Poder no feminino

Regressámos a Nova Iorque para falar com Karlie Kloss, a propósito da nova fragrância Good Girl Eau de Parfum Légère. Para tanto, tivemos a oportunidade de jantar com Karlie, com Carolina Herrera e com a filha desta e rendemo-nos ao encanto do novo capítulo do perfume Good Girl. Uma história escrita por mulheres, sobre mulheres, para mulheres. Tudo num raro ambiente intimista.

04 de junho de 2018 às 14:00 Carolina Silva

"Garanto que vai ser um jantar diferente, ainda mais intimista." Carolina Herrera de Baez, filha de Carolina Herrera, pisca-me o olho, sorrindo, enquanto aponta para a cadeira à frente da dela, no grande salão da Harold Pratt House. Já tivéramos a oportunidade de conversar, em ocasiões anteriores, e a última vez aconteceu há cerca de dois anos. Nova Iorque desvendara o primeiro capítulo de uma história que se antecipava de sucesso, o perfume Good Girl. "Superou as minhas expectativas", confessou a diretora criativa de perfumaria Carolina Herrera. Good Girl foi, na verdade, um perfume lançado com estrondo, tornou-se um clássico em pouco tempo e subiu ao pódio dos perfumes mais vendidos em todo o mundo, em algumas semanas. A oportunidade de lançar uma nova fragrância sob a forma de uma eau de parfum légère, mais fresca e ousada, constituiu a ocasião perfeita para voltar a juntar, numa sala, os nomes icónicos desta saga para um jantar "à antiga", como disse Ms. Herrera. Isto sem telemóveis e em mesas intimistas, onde a conversa foi fluida e os risos se sobrepuseram aos habituais disparos das máquinas fotográficas. A Máxima foi convidada para a mesa de Carolina Herrera, onde tiveram lugar mais duas revistas espanholas. No final, Karlie Kloss, Carolina Herrera e a filha sentaram-se à lareira para conversar sobre as curiosas perguntas formuladas pelos poucos jornalistas e celebridades presentes e contidas em envelopes fechados. Sem papas na língua e "divertidamente, como antigamente", diria a fascinante Ms. Herrera. Eis, então, a nossa conversa com a modelo Karlie Kloss, uma das razões que nos levou à cidade que nunca dorme.

Este último ano tem sido muito mediático em relação ao empoderamento das mulheres e ao abuso que tem vindo a público nas indústrias do Cinema e da Moda. Qual é a sua opinião sobre todas estas questões e denúncias?

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Acho que tem sido um ano muito interessante e importante, nesse sentido. É essencial que se revelem determinadas situações e que se tenham conversas produtivas sobre o que se tem passado. Pessoalmente, e nos meus dez anos nesta indústria, nunca tive uma experiência ou interação que tenha sido abusiva, mas, certamente, não quer dizer que não exista. O primeiro passo para mudar a nossa indústria é haver esta consciencialização. A indústria da moda pode ser muito melhor e, ligeiramente, começam a ver-se algumas mudanças, como o aumento da diversidade nas passerelles e nas produções de moda, mais diversidade de forma também. Há tantas facetas diferentes nas quais devemos fazer por superar-nos sempre, principalmente porque a indústria da moda e da beleza influenciam muitas pessoas. Estarmos a confrontar estas questões é o primeiro passo para a mudança.

Muito tem sido dito sobre a falta de compatibilidade entre a Moda e o Feminismo, inclusivamente que ainda há "espartilhos" para a liberdade da mulher. Qual é, para si, a maior mensagem que a Moda deve transmitir?

Sou uma otimista e acho que parte do poder e da força das mulheres vem, precisamente, de utilizarmos a feminilidade como uma força e não como uma fraqueza. Não acredito que usar stilettos, por exemplo, torne uma mulher menos inteligente, menos capaz ou menos trabalhadora. O poder do stiletto, para mim, tem a ver com a maneira como ele faz com que uma mulher se sinta. Eu adoro usar saltos, embora seja tão alta... Sinto que são a minha capa de Supermulher e sinto-me mais poderosa quando os uso. Por isso, apesar da palavra Feminismo representar coisas diferentes para tantas pessoas, acho mesmo que a Moda pode ajudar na confiança, e é esse o papel de poder que devemos atribuir à Moda. Não salva vidas, é verdade, mas também não tem de ser algo tão trivial. A Moda deve ser vista como uma adição ao poder feminino e não como uma subvalorização.

Como é um dia normal na sua vida, Karlie Kloss?

Sinto que não tenho um dia normal. Aliás, eu não tenho nada de normal porque estou sempre a correr para tudo… Mas onde quer que eu esteja, seja na Paris Fashion Week, ou aqui, em Nova Iorque, ou em Los Angeles, eu tento sempre começar o meu dia com exercício. Também valorizo muito dormir [risos]. É mesmo o melhor segredo de Beleza e o melhor para tudo: para a pele, para o cérebro, para o corpo… Depois do exercício gosto de despachar os e-mails e os telefonemas que estão pendentes. E como estudo na New York U – estudo várias disciplinas em part time, como Feminismo, Ciências Informáticas, Inglês, Escrita –, os meus dias são todos diferentes. O que tento manter sempre consistente é tomar conta de mim, seja com desporto, ligar à minha mãe ou comer biscoitos vegan deliciosos…

A Karlie tem uma ética profissional reconhecida e demonstra-o em diversos projetos. Como é que concilia tudo e mantém esta ética, diariamente?

