Teresa Costa Macedo. A mulher que foi uma peça essencial do Processo Casa Pia
Morreu, aos 82 anos, a ex-Secretária de Estado da Família nos governos de Francisco Sá Carneiro e Francisco Pinto Balsemão. Estava internada no hospital de Santa Cruz e não resistiu a uma infeção pulmonar.

Teresa Costa Macedo, que integrou como secretária de Estado da Família os governos de Francisco Sá Carneiro (1980-1981) e Francisco Pinto Balsemão (1981 e 1981-1983), e atual presidente da Confederação Nacional das Associações de Família, morreu esta quinta-feira, dia 15 de maio, aos 82 anos, adiantou à Lusa fonte próxima da família. Teresa Costa Macedo estava internada no hospital de Santa Cruz, em Lisboa, devido a uma infeção pulmonar.
Nasceu a 19 de janeiro de 1943, em Arcos de Anadia, filha de Fausto Sampaio, famoso pintor naturalista português. Casou com Carlos da Costa Macedo e teve quatro filhos e cinco netos. Licenciada em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, foi vice-presidente da União Europeia Feminina e membro do Comité Económico e Social da União Europeia.

De acordo com a sua biografia no portal Wikipédia, em setembro de 1980, no âmbito do 1º Sínodo da Família, é "o único membro de governo do mundo a ser convidada para nele participar, seguindo-se o convite para colaborar com o Comité para a Família (atual Conselho Pontifício para a Família)". "Tendo sido confirmada por Sua Santidade Bento XVI e Sua Santidade Francisco, é o único membro leigo português nos Dicastérios do Vaticano", pode ler-se.
Foi também presidente da Mission Europa, com sede em Genebra, vice-presidente do Conselho das Associações da Europa, com sede em Bruxelas, e vice-presidente do Observatório Mundial da Vida Associativa, com sede em Genebra, e ocupou diversos cargos nacionais e internacionais ligados à área da Família.


Em 10 de junho de 1992, recebeu a Grande-Oficial da Ordem do Mérito, que lhe foi atribuída pelo então Presidente da República, Mário Soares, e, em 11 de março de 2000, a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, atrubuída por Jorge Sampaio.
A sua vida não esteve isenta de polémicas. Houve um tempo em que viveu, em quase permanência, na sala de estar dos portugueses, sendo presença assídua nos telejornais por causa do Processo Casa Pia. O escândalo do abuso sexual de menores foi denunciado pela jornalista Felícia Cabrita, no semanário Expresso, em novembro de 2002. Quatro anos depois, quando o caso, que começou a ser julgado em novembro de 2004, envolvendo diversas figuras públicas, corria em tribunal, a jornalista disse, durante o julgamento, que Teresa Costa Macedo tinha sido uma das suas fontes.
De acordo com o jornal Público, Cabrita terá dito que Costa Macedo "lhe indicou, baseada em relatórios dos anos 80, uma lista de figuras públicas que, de forma organizada, tentaram obter miúdos da Casa Pia para encontros sexuais". Dessa lista, algumas pessoas foram formalmente acusadas, mas outras não. Teresa Costa Macedo desmente que alguma vez tenha feito chegar quaisquer informações a Felícia Cabrita e, ainda de acordo com o jornal diário, diz também ser "falso que tivesse em seu poder quaisquer nomes ou listas de nomes de pessoas pretensamente implicadas" em atos de abuso sexual de menores.

Pouco depois, porém, Felícia Cabrita apresentou em tribunal uma lista de nomes, manuscrita, que a jornalista garante ter-lhe sido entregue por Teresa Costa Macedo, que volta a desmentir tê-lo feito, o que levou Cabrita a apresentar um processo contra a ex-Secretária de Estado por difamação. Em 2010, durante esse julgamento, e também ainda de acordo com o Público, "duas especialistas do laboratório de polícia científica da Polícia Judiciária ouvidas por videoconferência afirmaram ter considerado 'muito provável' que a letra com que foram escritos os nomes seja de Costa Macedo e não de Felícia Cabrita".
Em tribunal, a jornalista disse não compreender o "recuo" de Teresa Costa Macedo, afirmando que num primeiro contacto esta mostrou "total abertura" para revelar nomes de alegados pedófilos.
Talvez Teresa Costa Macedo tenha deixado um diário ou correspondência que, depois da sua morte, ajudem a esclarecer este período negro da história portuguesa recente e que, apesar de tudo, a ex-Secretária de Estado terá contribuído para que viesse a público.

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