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Vacinação: os mitos e as explicações verdadeiras

Mário Cordeiro desconstrói, com convicção, os mais perigosos mitos que são utilizados pelos militantes antivacinas para justificar a sua recusa da vacinação.

20 de novembro de 2017 às 07:00 Isabel Stilwell

Não tem ilusão de que dificilmente sensibilizará aqueles que se recusam a escutar os argumentos contrários ou a debater as questões, preferindo enredar-se em teias de paranóia que encontram sempre interesses escondidos em quem não pensa como eles. Não é a esses que se dirige, mas à imensa maioria que quer fazer o melhor pelos seus filhos. Aqui ficam alguns.

As melhorias das condições de higiene e sanitárias fizeram desaparecer as doenças e, portanto, não há necessidade de vacinar, mas sim de investir em infraestruturas...

Falso. Enganosamente falso, escreve Mário Cordeiro. As doenças evitáveis pela vacinação foram controladas ou desapareceram porque se vacinou em massa. E se é evidente que condições de higiene são fundamentais para tudo, recorda que nos países com condições sanitárias terríveis foi possível erradicar, por exemplo, a varíola ou controlar a poliomielite, mesmo sem água corrente e com esgotos a céu aberto – isto graças apenas às vacinas.

As vacinas têm imensos efeitos secundários e, até, alguns a longo prazo que não se conhecem. Há pessoas que dizem que podem causar cancro e matar.

Mário Cordeiro responde: falso, rotundamente falso. As vacinas são extraordinariamente seguras, confirma, mais seguras ainda do que os medicamentos, em geral. Todos os estudos e dados estatísticos o comprovam. Podem, obviamente, causar reacções, mas são leves e temporárias, como dor no local da injecção ou febre ligeira. Mas, conforme escreve, as vacinas são inofensivas. O risco de uma criança ter uma reacção adversa a uma vacina é muito, mas mesmo muito inferior ao risco de uma complicação grave das doenças que essa vacina previne. As vacinas, tal como qualquer medicamento, são alvo de um sistema de vigilância apertado, garantindo que qualquer reacção anormal seja exaustivamente investigada, o que com tantos anos de experiência e muitos milhões – sim, centenas de milhões! – de vacinas administradas, em todo o mundo, permite afirmar que as vacinas têm um grau elevado de segurança, eficácia e qualidade. O sistema está tão bem gizado, garante Mário Cordeiro, que a notificação oficial de reacções adversas pelos profissionais de saúde é obrigatória.

As vacinas podem causar a síndrome da morte súbita do lactente...

Mário Cordeiro esclarece que essa síndrome nada tem a ver com as vacinas, embora, quando se começou a estudar a síndrome, a hipótese de associação tivesse academicamente de ser colocada, como o foi em relação a tudo o que se passava na vida dos bebés dessa idade. Constatou-se que não era o caso e que não havia qualquer relação entre uma e outra. E explica: aliás, desde que há mais de 25 anos se decidiu que as crianças deviam dormir de barriga para cima, a síndrome diminuiu para um quarto... e a percentagem de vacinação, entretanto, aumentou. Então, se fosse verdade, agora deveriam morrer muito mais bebés com morte súbita, o que não acontece.

A administração simultânea de várias vacinas pode aumentar o risco de efeitos secundários e sobrecarregar o sistema imunitário, abrindo portas a outras doenças.

Falso! Cientificamente falso, declara Mário Cordeiro. Todos os estudos científicos mostram que a administração simultânea de vacinas não causa qualquer problema, dado que a imunidade dos bebés e crianças é estimulada por inúmeros vírus e bactérias com os quais eles contactam, designadamente quando os pais lhes dão beijinhos.

O simples acto de ingerir um alimento provoca respostas imunitárias muito maiores do que uma vacina – aliás, a maioria das bactérias vive na boca e não na seringa da vacina, onde não há bactérias! Um dos objectivos do PNV é a protecção precoce. Esperar por tempos mais tardios seria a inutilidade total... e a morte de muitas crianças.

Se ter as doenças faz com que a pessoa fique defendida para a vida toda, então é melhor ter a doença do que vacinar com vírus atenuados e coisas do género, não?

