Mulheres cada vez mais jovens sentem dor durante relações sexuais. Porquê?
A dispareunia, ou dor durante o sexo ou contactos íntimos, atinge as mulheres em qualquer idade. Numa fase mais tardia da vida, pode estar relacionado com a menopausa, mas há inúmeras mulheres com 20 anos e menos que se queixam deste problema.

No dia 28 de maio celebrou-se o Dia Internacional da Saúde da Mulher. A Máxima aproveitou a oportunidade para visitar a clínica MS Medical Institutes, um espaço especializado em doenças femininas, muitas vezes raras, difíceis de diagnosticar e de tratar. Aqui chegadas, falámos com a médica ginecologista Mónica Gomes Ferreira e a conversa foi tão exaustiva e pedagógica, que decimos dividi-la em quatro artigos: um sobre líquen vulvar escleroso, que publicámos na semana passada; outro sobre dispareunia, de que falamos neste texto; lipedema, na próxima semana; e o “lado B” dos tratamentos oncológicos ao cancro da mama, com que encerraremos este ciclo.
Esta semana focamo-nos, então, na dispareunia – a dor durante as relações sexuais ou contactos íntimos. Este é um problema que surge em qualquer idade e que pode ter inúmeras causas e diferentes tratamentos. É comum as mulheres sentirem alguma vergonha em falar com o seu ginecologista sobre este assunto, como se o desconforto durante o ato sexual fosse um problema menor, secundário. Se o médico não perguntar, muitas vezes não falam. Sofrem em silêncio durante anos ou até começar a haver uma degradação da relação amorosa – muitas vezes também não partilham o problema com os parceiros, tentando simplesmente evitar o contacto íntimo, com as consequências inevitáveis que isso traz.
A verdade – ou, talvez não a verdade, mas uma opinião muito pessoal desta jornalista – é que o facto de as especialidades de ginecologia e obstetrícia estarem acopladas não faz favor nenhum às mulheres. Muitos ginecologistas estão particularmente centrados na saúde reprodutiva, e certamente na saúde ginecológica também, mas têm pouca sensibilidade para situações mais difusas, difíceis de identificar e multifatoriais, que começam por atacar a qualidade de vida, muito antes de serem identificadas como um problema sério e que carece de tratamento. São exemplo disso a dispareunia, a endometriose, a menopausa e perimenopausa, ou até o líquen vulvar escleroso, de que falámos na semana passada. E nesses casos, muitas vezes, as mulheres andam de ginecologista em ginecologista ou calam-se até já não poderem mais.

