Uma viagem exclusiva no Expresso do Oriente transporta-nos até Deauville, na Normandia, onde tudo começou para Gabrielle Chanel. Imersos na aura mística que envolve aquela cidade no norte de França, descobrimos três capítulos da fascinante vida da mulher que também revolucionou a Moda.
12 de setembro de 2018 às 12:00 Carolina Silva
Paris, Gare de Vaugirard. No momento em que coloco o pé no chão, sinto-me transportada, de imediato, para o início do século passado. Um jovem paquete, fardado com um casaco grená de botões dourados impecavelmente abotoados até ao pescoço, inclina-se para segurar com as luvas brancas a minha mala. Acompanha-me até ao comboio que nos levará até Deauville, no norte de França. Não é um comboio qualquer. À minha frente reluz a fachada azul debruada a ouro do Orient Express, o ícone das viagens de luxo, imortalizado em algumas obras da Literatura e do Cinema. A viagem faz-se ao som de piano, embalados pelo imaginário de uma história centenária, onde se desenrolaram tramas e por onde passaram as mais fascinantes figuras do século XX, reais e fictícias. Espiões, dignitários, artistas, czares, rainhas e presidentes, aristocratas, milionários e burgueses familiarizaram-se com a noção do globetrotting naquelas carruagens. Assim como uma jovem Gabrielle Chanel.
Como as memórias olfativas que perduram no tempo, também os lugares são simbólicos, representando capítulos da história de cada um de nós. Deauville, Biarritz e Veneza influenciaram uma parte da vida de Coco e inspiraram a criação de Les Eaux de Chanel, suaves brumas perfumadas envoltas em ingredientes inebriantes e delicados.
Paris-Deauville
O virar do século XIX foi uma época de felicidade: a guerra Franco-Prussiana havia terminado, a Exposição Universal de 1900, em Paris, deixara um rasto de entusiasmo e com o progresso técnico e industrial chegavam as mudanças socioculturais. A Europa vivia o auge de uma Belle Époque, livre e despreocupada, com um lifestyle refrescante, marcado pelos dias de ócio na praia e pela prática de desportos ao ar livre. Foi neste clima que Deauville veria nascer a primeira história de empreendedorismo no feminino: a de Coco Chanel. Dois anos depois de abrir a sua loja de chapéus, na Cidade Luz, chega a Deauville pelo braço do seu amante, Boy Capel, em 2012, e não tarda muito a dar o próximo passo para consolidar o seu nome: em 2013, abre a sua primeira boutique store. Ali imagina as silhuetas em jersey e desenvolve o gosto pelo corte masculino. Ali criou também a moda desportiva, antecipando uma nova era em que as mulheres ansiavam por liberdade. Foi esta frescura campestre da Normandia banhada pela energia da brisa marítima que inspirou a primeira Eau: Paris-Deauville. "Mais do que o destino na sua própria realidade, gostei da ideia do sonho de um fim de semana verde. Procurei capturar a promessa de um passeio pelo meio da relva alta", explica o nez Olivier Polge. Dominam a flor de laranjeira envolta num aromático manjericão e na floral essência de rosa.
Estamos em 1915 e enquanto a energia generalizada é distinta da de Deauville, Gabrielle mantém o seu espírito revolucionário aceso. Com o eclodir da I Guerra Mundial, a alta sociedade parisiense muda-se para a costa atlântica, local de eleição da imperatriz Eugenia, no século XIX. Boy Capel acompanha novamente Coco nesta aventura, num ano marcado pela emancipação feminina e pelo movimento sufragista. Entre o casino e a praia, descobre a sumptuosaVilla Larralde, contrata 60 costureiras, pede ajuda à irmã Antoinette e abre, ali, as portas da sua primeira Couture House. Aplaudida pela imprensa e admirada pelas senhoras mais elegantes, a loja foi um sucesso imediato. Quando a guerra termina, Chanel já emprega 300 pessoas entre Paris, Deauville e Biarritz, o lugar onde a sua reputação se consolidou, contribuindo para a sua total independência e autonomia financeira. Olivier Polge inspirou-se nesta liberdade para construir a mais aquática das águas perfumadas, rendendo-se à mandarina que envolveu em notas tónicas almiscaradas.
Em 1920, ainda debilitada devido à inesperada morte de Capel, Coco viaja até Veneza na companhia da sua melhor amiga, Misia, e de José-Maria Sert, que lhe revelou a magia e os mistérios daquela cidade. Com ele aprendeu sobre os diferentes estilos artísticos, acerca das cores de Tintoretto e sobre os símbolos da cidade. Os cristais, as medalhas e as cruzes, os debruados a dourado, o leão como emblema da cidade e os mais diversos símbolos do Barroco refletem-se nos anos que se seguem nas suas criações. É a sua ligação ao Oriente, motivo pelo qual foi esta a cidade que inspirou a mais citadina das três fragrâncias. O neroli, os frutos vermelhos, íris e gerânio de Grasse acrescentam um final poudré delicadamente envolvente.
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Les Eaux de Chanel Paris-Biarritz, 125 ml, €125, Chanel
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Les Eaux de Chanel Paris-Deauville, 125 ml, €125, Chanel
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Les Eaux de Chanel Paris-Veneza, 125 ml, €125, Chanel
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