O nosso website armazena cookies no seu equipamento que são utilizados para assegurar funcionalidades que lhe permitem uma melhor experiência de navegação e utilização. Ao prosseguir com a navegação está a consentir a sua utilização. Para saber mais sobre cookies ou para os desativar consulte a Politica de Cookies Medialivre
Atual

Uma miragem de Evoramonte

Existe a capital do azeite, do mel, do vinho… Evoramonte tem tudo isso, mas ser a capital da convenção de paz é o que mais orgulha os evoramontenses. Passámos uma manhã neste destino idílico no coração do Alentejo.

28 de setembro de 2018 às 07:00 Rita Silva Avelar

Que Portugal e as suas regiões tão diversas, de Norte a Sul, são de uma beleza natural e de uma riqueza histórica inigualável e única, não temos dúvidas. E que ainda existem sítios recônditos e belos, cujo silêncio anda lado a lado com os sons da Natureza, também não. Evoramonte é a prova disso. Perto de Évora, esta é uma pequena freguesia alentejana do concelho de Estremoz, localizada no alto de uma colina e envolvida pelas muralhas de um castelo. Foi até este tranquilo recanto no Alto Alentejo que rumámos para descobrir as maravilhas da região, mas sobretudo conhecer a história de um sítio em particular: o turismo local The Place at Evoramonte. Comprado em 2013 por Vicky e Mitch Webber, ela escocesa, ele sul-africano, foi o sítio escolhido para dar lugar a um espaço com vista para a paisagem belíssima que rodeia esta pequena povoação.

Vicki e Mitch conheceram-se no final dos anos 90 e, desde então, viajaram juntos por mais de 45 países, tendo vivido quatro anos na Tailândia. Mas sempre pensaram que, com a reforma, chegaria o regresso à Escócia natal. Quando isso, finalmente, aconteceu, rapidamente perceberam que precisavam de mais sol do que as terras escocesas podiam oferecer. A caminho de umas férias na Arábia Saudita, Vicki e Mitch passaram então por Portugal e apaixonaram-se pela beleza do país, pelas paisagens, pelas cidades, pelo sol, pela história e, principalmente, pelas pessoas. Ao passar, um dia, por Evoramonte descobriram que o sítio que hoje é de ambos estava para venda. Não pensaram duas vezes. Venderam a casa natal e compram o seu destino, o seu lugar de sonho para viver. Afinal, este local era um celeiro com uma simples fachada, datada do século XVII, fundado a 21 de janeiro de 1642, por alvará de D. João IV e a pedido dos evoramontenses.

A história do nome dado por Mitch e Vicky ao alojamento que é também a casa de ambos é peculiar. "Estávamos sempre a dizer aos empreiteiros ou aos pintores que nos encontrávamos a certa hora no ‘sítio’. No ‘sítio’ isto, no ‘sítio’ aquilo. Quando chegaram os papéis que oficializavam o turismo, decidimos chamar-lhe The Place at Evoramonte. Afinal, já era o nome", explica Mitch, que serve um almoço cuja inspiração provém do mundo inteiro. O casal tem um restaurante com uma carta baseada em receitas criadas pelos dois, porque, segundo eles, "não vale a pena tentar o que as gentes de Evoramonte sabem tão bem confecionar, como os pratos tradicionais alentejanos". Chega-nos assim à mesa um prato de abóbora da Tailândia com pato cozinhado com cerca de 16 especiarias, como chilli, limão ou coentros.

Mas as delícias deste espaço não se resumem ao restaurante-café. Os quatro quartos do The Place at Evoramonte têm uma cama com vista para a paisagem para lá das muralhas que circundam a pequena aldeia e estão decorados com uma mistura da cultura que Vicky e Mitch beberam do mundo e das referências locais, como os azulejos árabes que tanto se encontram no Alentejo.

É também aqui, em Evoramonte, que a jovem Matilde da Câmara Ruas lançou (com a mãe como sócia) o projeto Andar a Monte. Trata-se de uma agência turística que pretende dar a conhecer o melhor da região, focando-se em contar a história de Evoramonte e em dar a conhecer as tradições alentejanas ao realizar workshops de ervas aromáticas que dão origem a óleos essenciais ou a cremes, à aprendizagem da extração de cortiça, à experiência de estar nos olivais e fazer azeite. "Queremos que as pessoas vão à horta connosco e que depois façamos umas sopas de tomate, ou de beldroegas, ou de labaças… Usarmos os nossos recursos e tentarmos que as pessoas passem um bom bocado connosco", explica Matilde, cujo escritório da Andar a Monte lhes foi cedido pelo presidente da junta de freguesia, António Ganhão Serrano, que nos acompanha nesta visita. Passeamos pela grande atração de Evoramonte, um dos raros castelos portugueses com uma arquitetura muito particular, mandado erguer nos inícios do século XVI pelos primeiros duques de Bragança, D. Teodósio e D. Jaime. Apesar de ser várias vezes dito que foi neste castelo que a Convenção de Evoramonte foi assinada (pelo duque de Terceira e pelo general Saldanha pelo lado de D. Pedro e pelo general Azevedo Lemos pelo lado de D. Miguel), a verdade é que esta foi assinada numa pequena casa perto do castelo. A convenção não só se traduziu no fim de um período sangrento da História de Portugal – as conhecidas Guerras Liberais –, mas também o início de um dos períodos de maior desenvolvimento político, económico e social.

Outra das atividades que é possível fazer em Evoramonte é birdwatching. Jorge Safara, que detém o projeto Birdwatch in Alentejo, explica que em Evoramonte é possível ver mais de sessenta espécies de pássaros num dia, como, aliás, já aconteceu.

Durante a passagem por Evoramonte é ainda impossível não reparar nas pequenas pedras da calçada pintadas com casinhas típicas do Alentejo, nos tons de azul e amarelo, predominantemente. É um projeto de Inocência Lopes, artesã local que pintou à mão 100 pedras da calçada numeradas, chamando-se as ‘Pedras de Evoramonte’. Estas pedras têm a sua versão ‘recordação’ na loja de artesanato local que Inocência abriu há 14 anos, a Celeiro Comum, que fica na rua principal desta aldeia.

Por fim, o pôr do sol nos terraços e varandas do The Place é o fim de tarde perfeito, acompanhado dos melhores sabores alentejanos como os queijos e enchidos que exigem a companhia dos excelentes vinhos da região, como o Canto Décimo ou o Abelharuco. As palavras de ordem em Evoramonte são, no fim de contas, "sopas e descanso".

1 de 28
2 de 28
3 de 28
4 de 28
5 de 28
6 de 28
7 de 28
8 de 28
9 de 28
10 de 28
11 de 28
12 de 28
13 de 28
14 de 28
15 de 28
16 de 28
17 de 28
18 de 28
19 de 28
20 de 28
21 de 28
22 de 28
23 de 28
24 de 28
25 de 28
26 de 28
27 de 28
28 de 28
Leia também
As Mais Lidas