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Beleza

Será o plástico o bode expiatório da indústria de beleza?

Quando se fala em produtos mais sustentáveis o principal acusado é o plástico. Será assim tão linear?

Foto: @IMDB/ O Diabo veste Prada
09 de outubro de 2024 às 19:27 Lara Duarte / Com Rita Silva Avelar

Plástico faz mal ao ambiente. Ponto assente. Não há dúvida que um material de origem fóssil (98% do plástico é produzido a partir de combustíveis fósseis, de acordo com dados de um estudo feito pela Universidade de Lund) resulta num problema para o ambiente.  De acordo com o relatório de 2022 da Zero Waste Week, as embalagens de produtos de beleza formam 120 mil milhões de unidades de desperdício anualmente, de todo o tipo de materiais. No entanto, na indústria de Beleza as alternativas podem não ser necessariamente melhores, apesar de serem publicitadas como tal.

Foto: Pexels

Em primeiro lugar, o consumo de água necessário para produzir outros materiais preocupam os ambientalistas. No processo de partir da madeira para criar papel são utilizados (e desperdiçados) milhares de litros de água: para comparação, uma folha de papel A4 utiliza 10 litros de água na sua produção. Na produção de plástico a utilização de água é menor e é reutilizada.

A possibilidade de reciclagem e reutilização de todo o tipo de embalagens é, naturalmente, um assunto recorrente. As tantas embalagens que se denominam como amigas do ambiente por poderem ser reutilizadas como um copo ou como um vaso não são necessariamente utilizadas dessa maneira e podem acabar por ser descartadas como tantas outras. O plástico acaba por ser o material mais reciclado, mesmo sendo uma pequena percentagem. Quando são utilizadas alternativas a este material, as embalagens precisam de algum tipo de camada que a impermeabilize, mantenha flexível e com a cor desejada, que fazem, a maior parte das vezes, com que estes deixem de ser recicláveis. Esta camada provém também, muitas vezes, das mesmas fontes que o plástico ou de outros químicos nocivos. É importante notar que o plástico preto não é reciclável e pode conter e até largar componentes tóxicos.

O custo e impacto ambiental dos transportes de mercadorias têm sido, finalmente, abordados nos anos mais recentes e, neste caso, o plástico ganha também aos seus concorrentes. Por ser mais leve, o plástico requer menos energia, reduzindo a sua pegada de carbono.

Por fim, comparado com o plástico que embala alimentos, o que envolve produtos de beleza tem um maior ciclo de vida. A maior parte do tempo que um produto de beleza "vive" passa-se numa prateleira, seja de uma loja, seja do nosso quarto ou casa de banho. Assim, a durabilidade do material é uma importante questão na balança do maior vilão das opções. Será que é preferível comprar um produto que dure mais e seja mais poluente à partida ou comprar mais frequentemente um produto menos poluente? O consumismo, normalmente, perde neste caso e a durabilidade ganha.

Aliás, o consumismo não é o bode expiatório que substitui o plástico, mas o consumismo excessivo, esse sim, é o inimigo do ambiente.

Numa era em que as tendências passam muito rapidamente e são disseminadas, por vezes, numa questão de poucos dias, os produtos de beleza são os mais facilmente adquiridos pelas massas. Tours pelas coleções de maquilhagem, reviews de novos produtos, marketing baseado nas embalagens e procuras incessantes por dupes, que no fundo são só imitações de produtos de gama mais alta a um preço mais baixo, incentivam o consumo a um ritmo desenfreado destes produtos a partir das redes sociais. Em roupa ou acessórios a marca serve como um símbolo de estatuto, mas um produto de beleza perde a distinção óbvia se é ou não uma imitação (um dupe) assim que se sai de casa com ele na pele. Através de dupes muito mais pessoas, independentemente do seu poder de compra, conseguem participar numa micro-tendência. O resultado são armários recheados de produtos - se é preciso um armário e se é possível organizar os produtos por cores ou por marca é consumismo excessivo, ninguém precisa de tantos produtos.

Por enquanto, pensar nos nossos hábitos de consumo, tentar mantermo-nos informados acerca da melhor maneira de reciclar certas embalagens, conforme as normas locais, comprar, quando possível, bioplásticos em alternativa aos convencionais e informarmo-nos mais a fundo acerca de campanhas de sustentabilidade são o que pode ajudar mais o planeta ao nível de consumidor.

Os progressos são lentos e insuficientes, mas programas de reciclagem e devolução diretamente nas marcas e sistemas de recarga de produtos podem ser os passos para um futuro melhor e mais responsável. Chris DeArmitt, no seu livro O Paradoxo do Plástico, declara que "a melhor escolha é a que causa menos danos". No fundo, na indústria da Beleza, mas não só, não existem soluções perfeitas e não poluentes.

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