Desafio: fazer um retiro de bem-estar feminino no Six Senses do Douro. Às vezes vou para os lugares em modo “blind date” para ser surpreendida. Sei que vou para a Quinta Vale Abraão, onde as minhas memórias são unicamente cinematográficas. Depois da viagem de comboio Lisboa-Porto, vejo-me entre vinhedos, o imperturbável rio Douro e respetivos matizes. Se há lugares que são “remédio santo” este é um deles.
O rececionista David Roque faz as honras da casa. Conta-nos que o sino da entrada “foi usado durante séculos como relógio para dizer aos trabalhadores que lavravam o campo que estava na hora de voltarem para casa.” Nos dias que se seguem vamos escutar os sinos do corpo e o que diz o nosso relógio biológico. Criado por mulheres e para mulheres, este novo programa de bem-estar feminino respeita os ciclos naturais de cada uma de nós e sugere uma nutrição consciente.
O programa principia antes da chegada. Depois de preencher um questionário, estive numa entrevista ‘online’ com a especialista Joana Barreto. Espera-me um programa único, personalizado, que farei os impossíveis por cumprir à risca. O “diabinho” grita-me que “é como se estivesse na melhor loja de doces do mundo e não os pudesse comer”. Vou ignorá-lo. O grilo falante diz-me: vai fazer uma corrida com os cães Aqua e Foxy. Os cães, residentes no hotel, ora dormitam na entrada, ora se diluem entre os convivas no bar. Dog Friendly, o hotel dispõe de toda uma gama de massagens e produtos para os amigos de quatro patas.
Na suite que será a minha casa durante três dias está uma carta de boas vindas, que me chama warrior (guerreira). Sou, portanto, uma guerreira determinada a fazer jejum intermitente e a nutrir a alma. Recebo outra carta que me avisa que “o minibar do quarto está de férias”, para não ter tentações.
Depois de um frugal almoço no Restaurante Vale Abraão, onde os cogumelos são quem mais ordena, volto a estar com a especialista Joana Barreto para uma triagem de bem-estar. Desta vez ao vivo. Na consulta é-me fornecido um monitor contínuo de glicose que coloco no braço direito e que, através de uma aplicação, medirá os níveis de açúcar no organismo. Ao que a tecnologia chegou, dirão os descrentes, só sei que funciona. Se tomar um copo de vinho o monitor denuncia. A consulta de biomarcadores - biomarker health screening - oferece uma análise não invasiva das caraterísticas biológicas de cada corpo. É um procedimento simples e rápido usado para ajudar a executar o plano de trabalho dos próximos dias.
Quem me recebe no gabinete é o terapeuta Vítor Amado que aconselha a que se escreva tudo o que nos stressa e que não nos esqueçamos de fazer exercícios físicos e respiratórios para pôr o sistema parassimpático a funcionar bem.
A verdade é que por estes dias terei direito a um anel que fará a análise ao sono, e que me dirá, no dia seguinte, se o meu cérebro efetivamente descansa durante o chamado sono dos justos. A tarde é relaxante.
Durante 60 minutos empreendo uma viagem ao mundo dos sons calmantes com taças tibetanas. Segue-se uma sessão de biohacking com terapias de compressão que provocam uma sensação imediata de paz e serenidade. Adormeço como um bebé no útero materno.
No final, Beatriz Pinto – spa butler – oferece-me sapinka, uma bebida orgânica, 100% natural, com gengibre, maçã e cenoura, que me vai dar uma injeção de energia positiva. “O biohacking é recomendado a jogadores de alta competição, já que auxilia a relaxar os músculos, além de drenar o sistema linfático”, esclarece. Afinal, enquanto dormia, o meu corpo dentro de uma espécie de fato de astronauta regenerava-se. O jantar decorre sem grandes pecadilhos. Já interiorizei que estou ali para um resgate que terá repercussões em cada célula do corpo. O segundo dia começa com um treino core. Em inglês core quer dizer núcleo. Às oito e meia em jejum já estava a fazer um treino core, que é como quem diz, a tentar manter um corpo sedentário em equilíbrio. Ainda há esperança. Reflito sobre isso numa massagem extraordinária no Spa. São 90 minutos de puro prazer. Saio de lá reconectada com o universo. Segue-se a consulta com Mariana Duarte, embaixadora do sono. As aprendizagens são para usar num futuro próximo ou até ao resto da vida. Diz-me Mariana que devo encontrar um horário para me deitar que seja igual todos os dias. “O corpo é um organismo de hábitos. Se não há regras, ele não sabe se é hora de dormir ou de comer”. Sugere também que escreva um pequeno diário antes de dormir. A embaixadora do sono partilha comigo a sua própria dinâmica. Deita-se às 23h30, acorda às 8h30 e vai apanhar sol. Termina o dia a fazer alguma coisa que lhe dê prazer.
