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Atual

Quatro livros improváveis para ler agora

Seja através do olhar apurado de Mario Testino, em Ciao, através da narrativa trágica de Manuel Vilas, ou de uma história contada para crianças - estas são as novidades literárias do momento.

23 de junho de 2020 às 07:00 Rita Lúcio Martins

Uma ode a Itália

Itália é moda e estilo, é cultura e religião, é gastronomia e lifestyle. Itália é vida. Hoje, mais do que nunca, faz todo o sentido celebrar a dolce vita e é isso que este livro aborda. Ciao (Taschen) é um diário pessoal e profissional recheado de instantes mágicos, através dos quais o fotógrafo Mario Testino não só presta homenagem ao país, como revela as muitas facetas que o arrebataram ao longo das suas quatro décadas de carreira. Organizado em diferentes capítulos, contempla momentos de viagem (In Giro), de moda (Alla Moda) e de paisagem marítima (Al Mare), traçando a essência de um país cuja beleza não se desvaneceu com o tempo ou com os trágicos acontecimentos recentes. "Adoro a forma como os italianos conseguem transformar o último look em algo ainda mais novo, sem nunca comprometerem a sua identidade", afirma, salientando a capacidade de criação e de reinvenção daquele povo.

Natural do Peru, mas apaixonado por Itália, o fotógrafo – considerado um dos mais influentes no mundo da moda – revela aqui as suas influências e inspirações, contando com a colaboração do jornalista nova-iorquino Alain Elkann que, desde 1989, assina uma coluna semanal no La Stampa. Juntos desafiam-nos a embarcar numa viagem sensorial que se revela ainda mais preciosa em tempos de pandemia. Numa altura em que as viagens continuam em stand by e que o mercado editorial retoma lentamente a sua atividade, os coffee tables dedicados ao lifestyle ganham uma nova dimensão simbólica, transformando-se em janelas abertas para o mundo que, a partir dos nossos sofás, nos transportam para o muito que continua à espera lá fora.

Livros & podcasts

Quando o tempo escasseia há que rentabilizá-lo. Além dos audiolivros, também os podcasts oferecem valiosas pistas para quem gosta de explorar o mundo dos livros. Vale a pena espreitar os podcasts associados a publicações de referência em que os editores residentes convidam escritores e discutem obras e processos criativos – como são o The Book Review do The New York Times, o The New Yorker Fiction, o The Guardian Books Podcast ou o Freedom, Books, Flowers & the Moon do suplemento literário do The Times. Mas há muito mais do lado de lá da linha.

Blacklisted é um podcast que dá nova voz a livros antigos (e esquecidos); Black Chick Lit especializou-se em livros escritos por e para mulheres negras; Mostly Lit adota um registo descontraído, abordando temas mais próximos dos millennials; Hey Ya centra-se na literatura juvenil. Uma palavra especial para Moms Dont Have Time To Read Books, bem conduzido por Zibby Owens, escritora e mãe de quatro filhos, considerada como a mais poderosa influencer literária de Nova Iorque. Por cá, a oferta é mais escassa, mas meritória: Biblioteca de Bolso, de Inês Bernardo e de José Mário Silva, e À Volta dos Livros, uma conversa conduzida pela jornalista Ana Daniela Soares, na Antena 1 (para ouvir na RTP Play), são dois bons exemplos a seguir.

*Os podcasts referidos estão disponíveis em Apple Podcasts e/ou Google Podcasts

Para ler, agora

Depois da tempestade, a bonança. Após o sucesso de Em Tudo Havia Beleza, livro que comoveu e arrebatou leitores um pouco por todo o mundo, o espanhol Manuel Vilas regressa com E, de Repente, a Alegria (Alfaguara), um livro onde volta a mesclar ficção com autoexposição. Se na sua anterior obra, o escritor exorcizava as dores e perdas do passado, agora traz um grito de esperança e uma capacidade de reconstrução solar e contagiante, desafiando o momento pessimista que atravessamos. E numa altura em que muitos não resistem a comparar a realidade com um improvável cenário de ficção, os livros voltam a provar que, por vezes, as duas estão mais próximas do que poderíamos supor.

É o caso do novo romance de Samanta Schweblin, que o The New York Times classifica como o mais inquietante, mas também o mais realista da escritora argentina. Desde já incluído na primeira lista do Man Booker International Prize para 2020, Little Eyes imagina uma realidade, onde gadgets com formas de animais se transformam em pequenos seres, os kentuki, habitados por utilizadores que, de forma remota, mas real, entram na vida de um morador que – de forma aleatória – recebe o kentuki em casa. A estranheza depressa desemboca num mundo surreal, onde solidão e ligação são versos da mesma moeda e que depressa nos deixa a pensar se aquilo que parecia um cenário distópico não será apenas o preâmbulo da vida online, cujas possibilidades em tempos de confinamento se revelam surpreendentes.

O mundo, pelos olhos das crianças

Assinalámos o Dia Mundial da Criança com uma das mais recentes edições da Pato Lógico com uma história que, em tempos de confinamento, ganha uma leitura ainda mais especial. Primeiro Direito, um texto de Ricardo Henriques ilustrado por Nicolau, conta-nos a história de Graça, uma menina que, ao bom estilo hitchcockiano, gosta de observar pessoas e de inventar cenários a partir da janela de sua casa. Cores quentes e contornos policiais misturam-se numa espécie de remake muito livre de um clássico do cinema (o filme Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcock, de 1954), estimulando o espírito de observação, mas, sobretudo, a imaginação dos mais pequenos.

Ciao, Mario Testino (Taschen)
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E de repente, a alegria, de Manuel Vilas (Alfaguara)
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1º Direito, de Ricardo Henriques e Nicolau
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Little Eyes, de Samanta Schweblin
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