Herdei a ética profissional do meu pai. Ele é um médico das Urgências [hospitalares] e eu e as minhas três irmãs crescemos a vê-lo trabalhar durante a noite. Sempre admirei o quanto ele trabalhava para sustentar a família e a minha mãe também trabalhava imenso e criou quatro filhas. Sempre me senti privilegiada por ter tantas oportunidades. Quando eu tinha 15 anos foi-me dada esta responsabilidade [na carreira de modelo] e sempre tive bem presente que nós recebemos aquilo que damos, seja nas relações pessoais ou no trabalho. E também adoro o que faço. Sou muito afortunada. Tenho muitos projetos nos quais adoro trabalhar e sinto-me energizada com muitos deles como as meninas dos Koding Camps (kodewithklossy.com). Vejo que elas vão mesmo mudar o mundo e fico muito entusiasmada. E tenho 25 anos [risos]… Há tanto que quero fazer. Olho para a Ms. Herrera e fico fascinada.

                                                                         

Na sua opinião, como é que uma fragrância pode dar poder às mulheres?

Esta [a Goog Girl] tem uma mensagem, em particular, que é muito poderosa, na minha opinião. Representa a dualidade das mulheres… Podemos gostar de usar e de cultivar a nossa beleza, mas não é apenas isso, são apenas maneiras de nos sentirmos a melhor versão de nós próprias e é isso que as fragrâncias adicionam. E a Carolina Herrera e as suas filhas representam, na perfeição, estas mulheres modernas que fazem um pouco de tudo e são muitas coisas, em simultâneo. O perfume é o complemento perfeito de qualquer visual.

Nos seus sonhos mais loucos, onde é que se vê no futuro?

É engraçado porque nos últimos anos, desde que entrei nos 20 [anos], tenho aprendido muito mais: a ser uma líder, a ser uma chefe, a crescer e a identificar o que é que gosto. Acho que tenho uma mente aberta em relação ao futuro e vou seguir o meu instinto. Não quero ceder à pressão de ter de saber já o que é que quero. Sinto que tudo é possível.

Foi considerada a "millennial modelo" e uma das pessoas mais influentes pela Time Magazine. Como é que se constrói uma reputação tão boa com apenas 25 anos?

Tudo isto aconteceu devido a muita sorte, a um timing perfeito! Há uma frase de Thomas Jefferson que adoro: "A sorte é uma combinação de trabalho árduo e de oportunidade." Acho que é mesmo isto… Eu estive no sítio certo à hora certa e sinto-me muito sortuda. Tenho uma família fantástica que me ajuda e apoia em tudo. Sou como qualquer rapariga de 25 anos [risos] e estou só a tentar descobrir quem sou.

 

As cinco facetas de todas as Good Girls, segundo Carolina Herrera

  1.   Graça. Porque o modo como nos movemos define quem somos.
  2.   Leveza. Um talento magnético que nos permite brilhar e emanar a nossa natureza magnética e esconder aquilo que não desejamos revelar.
  3.   Ingenuidade. Sinónimo de liberdade criativa e o que nos permite equilibrar a nossa dualidade.
  4.   Carisma. O que nos torna únicas e permite que inspiremos os outros através de ideias e de pensamentos.
  5.   Mistério. Porque é "uma das mais importantes qualidades que uma mulher pode possuir. Um livro aberto é aborrecido".

 

#GoodToBeBad

A perfumista Louise Turner e Carolina Herrera de Baez revelam-nos o processo por detrás desta segunda peça no "guarda-roupa" Good Girl, um oriental floral construído à volta do jasmim sambac imperial e do absolu de tonka.

"Uma eau de parfum costuma ser mais concentrada do que uma eau de toilette e não confundamos as duas porque esta eau légère continua a ser uma eau de parfum. O nome expressa, apenas, uma fórmula mais luminosa e transparente. Não é por ser mais diluída. É um novo ângulo e para concretizá-lo usei uma nova qualidade de jasmim. É um jasmim sambac imperial brilhante." Louise Turner

"O Good Girl é baseado na dualidade da mulher, com o jasmim e o tonka a revelar estas duas facetas. Nesta versão utilizamos outro tipo de jasmim, mais brilhante e proveniente da China.Não imaginámos que o primeiro seria este sucesso… Sabíamos que tínhamos um conceito vencedor, mas não a este nível. Por isso, agora, já estamos a trabalhar no Good Girl Closet." Carolina Herrera de Baez

 

1 de 4 Good Girl Eau de Parfum Légère, €113,40, Carolina Herrera
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2 de 4 Karlie Kloss
3 de 4 Carolina Herrera de Baez
4 de 4 Louise Turner
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