A síndrome do coração partido é um problema de saúde real. Exercício e terapia podem ajudar na recuperação
Parece uma coisa saída da saga de Bridget Jones, mas não é. Um desgosto de amor mata. Chama-se síndrome de “takotsubo” e é desencadeada por stress emocional severo. Faz com que o músculo cardíaco mude de forma e enfraqueça repentinamente. Pensava-se que não tinha cura.

Por muito que as mães, durante a adolescência das filhas, as queiram convencer do contrário, chocando de frente com toda a produção cinematográfica, musical e literária da era moderna, a verdade é que pode morrer-se de coração partido. A ciência comprova-o. Não é por acaso que casais que passaram a vida inteira juntos morrem, frequentemente, com uma diferença de horas ou dias. Também não é coincidência que muitas mães sucumbam à morte de um filho. A síndrome do coração partido, conhecida oficialmente como síndrome de takotsubo (ou miocardiopatia induzida por stress) é uma condição cardíaca rara, mas potencialmente grave, que imita um enfarte agudo do miocárdio, mas sem a típica obstrução das artérias coronárias. O termo takotsubo vem do japonês e significa literalmente "armadilha para polvos" – foi usado pela primeira vez no Japão nos anos 90, porque, durante um ataque, o ventrículo esquerdo adquire uma forma arredondada e dilatada que lembra esse tipo de armadilha.
De acordo com a British Heart Foundation (Fundação Britânica do Coração), na síndrome de takotsubo o músculo cardíaco muda de forma e enfraquece repentinamente. Regra geral, é desencadeada por stress emocional ou físico severo, como durante um luto, e pode causar sintomas semelhantes a um enfarte. Os pacientes com síndrome de takotsubo têm o dobro do risco de morte em comparação com a população geral. Alguns ficam com insuficiência cardíaca, o que resulta em sintomas debilitantes como fadiga, além de contribuir para uma menor esperança de vida. Atualmente, não existem tratamentos recomendados especificamente para doentes. Ou seja, não tem cura.
Até aqui, nada de novo. O que é novo e digno de nota é o estudo clínico apresentado, recentemente, em Madrid, no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia, cujos resultados demonstram que a síndrome do coração partido pode, afinal, ter cura. “O primeiro ensaio clínico randomizado do mundo sobre a síndrome do coração partido concluiu que 12 semanas de terapia cognitivo-comportamental adaptada, ou um programa de exercícios de recuperação cardíaca que incluía natação, ciclismo e aeróbica, ajudaram na recuperação dos corações dos pacientes”, pode ler-se no site da fundação.
O estudo envolveu 76 pessoas com síndrome de takotsubo – 91% eram mulheres e a idade média era de 66 anos. De acordo com a Revista Portuguesa de Cardiologia, a condição predomina “em mulheres na pós-menopausa, apesar de também poder afetar faixas etárias mais jovens e o género masculino”, pelo que não espanta que este tenha sido o grupo demográfico mais estudado.
Os pacientes foram aleatoriamente distribuídos para receber terapia cognitivo-comportamental, o programa de exercício ou os cuidados padrão. Todos receberam também os restantes cuidados e tratamentos recomendados pelo seu cardiologista. O grupo da terapia cognitivo-comportamental teve 12 sessões semanais individuais, especificamente adaptadas à sua condição, bem como apoio diário se necessário. O grupo do exercício fez um programa de 12 semanas que incluiu bicicleta ergométrica, passadeira, aeróbica e natação, aumentando gradualmente o número de sessões e a intensidade a cada semana.
Os investigadores usaram uma técnica sofisticada de imagem chamada espectroscopia de ressonância magnética de fósforo-31, que permitiu estudar como os corações dos pacientes produziam, armazenavam e utilizavam energia – o metabolismo cardíaco. Isto porque estudos recentes da Universidade de Aberdeen já haviam demonstrado que os pacientes com síndrome de takotsubo apresentam uma disfunção significativa no modo como o coração gere energia, e que esta persiste a longo prazo.
Porém, a imagiologia mostrou que, após 12 semanas de terapia cognitivo-comportamental ou de exercício físico, houve um aumento na quantidade de combustível disponível para os corações dos pacientes bombarem, o que não foi observado nas pessoas que receberam apenas cuidados padrão. Além disso, a distância média que os pacientes submetidos à terapia cognitivo-comportamental conseguiam percorrer em seis minutos aumentou de 402 metros para 458 metros. As pessoas que participaram no programa de exercício conseguiram caminhar em média 528 metros em seis minutos no final do estudo, em comparação com 457 metros no início.
O estudo foi apresentado por David Gamble, investigador clínico em cardiologia na Universidade de Aberdeen, onde a investigação foi levada a cabo. De acordo com a British Heart Foundation, Gamble referiu o seguinte: “Estes resultados reforçam ainda mais a importância do ‘eixo cérebro-coração’. Mostram que a terapia cognitivo-comportamental ou o exercício podem ajudar os pacientes no caminho da recuperação. Ambas são intervenções pouco dispendiosas, e esperamos que estudos futuros permitam que sejam usadas para ajudar este grupo pouco apoiado em todo o país [refere-se ao Reino Unido, onde a síndrome afecta até 5 mil pessoas; os números em Portugal não são conhecidos].”
A questão do “eixo cérebro-coração” foi também sublinhada por Sonya Babu-Narayan, diretora clínica e cardiologista consultora: “As pessoas podem não se surpreender com o facto de um programa de exercícios ajudar doentes cardíacos, mas é intrigante que este estudo também tenha mostrado que a terapia cognitivo-comportamental melhorou a função cardíaca e a forma física dos pacientes. São necessárias mais investigações para perceber se estas abordagens melhoram a sobrevivência ou os sintomas a longo prazo”, concluiu.

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