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Populistas e CEOs bilionários: alguns dos convidados VIP na investidura de Donald Trump

Bolsonaro não pôde ir porque lhe confiscaram o passaporte, mas André Ventura esteve, assim como Will Pope (quem?). Já AOC, por exemplo, afirmou publicamente que não põe os pés no Capitólio (mas porquê?). Calma, estamos aqui para explicar tudo.

Foto: Getty Images
20 de janeiro de 2025 às 18:05 Diego Armés

São 17h00 em Portugal continental quando o Presidente eleito Donald Trump toma posse como 47.º Presidente dos Estados Unidos da América, depois de, entre 2017 e 2021, ter exercido como 45.º Presidente dos EUA. Os americanos chamam ao ato e à cerimónia "inauguration", o que leva muitos portugueses a traduzir o momento para "inauguração". Por aqui, preferimos aportuguesar o momento e chamamos-lhe simplesmente "tomada de posse" ou "investidura".

À hora a que este texto é redigido, estão Donald Trump e a futura primeira-dama, Melania, em amena cavaqueira com o casal cessante, Joe e Jill Biden, em plena Casa Branca. É uma residência que muito bem conhecem, uma vez que foi a deles mesmos durante quatro anos - dir-se-ia que conhecem os cantos à casa, à exceção da Sala Oval. No primeiro mandato, o Presidente Trump marcou a diferença enquanto residente da Casa Branca por não ter um cão como animal de estimação, contrariando uma tradição que perdura há mais de um século entre os presidentes eleitos. Desta vez, em princípio, Donald Trump não terá nenhuma característica que cause surpresa entre o público, até porque o Presidente dificilmente fará alguma coisa capaz de causar surpresa - ao fim de tantos anos a observá-lo, sabemos bem que dele se pode esperar tudo, até o impensável.

Foto: Reuters

Depois da receção diplomática dos Biden aos Trump na Casa Branca, a cerimónia oficial decorre no interior do Capitólio, ao contrário do que costuma suceder durante as tomadas de posse presidenciais, em que os eleitos fazem o seu juramento e discurso inaugural diante do Capitólio e de frente para o National Mall, que costuma encher-se de pessoas a assistir. Desta vez, e por causa do frio, o rito solene terá lugar no interior do edifício-sede do poder legislativo, que alberga o Congresso, composto por Senado (Câmara Alta) e Câmara dos Representantes (Câmara Baixa).

Foto: Getty Images

Presenças de peso

Há dois tipos de pessoa que podemos esperar entre os convidados de Donald Trump para a sua investidura: líderes políticos de extrema-direita (ou da direita populista, ou ultra-conservadores - é escolher o termo que considerem mais apropriado) e bilionários e/ou CEOs de grandes companhias de tecnologia (incluam-se aqui as redes sociais).

Do primeiro grupo, o Presidente argentino Javier Milei e a primeira-ministra italiana Georgia Meloni são, talvez, as figuras de maior destaque - e não só, mas também, pela inigualável sonoridade dos apelidos em conjunto. A avaliar pela lista de promessas de Trump para os primeiros tempos de mandato, são duas figuras que decerto irão vibrar com a imposição de ideias como "America first" e com as políticas de contenção daquilo a que chamam "discurso woke" - no fundo, a subtração da visibilidade de grupos sociais diversos daquilo que os conservadores consideram "decente".

Poder-se-á acrescentar a este grupo o líder do Reform UK, Nigel Farage, e ainda, last but not least, a maior estrela portuguesa do espectro político mais chegado à direita, esse mesmo, o único e inimitável André Ventura. O líder do Chega, em franca ascensão entre os nacionalistas internacionais, foi convidado por Donald Trump para assistir à sessão solene. A sua presença na "inauguration" é, pelo menos para alguns, uma espécie de orgulho nacional.

Foto: Getty Images

Do lado dos bilionários não há muitas surpresas. Os convidados são exatamente aqueles que se esperava, uns porque financiaram a campanha de Trump com contribuições chorudas que têm vindo a revelar-se um excelente investimento, outros porque, embora com algum atraso, também perceberam que nunca é tarde para investir num Presidente de uma nação poderosa e decidiram assegurar o seu lugar na primeira plateia.

