e pela capacidade de motivar
equipas, a CEO da RE/MAX tem uma energia que – admite, entre risos – até a cansa
a ela própria. Sempre ambicionou chegar longe, mas nunca imaginou conquistar
tanto. Nem nos melhores sonhos.
Não tem qualquer dúvida de que a família é o seu “maior sucesso” e,
numa conversa conjunta com Patrícia Alvarez, filha do casal e diretora de Inovação
da RE/MAX, ambas comprovaram que a família e os negócios andaram sempre lado a
lado. Amplamente premiada e distinguida pelo seu percurso profissional, Beatriz
Rubio já chegou a ser considerada uma das 50 mulheres mais influentes de
Portugal. Recentemente, foi agraciada pelo rei Felipe VI com a Ordem de Isabel,
a Católica, algo que não acontecia a uma mulher desde 1492.
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Com 60 anos feitos em setembro, fala em reformar-se para “desfrutar
mais da vida”, mas confessa que não pretende “sair de repente das empresas”. No
entanto, sabe que está a deixar um legado para os filhos Patrícia, Marta e
Manuel: “Construir uma empresa geracional não é só um projeto económico, é um ato de amor. Não é só um
negócio, estamos a transmitir uma visão ética, um sonho, que passa a ser
compartilhado.”
Olhando para trás, imaginava que ia fazer um percurso tão bem-sucedido?
Tinha essa ambição?
Comecei a minha
carreira na L'Oréal Espanha, em 1990, depois de ter feito um master. Hoje em
dia, toda a gente faz masters, mas, na altura, praticamente não existiam. No
meu caso, o master era no IESE, que é o mais importante em Espanha e tem também um ranking muito bom na Europa. Só permitiam a entrada de oito mulheres para
oitenta homens. Eram tempos mesmo muito masculinos, até ao nível
dos estudos.
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Foi mais difícil
afirmar-se como mulher?
Sim, ainda mais sendo eu uma
mulher que tinha muito bem definida essa ambição de chegar longe. A minha ambição de chegar longe não era como empresária.
Talvez porque o meu pai e o meu avô também foram empresários e eu sabia que os
empresários tinham muitos altos e baixos ao longo da vida. Mas aconteceu. Eu e o Manuel viemos para Portugal passar três anos através das empresas onde
trabalhávamos – o Manuel com o Dia, agora Minipreço, e eu com a
L’Oreal. E pediram-nos para ficarmos mais três anos. Após
esses seis anos, pediram-nos que fôssemos para a China. Se fosse agora, tendo
em conta a aventureira que sou, se calhar teria dito que sim. Em 1998, ano da Expo, quando ainda trabalhávamos para essas mesmas empresas, as notícias diziam que não havia
camas para dormir em Portugal. E nós decidimos montar um parque de campismo em Alcochete no terreno mais feio que alguma vez vi! Depois arrendámos cabanas de
madeira, como os bungalows, com dois quartos, casas de banho individuais e
cozinha. Houve dias em que
os bungalows estiveram cheios, outros nem tanto.
Começámos a avançar
com esta ideia em fevereiro e a Expo abriu em maio. Em abril, estava a negociar
bungalows em França. Eu negociava porque é o meu forte. O Manuel encarregava-se
de tudo o que estava relacionado com a instalação. Isto em três ou quatro meses. Mas conseguimos!
Então pensámos: “Se fizemos isto com duas crianças pequenas…” Podia dar 500 outros motivos mas, foi este que nos
fez avançar e montar o nosso negócio. Quisemos que fosse diferente, orientado
para as pessoas, onde todos ganhássemos. E sabíamos que queríamos fazer algo
grande. Mas não imaginava conquistar o que conquistámos.
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O que é que a Beatriz
de hoje diria àquela Beatriz jovem que sonhava alto?
Diria que não há nada
impossível, mas que temos de ser cautelosos e honestos nas nossas decisões. Não
vale tudo. Depois diria que os problemas de hoje amanhã não têm importância
nenhuma. “Não precisas de te preocupar tanto” – esta seria a minha frase.
Ganhou essa perceção
com a maturidade?
Ganhei. E, às vezes,
agora – porque continuo a ter problemas – digo: “Daqui a um ano já nem te
lembras disto.” E é verdade.