Não é o caso de Mónica Gomes Ferreira, que ri ao comentar que responde sempre “eu não sou dessas ginecologistas”, quando lhe perguntam quantos bebés é que já pôs cá fora. O foco do seu trabalho é, efetivamente, a saúde ginecológica da mulher, e não a obstetrícia. Por experiência própria – e das muitas mulheres com quem vai falando –, esta jornalista diria que é mais fácil falar de problemas do foro sexual com um médico que não vive focado em trazer bebés ao mundo.
A dispareunia, não sendo um caso de vida ou de morte, causa desconforto físico e mental, diminui a auto-estima e a qualidade de vida, e, em muitos casos, impede que as mulheres tenham uma relação amorosa saudável, feliz e duradoura. Mónica Gomes Ferreira explica que condição é esta, quais as suas causas e possíveis tratamentos.
O que é a dispareunia e quais as suas causas?
A dispareunia, portanto, ter dores durante as relações sexuais, é um problema que pode ser multifatorial, pode ter causas associadas à menopausa, mas também pode ocorrer em mulheres muito jovens. Curiosamente, tenho muitas mulheres, na faixa etária dos 20, que vêm cá com dispareunias. Das primeiras coisas que eu tento ver é, obviamente, a faixa etária. Se for uma mulher com dispareunias que está na menopausa, ou que passou por tratamentos oncológicos, obviamente a causa vai ser essa. Tudo isso são coisas que provocam atrofia vaginal, vulvo-vaginal, [e que depois promove dor durante o ato sexual].
E por que razão surge em mulheres jovens?
Pois, é curioso. Eu tenho mesmo muitas [doentes], e quando digo muitas, são mesmo muitas, ali no início da vida sexual. Com 18, 19, 20 anos... Qual é a causa destas dispareunias? São jovens. Anatomicamente não têm qualquer alteração. Mas há aqueles inícios de relações sexuais [quem correm menos bem]... É fundamental identificar o início. Por que é que começou? Quando é que começou? Em muitos casos, é decorrente de inícios de relações sexuais, que às vezes são bruscos, e elas ficam ali com medo já para o resto dos anos todos. E não conseguem ultrapassar aquela fase. E depois criam estas contraturas a nível dos músculos do pavimento pélvico. E, portanto, sempre que têm relações, às vezes nem relações, só com o toque, só o dedo, já lhes doi.
E como é que se resolve?
São casos muito complicados de resolver. Em qualquer idade. Implica, sem dúvida, apoio psicológico, fisioterapia pélvica também. Elas têm que aprender a relaxar aqueles músculos, porque, depois de tantos anos, elas têm aqueles músculos com contraturas e não conseguem. E depois é necessário também o apoio ginecológico para tentar perceber se existe alguma lesão, alguma inflamação local que tenha ficado nessas zonas e causado lesões que tenham cicatrizado de uma forma inadequada.
Muitas vezes elas referem isso. Principalmente nestes casos de dispareunias das jovens, eu pergunto onde é que dói, e elas dizem: “Dói-me aqui, mesmo só neste ponto.”, ou seja, um ponto específico. Nestes casos, para além de tudo o que já falámos, tento aplicar tecnologias como, por exemplo, o plasma rico em plaquetas e os exossomas. E em casos de vaginismos e dispareunias intensas, podemos fazer também o tratamento com a toxina botulínica para bloquear a sensibilidade daquela zona e então permitir que ela consiga ter relações.
Quando são casos de vaginismos intensos, em que é preciso o apoio da fisioterapia, também podemos aplicar a toxina botulínica em alguns pontos que bloqueiam esses músculos para eles estarem relaxados. Então, quando tem relações ou estímulos na área, não existe aquela dor associada aos músculos, porque eles estão bloqueados. Estes tratamentos da toxina botulínica são tratamentos que vamos ter que ir fazendo, porque perdem o efeito ao fim de quatro a seis meses. Varia, de acordo com cada pessoa, e podem ter que ser repetidos.
E como é que funciona a fisioterapia pélvica?
A fisioterapia pélvica é feita pela fisioterapeuta, elas vão fazendo exercícios de relaxamento nas zonas, em alguns músculos, identificam mesmo o músculo que pode ser bilateral ou unilateral, que está com contratura, dizem-lhes como é que elas têm que relaxar, as respirações, tentar relaxar e contrair, ou seja, é um trabalho de todos os músculos do pavimento pélvico, para elas perceberem como é que devem trabalhar com os músculos e funcionar em cada momento.
Por exemplo, muitas vezes, digo às minhas doentes: “Olhe, tente relaxar os músculos aqui do pavimento pélvico.” E elas tentam e está tudo super contraído. Não conseguem. Outras vezes digo, “contraia, faça força”, como nós, às vezes, fazemos para aguentar, quando precisamos de uma casa de banho e não temos, e elas quase não fazem força. Portanto, esta parte do tratamento e de disciplina a nível dos músculos do pavimento pélvico é fundamental, e é isso que os fisioterapeutas fazem, ensinam a relaxar, como é que devem contrair, quando é que devem contrair, como é que devem fazê-lo. Há certos exercícios que elas aprendem a fazer.
O facto de Portugal ainda ser um país muito conservador se calhar também promove que o início da vida sexual seja um bocado traumático. Muito envolto em vergonha e medo de estar a fazer uma coisa errada, que os pais não aprovam.
Sim, sem dúvida. Por isso é que é muito importante a educação nas escolas. E também vejo imensas jovens que são o contrário, são totalmente despreocupadas, e contagiam-se com mil e uma doenças de transmissão sexual, porque não têm medo de nada. É importantíssimo que resolvam as dúvidas que têm, de forma que tudo seja feito de forma adequada, para evitar estas sequelas e repercussões, que depois podem durar mesmo muitos anos e são muito complicadas. E elas depois estão aqui meses e meses a tentar resolver estes problemas, e quando finalmente acabam, é uma felicidade, elas ficam totalmente diferentes, com aquele brilho nos olhos, mas custa, não é fácil. Principalmente, quando elas andam a arrastar e depois isto ainda é um tema tabu. Não falam muito, andam ali a arrastar, e depois quando realmente decidem resolver o problema, se calhar com 20 e tal anos, já estão assim há três ou quatro anos, que é muito tempo para que depois se consiga resolver rapidamente.
(Na próxima semana celebra-se o Dia Mundial do Lipedema, razão mais-que-perfeita para falarmos sobre essa condição médica, também conhecida como a doença das pernas gordas. Não perca.)

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