Elon Musk, homem mais rico do mundo, CEO da Tesla, governador absoluto do X (ex-Twitter), mentor da Space-X e, desde há uns meses, um dos melhores amigos de Donald Trump, é uma das presenças incontornáveis. Mas não é o único da sua indústria a marcar presença. Jeff Bezos, fundador da Amazon, também imensamente rico, embora com menos alguns milhares de milhões de euros de património, é outra das grandes figuras. Mark Zuckerberg, que anunciou publicamente que a sua Meta (Facebook e Instagram) deixaria de fazer fact-checking e que nas suas redes o discurso de ódio passaria a ser muito menos restritivo, sobretudo para com LGBTQI+, de ora em diante, foi também uma presença óbvia e inestimável. Tim Cook, da Apple, ShouChew, do TikTok - o TikTok que Trump irá reinstituir nos EUA depois de quatro anos a ameaçar bani-lo da nação! -, Sam Altman, da OpenAI, ou Sundar Pichai, da Google, são alguns dos outros presentes de relevo entre representantes das high-tech corps. Se o futuro está nestas tecnologias, importa notar que essas estão nas mãos de pessoas que são unha-com-carne com personagens como Farage e Ventura, Milei e Meloni, já para não falar do próprio Trump e seus acólitos. Fica a indicação.

Foto: Getty Images

Quem também esteve presente na tomada de posse foi Will Pope. Quem é Will Pope? Não, não é o ator, nem o músico indie-folk. É só um cidadão residente em Topeka, Kansas. E é um dos muitos que, incentivados por Donald Trump, invadiram o Capitólio, precisamente, no dia 6 de janeiro de 2021, contestando os resultados eleitorais que deram a vitória a Joe Biden nas eleições presidenciais de novembro de 2020. Pope foi acusado de "desordem civil", mas ainda não foi condenado por qualquer crime. Enquanto aguarda pelo desfecho do caso, vai, como outros na mesma situação, estar presente na tomada de posse do Presidente Trump. Na esperança de que, aproximando-se do poder, Trump lhe conceda o perdão presidencial. E é mais que certo que tal acontecerá. A ele e a todos os will-popes da América que forem ao beija-mão.

Ausências de vulto

Entre os ausentes, elegemos três nomes que, cada um pelos seus motivos, merecem a atenção do leitor. Em primeiro lugar, o Presidente chinês, Xi Jinping, apesar de formalmente convidado pela Presidência americana, optou por não se juntar à plateia de boas-vindas a Donald Trump. Para evitar conflitos diplomáticos, ou até mesmo causar má impressão junto do novo Presidente dos Estados Unidos, Xi Jinping enviou o seu vice-presidente, Han Zheng, garantindo que a China é representada pelo seu "second best". Do mal o menos.

Já a congressista da Câmara dos Representantes Alexandria Ocasio-Cortez não marcou presença na cerimónia, com ou sem convite. Num vídeo publicado nas redes sociais da própria, Ocasio-Cortez, ou AOC, como é popularmente conhecida nos EUA, afirmou que estava "cansada de responder à pergunta dos jornalistas" se ia ou não estar presente na tomada de posse e fez questão de deixar tudo muito claro - ela disse mesmo "let me make myself clear": "Eu não celebro violadores" (sic), referindo-se a Donald Trump. A afirmação é forte e a mensagem é, como AOC pretendia, bastante clara: não, ela não vai à festa da tomada de posse de Trump.

Foto: Getty Images

Por fim, uma ausência que é uma história de ir às lágrimas. Literalmente. Jair Messias Bolsonaro, antigo Presidente do Brasil e uma das figuras mais inusitadas da história recente da política mundial, não foi à "inauguration". Logo ele, que até recebeu convite, segundo o próprio, "do Donald Trump em pessoa" para estar presente. Só que o Supremo Tribunal de Justiça brasileiro considerou que o ex-presidente não devia sair do país para viajar para os Estados Unidos nesta altura. Recorde-se que Bolsonaro chegou a afirmar publicamente que "viajar para os Estados Unidos" não devia ser coisa que os pobres pudessem fazer. Karma is a bitch, Jair.

O passaporte de Bolsonaro foi confiscado em fevereiro, no seguimento da investigação acerca do envolvimento do ex-presidente brasileiro na tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023. A mulher de Bolsonaro, Michelle, também convidada para a investidura de Trump, viajou sozinha para Washington, DC, e foi o marido que a levou ao aeroporto de Brasília. Foi lá que Bolsonaro aproveitou para se lamentar dramaticamente diante da comunicação social. "Obviamente seria muito bom para mim ir", declarou, à beira das lágrimas, vitimizando-se em seguida: "Sou um preso político". Fica para próxima, Jair. Também não é preciso chorar.

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