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Formou-se em PNL e
coaching e um dos segredos do seu sucesso é a sua
positividade e a forma como motiva as suas equipas. Como é que as motiva, o que
é que lhes diz, tendo em conta que este mercado pode ser tão instável, tão desafiante
e tão dependente das oscilações da própria economia?
Eu gosto bastante de
contar histórias, então faço muitos paralelismos. Nunca conto uma coisa
diretamente, é raro, exceto se estiver a falar de números ou de factos. Para a
motivação, utilizo muito histórias que façam com que saias do teu contexto. E
isto para quê? Porque temos a tendência para ficarmos à defensiva, quando nos
falam do nosso problema diretamente. Então é preciso que as pessoas saiam da
defensiva para ouvir. E, muitas vezes, transportando-as para outra história, veem
realmente qual é o problema. O foco está em ir em frente.
Quais são os
principais problemas, neste momento, que inflacionaram o mercado imobiliário?
Há muita procura e muito pouca oferta. Como faltam terrenos, os promotores decidem construir para a
classe alta, porque vão ganhar muito mais dinheiro e porque o custo do terreno
é muito alto. Depois, há terrenos que demoram 10 anos para ter licença. Esse terreno,
se for comprado com crédito – que é o normal, porque estamos a falar de milhões
de euros –, tem o custo de aquisição mais 10 anos de
juros. Uma loucura! Se o terreno tiver a licença logo no primeiro ano, já se
consegue reduzir 10 anos de juros. E, nesse caso, o promotor poderia construir para outra fatia da
população.
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Os governos,
independentemente de serem de um ou de outro partido, teriam de estar acima dos
interesses partidários para o país avançar. Tive conversas com pessoas de
diferentes partidos que me disseram: “Eu concordo, mas o partido não me vai
deixar.” Então, o que importa aqui realmente? O que importa é Portugal, são as
pessoas. Os governos são escolhidos para gerir e vão ter de ceder. Se não
cederem, o país não avança.
Contudo, este não é
um problema só de Portugal. Acho que está pior em Espanha e França também está
muito mal. Mas Espanha constrói para cima e Portugal não. Por exemplo, zonas
como a Bela Vista e Braço de Prata, que são zonas mais afastadas do centro,
deveriam ter prédios mais altos. Eu não digo destruir o património que existe
na avenida da Liberdade ou nos Restauradores, nada disso. Mas nas zonas novas,
em expansão, dever-se-ia construir mais em altura.
Apesar de ter
construído a empresa em conjunto com o marido, quando se
tornou CEO da RE/MAX ainda sentiu que foi olhada de lado por ser casada com o
presidente, Manuel Alvarez. Deixou que os factos falassem
por si e, hoje, sente que é respeitada tanto dentro como fora da empresa. De tal
forma que – confessa, em jeito de brincadeira – agora é Manuel Alvarez que, por
vezes, é apresentado como sendo “o marido de Beatriz Rubio”.
É casada há mais de
30 anos com Manuel Alvarez, presidente da RE/MAX. Como é que gerem esta relação
de casal e de negócios?
O segredo é, em primeiro lugar, separar as áreas muito bem. E, como
somos ambos sócios, é confiar,
tal como confio nos meus diretores. Acho que é muito
bom trabalhar em família, porque temos objetivos comuns. Mas chegar a este
ponto custa. Em casa tentamos não falar de trabalho – à noite. Durante o dia
até podes, mas durante a noite não, porque senão vamos para a cama e, pelo
menos eu, tenho bastantes ideias, depois não durmo.
Alguma vez sentiu que foi tratada de forma diferente por ser casada com o
Manuel Alvarez?
No início, sim. Por
ser mulher e por ser casada. Diziam “Ai colocaste a tua mulher? Vamos lá ver se
ela sabe.” E eu pensava: “Pronto, vou ter de demonstrar também aqui.”
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E respondia?
Não. Calava-me e, com
os factos, damos a conhecer o que somos.
E hoje ainda sente
isso?
Agora já não. Tenho o
respeito total e absoluto, não só das pessoas da RE/MAX como das pessoas de
fora. Inclusive reúno-me com presidentes de bancos. Pelo contrário, às vezes
dizem: “É o marido da Beatriz Rubio.” Ele tem nome, chama-se Manuel Alvarez.
Ninguém quer ser superior a ninguém. O que é bonito é brilhar em conjunto.
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E nunca rivalizaram?
