Para qualquer pessoa que não seja a Monica Geller da série Friends, limpar é das piores coisas que se pode fazer na vida. Tempo passado a fazer limpezas é tempo que nunca mais volta. E é, provavelmente, uma das grandes mágoas da idade adulta. Sim, podes comer o que quiseres e ir para a cama quando te der na cabeça, mas… Pagarás com o suor do teu rosto. Limpar a casa é a versão doméstica do mito de Sísifo – o desgraçado que foi condenado a empurrar um pedregulho até ao topo de uma montanha, mas sempre que estava quase a chegar ao cume, a pedra rebolava ladeira abaixo. Viver numa casa – sem dinheiro para pagar a uma empregada doméstica – é isto, mas com um aspirador, um pano e um jerricã de Sonasol. Ferramentas demasiado benévolas quando, francamente, às vezes, parece que a única solução duradoura seria usar um soprador de folhas na mão esquerda e um lança-chamas na mão direita. O gato teria um colapso, mas, tirando isso, é um plano infalível.
Já estabelecemos com sucesso que esta jornalista não gosta de limpar a casa? Avancemos, então. Foi, portanto, como imediato sobressalto e espasmos de alegria que esta que vos escreve acolheu as conclusões de um estudo que diz que “mulheres que fazem limpezas em casa ou trabalham como profissionais de limpeza apresentaram um declínio acelerado da função pulmonar, sugerindo que as exposições relacionadas com atividades de limpeza podem constituir um risco para a saúde respiratória a longo prazo”.
O estudo, que data de 2018, foi levado a cabo pela Universidade de Bergen, na Noruega, e foi publicado na revista científica American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine. A investigação decorreu ao longo de 20 anos e contou com 6235 participantes. Com base nos diversos exames e análises que foram sendo feitos ao longo dos anos, foi possível aferir que as pessoas que se ocupavam frequentemente de limpezas apresentavam uma diminuição da função pulmonar quase equivalente à de alguém que fuma 20 cigarros por dia ao longo do mesmo período de 20 anos.
Mais perturbador ainda é o facto de os homens que participaram no estudo mostrarem menos declínio da função pulmonar do que as mulheres. Só não foi possível aferir se a discrepância era devida a uma maior exposição das mulheres a produtos de limpeza (e ao ato de limpar em si) ou se elas são biologicamente mais sensíveis aos químicos.
Ora, por esta altura, estando provado que fazer limpezas é mais prejudicial para a saúde das mulheres do que dos homens, esta jornalista já se estava a ver, estirada no sofá, com um varapau, a apontar tudo o que tem de ser limpo e arrumado, ou seja, a comandar o seu soldado raso do género masculino. Teve, porém, um rude despertar. Ou, a montanha pariu um rato e, provavelmente, um rato que vai deixar migalhas e caganitas pela casa toda. Sucede que não há incompatibilidade biológica entre os pulmões femininos e a limpeza. O problema central é, isso sim, os produtos em spray ou, melhor dizendo, a inalação crónica de substâncias químicas em spray. Este tipo de produtos de limpeza contêm partículas que se mantêm no ar durante horas, irritam as vias respiratórias e provocam envelhecimento dos pulmões e alterações permanentes nas vias respiratórias.
Portanto, se é verdade que esta exposição afecta mais as mulheres (seja por que razão for), também é verdade que basta passar a usar produtos de limpeza líquidos, em embalagem que permita derramá-los diretamente nas superfícies, num pano ou num balde com água, para que o problema desapareça. Ou seja, nada de sprays para os vidros, para as madeiras ou para desincrustar a gordura no interior do forno.
O diabo, como se sabe, esconde-se nos detalhes e, neste caso, estava enfiado num pulverizador.