Mais um mito falso, confirma. A "pequena" grande diferença é que, diz, enquanto a doença causa imunidade, de facto, a mesma pode levar a consequências desastrosas e à morte. Para lá dos dias em que se está doente, a vacina desenvolve a mesma imunidade, mas sem essa parte indesejável. Assim sendo, não se percebe este mito. A vacinação é segura porque é controlada, estudada, "feita à medida" do que o sistema imunitário pode e não, como a doença, com um carácter aleatório e, por vezes, brutal.

As vacinas causam autismo. Toda a gente sabe e até tenho um sobrinho que...

Mário Cordeiro explica que a origem deste mito está num estudo, de 1988, que suscitou inquietação acerca de uma possível relação entre a vacina anti-sarampo, parotidite e rubéola (VASPR) e o autismo, o que era uma fraude. O autor foi obrigado a retractar-se e a deixar de exercer medicina. Mas não foi o único: Andrew Jeremy Wakefield (médico gastroenterologista, Eton, Reino Unido, 1957) forjou, em 1998, os resultados de um pretenso estudo em que relacionava também a VASPR com o autismo, o qual chegou a ser publicado na revista científica Lancet. Isso provocou celeuma, mesmo depois de se ter descoberto que era tudo falso e de a revista ter apresentado desculpas. Esse médico acabou por ser erradicado da respectiva ordem. Mas o mal estava feito. Depois, foi a vez de Robert de Niro, pai de uma criança autista, dar voz a esta relação entre a doença e as vacinas, provavelmente para tentar ter uma explicação para o infortúnio do filho e, com isso, levou a que milhares de crianças não fossem vacinadas e muitas tivessem morrido.

Como toda a gente se vacina, escuso de vacinar o meu filho... Assim, não tenho nem a doença, nem os eventuais efeitos secundários da vacina...

Este é um mito que enfurece ainda mais o pediatra. "Falso! Arriscado, traiçoeiro e horrendamente egoísta!", escreve. "Quem pensa assim, pensa errado, por várias razões, entre as quais ser de um enorme egoísmo querer que os outros nos protejam e que nós não façamos o mesmo, dado que não estaremos a contribuir para a imunidade de grupo." E adianta: "A recusa individual da vacinação compromete o interesse colectivo, já que uma criança não vacinada por opção dos pais se adoecer pode contagiar outras crianças não vacinadas por contra-indicação médica comprovada ou por ainda não terem idade para ter iniciado ou completado a vacinação." Desfaz, ainda, a ideia de que essa criança está a salvo, já que é muito provável que ela, mais cedo ou mais tarde, viaje para países onde as doenças ainda são endémicas ou entre em contacto com alguém que seja proveniente de um desses países. E recorda que quem opta por não vacinar os filhos deve estar bem ciente que está a fazê-los correr riscos desnecessários quanto à saúde e quanto à vida.

Os ministérios da Saúde estão feitos com as multinacionais, com a alta finança e com os países ricos que exploram os mais pobres. Aliás, são as multinacionais que disseminam as doenças para depois venderem medicamentos e vacinas.

A afirmação é falsa, escreve Mário Cordeiro, e se não fosse tão grave, até dava para rir. E pergunta: "E nos séculos XIII, XIV, XV e XVI quando houve epidemias de peste negra, tuberculose, sífilis ou gripe ‘espanhola’, esta já em 1918, para só citar algumas, eram seguramente os índios americanos, organizados em multinacionais (apesar de não haver aviões, nem Internet) que as provocavam." Não tem dúvida de que "se o ridículo matasse, haveria muita gente que já se tinha ido", mas lamenta que, com base nestes mitos e fake news, muitas pessoas de carne e osso morrem porque acreditaram nos profetas que dizem as maiores mentiras impunemente. É óbvio, afirma, que uma multinacional que fabrica vacinas quer recuperar o investimento de milhões que fez, mas recorda que isso acontece tanto com vacinas como com sapatos ou lâmpadas. Não vacinar um filho com base em histórias como estas é que não lhe parece admissível.   

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