Sim, claro. Por isso
digo que, até chegar a este ponto, é difícil. Porque quando rivalizas, os dois
perdem. E a empresa perde.
É CEO da RE/MAX há 16
anos, lidera 410 agências e 12 mil
pessoas em Portugal. Além disso, já foi amplamente premiada e reconhecida…
A última foi pelo rei
de Espanha! Foi muito bom. Foi a primeira vez que deram este prémio a uma
mulher desde 1492. As coisas já mudaram muito, mas, em certos aspetos, ainda é
difícil ser mulher. Não é porque temos filhos que deixamos de ser
profissionais. Há pessoas que nunca vão ser profissionais sendo homens ou
mulheres e outras que vão ser sempre quer tenham filhos ou não.
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Qual é o legado que
quer deixar?
É muito importante
que os nossos filhos queiram continuar o nosso legado. Se não quisessem, não
era obrigatório. Podíamos nomear diretores e, a determinada altura, os nossos
filhos poderiam pensar em vender as empresas. Mas, quando vemos que temos
continuidade, temos uma visão a longo prazo. Trazer pessoas jovens para a
empresa também é muito importante. Por exemplo, a Patrícia [filha de Beatriz Rubio
e Manuel Alvarez] é diretora de Inovação e está sempre a trazer ideias novas.
Depois, porque o vínculo emocional que ela tem com a RE/MAX e com as empresas
do grupo é diferente de ser um diretor. Ela sente.
Para mim, construir
uma empresa geracional não é só um projeto
económico, é um ato de amor: estou a semear para que, amanhã, os meus
filhos colham. Não é só um negócio, estamos a transmitir uma visão ética, um
sonho, que passa a ser compartilhado. Por isso é que a Marta [outra filha do
casal] estava [presente nas fotografias], porque não quero que ela, apesar de
ser médica, deixe de ter ligação com as empresas.
Quando vês que alguém da tua
família vai assumir o teu lugar, com a mesma paixão, o mesmo otimismo, esse é o
meu maior legado – que a empresa possa continuar com essa força e essa paixão.
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Exige mais da
Patrícia por ser sua filha do que de outros colaboradores?
Sem dúvida. Ela
começou na MaxFinance para construir o seu caminho sozinha. Para não ser “a
filha de”. Conseguiu conquistar o lugar dela e, quando conseguiu, veio para
a RE/MAX. E está na RE/MAX só desde janeiro. Mas, entre nós, dizer que está
na RE/MAX desde janeiro é mentira…
Está desde que
nasceu…
(Risos) É isso mesmo.
É a paixão que continua, mas com ideias novas e frescas.
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Dentro da empresa,
sente necessidade de separar os laços familiares? Apresenta-a como sua filha?
Nunca a apresento
como minha filha. Por isso, ela utiliza Patrícia Alvarez. Eu nunca usei o
apelido do meu marido. Nas reuniões, ela trata-me por Beatriz ou Bea, o
diminutivo que usam aqui.
Disse, numa
entrevista, que, quando fez 40 anos, teve a típica crise e foi estudar
desenvolvimento pessoal. Em setembro, fez 60. Esta idade também está a fazê-la
repensar a vida?
Está a fazer repensar
para me reformar, mas eu não sou pessoa para me reformar. Tenho muita energia. E não
gosto nada do número “6”. Os 50 passaram mais despercebidos. Quero
desfrutar mais da vida, quero ter uma semana de férias por mês – o que, para
mim, seria um luxo. Mas quero continuar a dar também o meu input. Não posso sair de
repente das empresas, porque é como se perdesse uma parte de mim, um braço, uma
perna.
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Há pouco, quando
estávamos a tirar as fotografias, reparei que foi buscar o laço rosa para
colocar na lapela por ser o Outubro Rosa. Também passou por uma situação de
saúde recentemente, mas foi benigna.
Sim. Foi
em março, tive de ser operada a um quisto de 10 centímetros por quatro. Tinha bastantes dores. Então, tirei tudo. Foi muito complicado porque levei 200 pontos
internos.
Isso mexeu consigo de
alguma forma?
Primeiro, agradecer
sempre a Deus. Eu sou crente. É uma segunda oportunidade. Se este quisto fosse
maligno, provavelmente agora estaria muito mal, a julgar pela dimensão que o
quisto tinha.
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O que gostava que dissessem sobre si?
Que consegui mudar a
vida de muitas pessoas. Essa é a minha luta diária.
