O exercício diário que torna o cérebro seis anos mais novo

Na verdade, é uma actividade tão simples e prazerosa que chamar-lhe “exercício” é um exagero. E, no entanto, estudos clínicos indicam que é a melhor coisa que pode fazer para ter um cérebro jovem.

Após leitura, mulher descansa com livro para manter cérebro jovem Foto: Pexels
14 de novembro de 2025 às 13:07 Madalena Haderer

Há dias em que a sua cabeça parece um passador. Entra numa sala e não se lembra do que foi lá fazer; regressa a casa com um bolo nas mãos, pousa-o na bancada da cozinha e mete as chaves do carro no ; esconde-se atrás de uma planta para não falar com uma pessoa cujo nome não recorda – se lhe perguntar o nome novamente, será a quarta vez, o que é inaceitável, ah, mas disso o seu cérebro já se lembra, agora, o nome que era bom… nada. Há não muito tempo memorizava números de telefone, a lista de compras, nomes de amigos de amigos, os filmes que iam passar na televisão ao longo do mês – canal, dia e hora –, a receita do bolo de mel da avó. Bons tempos. Se ao menos houvesse uma maneira de pôr o a funcionar como antigamente. Pois, de acordo com a ciência, há mesmo, e tudo o que precisa é de um sofá, uma almofada e talvez uma mantinha.

Uma investigação publicada na revista médica Sleep Health demonstrou que fazer uma diária de entre 20 a 30 minutos reduz a idade do cérebro entre 2,5 e 6,5 anos. Ou seja, se tem agora 40 anos, e a sua memória já viu dias melhores, com esta prática diária pode voltar a ter a função cerebral que tinha aos 30 e poucos. Nada mau. Principalmente, tendo em conta que é um exercício que se faz com nenhum esforço – embora para quem trabalhe num escritório possa exigir uma certa logística. Talvez não possa fazer a sesta durante o horário de trabalho, mas nada a impede de fazer uma power nap quando chega a casa. Vai para o quarto mudar de roupa, tranca a porta, põe uns tampões nos ouvidos, uma venda, e fica lá 20 minutos. É uma questão de hábito – e de explicar aos membros da família que não devem incomodá-la naquele momento.

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O estudo foi conduzido por investigadores do University College London e analisou uma amostra de 378 932 participantes, com idades entre os 40 e 69 anos e ascendência europeia. As conclusões foram bastante animadoras: “As pessoas que faziam sestas diurnas de forma habitual apresentavam cérebros com um volume maior, equivalente a menos 2,6 a 6,5 anos de envelhecimento em comparação com pessoas que não dormiam a sesta. Os resultados sugerem que as sestas durante o dia podem ter um papel em atrasar o processo de encolhimento cerebral que ocorre com a idade.”

Ou seja, como qualquer pessoa que tenha tentado fazer uma actividade cognitiva desafiante depois de um dia de trabalho extenuante já desconfiava, o cérebro “gasta-se” à medida que os anos vão passando. Este estudo avaliou a função cognitiva dos participantes – medida através de testes de memória visual e tempo de reacção – e o volume total e hipocampal do cérebro, obtido por ressonância magnética e, invariavelmente, quem reportou fazer uma sesta diária apresentou melhores resultados.

Victoria Garfield, epidemiologista genética, com formação em psicologia e estatística, e autora principal do estudo disse que “os resultados sugerem que, para algumas pessoas, pequenas sestas diurnas podem ser uma peça do puzzle que ajuda a preservar a saúde do cérebro à medida que envelhecemos”. Acrescentando o seguinte: “Espero que estudos como este, que mostram os benefícios das sestas curtas, possam ajudar a reduzir o estigma que ainda existe em torno do hábito de dormir durante o dia.”

Uma informação particularmente relevante para aquelas pessoas que ainda acham que sono é o oposto de produtividade, ou que “quem muito dorme pouco aprende”, ou ainda que sestas são para os velhotes e para as crianças. Sucede que as sestas são, isso sim, para quem quer chegar à terceira idade com boas funções cognitivas. E a saber onde pôs as chaves do carro.

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