Com o alquimista Daniel Monteiro descubro os prazeres que se podem ter através do olfato. Passo a tarde a combinar essências e o resultado é um pequeno perfume de autor que trago comigo na carteira. No Alquimia Bar aprendo que posso usar manteiga de karité em vez de protetor solar e óleo de amêndoas doce para as queimaduras e para a pele seca.
Com a lituana Raimonda Grigaliunaite entro em modo holístico, primeiro com uma aula de ioga e mais tarde com uma meditação guiada. Segundo Rai – como é chamada carinhosamente pelos hóspedes – o sexto sentido é a soma da intuição com a lógica. Também com Rai, à lareira, participamos na cerimónia do fogo. O propósito é queimar velhas angústias e pensar em novas intenções. Escrevo num papel os meus desejos mais sagrados, dobro o papel e guardo na carteira. Entre aguaceiros passeio-me pelos jardins do hotel e fotografo as suas maravilhosas vistas, o Earth Lab onde nascem as mais incríveis ervas de cheiro. O compromisso com políticas de sustentabilidade pode observar-se aqui, neste pequeno ecossistema onde os hóspedes aprendem lições ancestrais para levarem para casa e porem em prática no dia a dia.
Da janela vejo a chuva a cair nos montes que compõem o vale do Douro. Oiço o silêncio, penso nas minhas intenções em modo oração. Sinto que entre o dia do ritual e o momento em que escrevo este texto as intenções se vão tornando realidade. Fico surpreendida com a nossa capacidade de nos transmutarmos, se a cabeça assim o ditar. Este programa demonstra que há beleza em todas as fases da vida desde que se respeitem os ciclos naturais e se promova uma nutrição consciente. A parceria com a Dra Mindy Pelz e respetiva obra ajuda-me a cumprir as aprendizagens feitas por estas paragens. Trago dois livros para casa e sinto que temos sempre espaço para recomeçar. Sinto esse cliché a cada dia.
No balcão da cozinha, o Chef Álvaro Ribeiro explica-me a dieta a que sou submetida. “A 140 gramas de proteína juntam-se 160 gramas de guarnição.” Os fritos, evidentemente, não estão incluídos. Se a fome apertar durante o jejum pode pecar-se, com moderação, com frutos secos e bolachas integrais. Livre, a última manhã deste retiro divide-se entre a piscina coberta do spa e uma caminhada na floresta de quatro hectares desta unidade hoteleira. As árvores centenárias e a decoração romântica inspirada em Sintra fazem a magia do lugar. Em 2019 foram declarados “Jardins históricos de Portugal”.
Com a autorização do chef, experimento aquele que é considerado “o melhor pequeno almoço do mundo”, mas com algum comedimento. Ao iogurte de coco com granola juntei uma tosta avoquit - o abacate não entra nos menus da casa por causa das culturas intensivas - com húmus de ervilhas, rebentos da horta, ovo escalfado e kimchi. Distraio-me a olhar demoradamente as fotografias das famílias que habitaram este lugar ao longo do século XX. Reuniões de família ou crianças a brincar nos jardins. Tanta história que está impressa nas paredes desta casa.
“Goodbye Goddess”, diz a última carta. Passo de nível. De guerreira a deusa, mas não me sinto confortável com esta nomenclatura. Vou tentar continuar alinhada no caminho do bem-estar físico e mental.
Despeço-me da paisagem a ouvir Clair de Lune, de Debussy, banda sonora do filme de Manoel de Oliveira. O primeiro contacto que tive com Vale Abraão (1991) foi através do filme homónimo do realizador, inspirado na obra de Agustina Bessa Luís. A atriz Leonor Silveira, sublime, no papel de Ema, e as panorâmicas a condizer.
Não espanta que esta paisagem seja classificada Património Mundial da Humanidade pela UNESCO, espanta a novidade de conseguir renovar-se no meio desta beleza líquida.
Programa de Bem-estar feminino
Focado nas singularidades de cada mulher, este programa – exclusivo do Six Senses – gira em torno da saúde hormonal feminina, dando ferramentas que permitam às mulheres em fases distintas (perimenopausa e menopausa) de lidar com o seu corpo. Um autêntico reset de saúde e de bem-estar que nos ajuda a ter uma vida hormonal com mais qualidade. Os programas podem ter três, cinco ou sete dias. Serão, no entanto, sempre abordados temas com a alimentação, controlo do stress e padrões do sono.
Female Wellness Program desde €990
A Máxima participou neste programa a convite do Hotel Six Senses.
O Programa de festas
O programa inclui total acesso ao spa durante a estadia, bem como levar/trazer para casa produtos Sleep with Six Senses produzidos no Alquimia Bar. Denominador comum? Não têm qualquer adição de químicos. Para melhor fazer os trabalhos de casa trazemos dois livros de Mindy Pelz: Fast Like a Girl e Eat Like a Girl.
*Este artigo foi escrito ao som de “Clair de Lune” de Johann Debussy. Naqueles dias a lua estava linda.