Patrícia Alvarez é a filha
do meio e a que está mais ligada ao universo das empresas da família.
Tem a energia da mãe. Participou em anúncios, brincava com os irmãos, no carro, à procura dos
cartazes e foi a todas as convenções. Quer manter a atenção ao detalhe da mãe e a visão de curto
prazo do pai, mas também trazer mais jovens e tecnologia para a empresa. Mãe de
um menino com um ano e meio e grávida do segundo, pretende passar o testemunho
aos filhos e, daqui a 10 anos, gostava de “liderar todas as empresas” do grupo.
Marta Alvarez, Beatriz Rubio e Patrícia Alvarez
Numa entrevista, a sua mãe, Beatriz Rubio, disse que a Patrícia começou
a andar entre as paletes do Recheio, onde trabalhava na altura. Tanto a
Patrícia como a sua irmã Marta cresceram no contexto profissional dos vossos
pais. Nunca houve uma grande separação entre o que é a família e o que é o
trabalho?
Sim, é verdade, e é
uma coisa que quero fazer também com os meus filhos. Tentar que eles venham a
todos os eventos, porque o sentimento que nós temos pelas empresas do grupo e
pela RE/MAX é também porque passámos tantos anos da nossa vida com estas
pessoas. Isso é o
que hoje faz com que eu não queira que a empresa seja vendida a uma pessoa que
não ia ter o mesmo sentimento.
É uma pressão
diferente ter um império, com 14 mil famílias a dependerem de vocês, a
precisarem que isto corra bem?
É efetivamente uma
pressão diferente. Quando comecei a trabalhar na MaxFinance, acordava às três
da manhã e começava a escrever e-mails porque precisava de escrever todas as
ideias que tinha pensado ao longo do dia. Agora
já consigo
gerir de outra forma. Sei que tenho capacidade e que vou fazer um bom trabalho.
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Nunca sentiu a
necessidade, tanto com os seus pais enquanto criança como agora mãe e grávida
pela segunda vez, de fazer uma separação entre aquilo que é a família e aquilo
que é o trabalho?
Sim, às vezes
gostava, mas trabalhar numa empresa familiar também dá benefícios. Quando eu e o meu marido viemos para Portugal, um dos conselhos que nos deram foi: “Não preferem trabalhar em
empresas diferentes?” E realmente essa era a forma mais fácil. O meu marido
trabalha na Melom, na construção. Eu sempre cresci com isto, por isso, para
mim, não faz confusão.
Também conseguem
separar bem as áreas quando chegam a casa?
Em casa preferimos
não falar de trabalho. O nosso filho é mais do que o suficiente (risos). Nós ainda não passámos as fases todas que os
meus pais passaram. Ainda estamos a tentar encontrar cada um o seu espaço.
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Qual é a primeira
memória que tem da RE/MAX?
Andar à procura dos
cartazes quando andávamos de carro. Também fizemos um anúncio. Ir às convenções ao colo da minha mãe. Fui a
todas! E, de repente, toda a gente me cumprimenta. Quando eu comecei a
trabalhar na RE/MAX, as pessoas diziam: “Paty, não te vejo há 20 anos” (risos).
E a sua mãe e o seu
pai levavam a Patrícia e a Marta porque queriam ou por falta de alternativa?
Faziam questão de nos
levar. O facto de os meus pais gastarem o fim de semana de família com trabalho
é porque o trabalho também é muito importante. E todos os nossos clientes, os
franchisados que, no final do dia, confiam tanto em nós, verem como exemplo
levar a família para o trabalho também demonstra aquilo de que estamos sempre a
falar: “Estamos comprometidos com vocês, somos transparentes, queremos que isto
funcione tanto como vocês, e estamos aqui todos os dias a lutar pela RE/MAX,
pelas empresas todas.”
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O que é que a fez
querer estudar Gestão e seguir as pisadas da família?
No 9.º ano, disse ao
meu pai: “Se calhar vou ser jornalista.” E o meu pai disse: “Pensa outra vez.”
(risos) Fizemos o IB [um Bacharelato
Internacional que dá uma qualificação aceite em universidades de todo o mundo]
e, no IB, já tínhamos Economia, Gestão, e assim que tive a minha primeira aula
de Gestão, cheguei a casa com imensas dúvidas, a tentar perceber como aplicaria
isto na RE/MAX. E comecei a adorar.
Sente uma pressão
acrescida por ser filha da CEO e do presidente?
Dos nossos clientes,
dos franchisados, não. Depois, existem
as confrontações normais do dia a dia com o staff. Mas a única coisa que quero é melhorar, é fazer crescer a empresa.
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Pede mais conselhos
aos seus pais ou desafia mais as ideias deles?
Nós somos três filhos
muito sinceros. Em casa sempre falámos muito de trabalho. “Paty, vamos lançar uma ideia de marketing.
Qual é a tua opinião?” Perguntavam-me isto com 16 anos. Temos um irmão mais
novo, o Manuel, que é muito mais maduro, em comparação com outros rapazes da
idade dele, porque sempre ouviu falar sobre as empresas.
O que é que a
apaixona mais neste trabalho? Além de ser a empresa da família e existir um
lado sentimental, o que é que a faz querer continuar?
É uma empresa de
pessoas e para pessoas. Por exemplo, o Lidl quer mudar qualquer coisa, diz que
vai mudar os procedimentos e toda a gente segue. Connosco, cada franchisado é
uma empresa à parte. Então, temos de desafiar todas as nossas ideias, com todos
os nossos franchisados e dar argumentos. Temos 400 agências,
essas 400 agências são 350 empresas diferentes.
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Daqui para a frente,
o que é que gostaria de fazer igual ou idêntico àquilo que fazem os seus pais e
o que é que gostaria de fazer diferente?
Sou muito mais
parecida com a minha mãe em termos de energia. Mas tento limitar a minha
energia e ser mais parecida com o meu
pai: mais mental, mais crítica.
Menos emotiva?
Eu sou muito emotiva
mesmo assim… mas sim, tento dosear. Quero continuar a ter o tie[ligação]
da minha mãe. Não só em relação aos números, mas ao dia a dia. A minha mãe chega a uma
reunião e diz: “Não repararam neste número? Em que é que este número afeta isto
tudo?” Ou seja, a atenção ao detalhe. Mas também gostava de ter a visão do meu
pai de longo prazo, sempre com ideias completamente diferentes. Eu nem sei como
é que eles conseguem ter tantas ideias diferentes: um a curto prazo e o outro a
longo prazo complementam-se muito bem. Por isso, gostava de continuar com a
mentalidade crítica que os dois têm nos dois sentidos.
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O que é que gostava
de fazer de diferente?
Acho que colocar mais
jovens é muito importante para dar dinamismo. Mas sem nos esquecermos das
pessoas que estão cá connosco há 10, 15, 20 anos, porque têm uma grande
experiência. Acho também que a tecnologia é deveras importante, mas, ao mesmo
tempo, sem as pessoas não conseguimos chegar a nenhum lado. Nós conseguimos vender porque conhecemos as
pessoas. O contacto humano não pode desaparecer.
Onde é que a Patrícia
se vê daqui a 10 anos? Em que posição?
A resposta fácil é
dizer diretora-geral, não é? (Risos) Mas eu
gostava de ir mais além. Eu sempre quis ser empresária, ter a minha empresa
própria. E o meu pai dizia: “Mas tens um grupo cheio de empresas.
Não precisas de uma empresa própria.” E é verdade que, ao longo dos anos, essa
ideia foi desaparecendo, porque eu fui acreditando que as empresas realmente
são nossas. Minhas também. E que não vale a pena criar uma coisa nova.
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Sentia necessidade de
provar alguma coisa?
Sim, de demonstrar
que era capaz de criar uma empresa do zero. Eles conseguiram e eu tenho a
certeza de que também conseguiria. Mas é uma energia que pode ser usada para as
empresas que temos no grupo. Daqui a 10 anos, gostava de conseguir liderar
todas as empresas. Não uma, mas todo o grupo.
E o que é que sente
quando olha para este império que os seus pais construíram?
Muito orgulho neles.
Nós, os três, não conseguimos dar este tipo de entrevistas sem chorar. Porque
temos imensa paixão por isto. Sabemos que tudo o que os nossos pais fizeram foi
para nos darem uma vida melhor. Só podemos agradecer.
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E mesmo assim, com
pais muito focados no trabalho, nunca sentiram que a família fosse posta de
parte?
Zero. Porque o fim de
semana era só nosso. E mesmo que fosse um fim de semana de trabalho, era um fim
de semana nosso. Porque éramos nós com o trabalho.