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Paul Collins, dos Beirut, fala à Máxima sobre o disco 'Gallipoli'

Uma aventura que terminou em Gallipoli, uma baía situada “no salto da bota italiana” que faz parte de Apúlia e que dá o nome ao quinto disco da banda norte-americana.

31 de janeiro de 2019 às 07:00 Rita Silva Avelar

Não há como definir os Beirut, a banda que começou por ser um projeto a solo de Zach Condon, fundado em Santa fé (Novo México) em 2006. Os Beirut – hoje compostos por Zach Condon, Perri Cloutier, Hari Ziznewski, Jason Poranski, Nick Petree, Kristin Ferebee, Paul Collins, Jon Natchez, Kelly Pratt e Tracy Pratt - são folk, indie, folclore, world music, electrónica, pop barroco, música tradicional dos balcãs, e a lista não termina. Beirut, nome emprestado à capital do Líbano, onde as culturas do mundo colidem, começou enquanto projeto musical depois de Zach viajar pela Europa e descobrir a sonoridade da música balcã.

Mas Condon haveria de ganhar a companhia de outros músicos. O momento em que, num certame de bandas punk em Santa Fé, Zach toca todas as músicas de Gulag Orkestar, o seu disco de estreia, foi decisivo para a aquisição de Paul Collins - hoje contrabaixista na banda. Ao telefone de Nova Iorque, Paul Collins conta à Máxima um episódio em particular que teve lugar em Gallipoli, uma pequena comuna italiana que dá o nome ao novo álbum, revelado a 1 de fevereiro. Carismáticos e autênticos, os Beirut soam exactamente como são.

Paul, como é que a sua história com a música começa?

Os meus pais são muito ligados à música. Quando eu era pequeno, a minha mãe inscreveu-me em aulas de violino, mas eu era um estudante terrível. A minha paixão pela música foi muito natural, e sempre esteve na minha vida. Se queria ser outra coisa? Não sei. Quis ser realizador de cinema quando fui para o Novo México, onde conheci o Zach. Mas mesmo nessa altura, o que queria mesmo era fazer música.

Tinha uma daquelas bandas de garagem, quando era mais novo?

Quando comecei a tocar com amigos éramos muito novos e mal-humorados. Tocávamos na casa de um amigo. Mas com a primeira banda a sério, tocávamos numa cave de um armazém num sítio chamado "The Dungeon". Aliás, toquei em muitas garagens ao longo da minha adolescência.

Sei que há uma história engraçada de como conheceu o Zach e entrou nos Beirut. Quer contar?

Eu estava a trabalhar num festival de música em Santa Fé, no México. Mas era um festival pequeno, com quase só bandas punk. O Zach atuou ao fim da noite. Ele tinha um teclado e um trompete, e tocou todas as músicas do Gulag Orkestar, ainda antes de ter editado este álbum. Eu não queria acreditar, ouvi a voz dele e não parecia real, as músicas eram incríveis. Depois do espectáculo fui ter com ele para me propor a ajudá-lo a conseguir mais concertos, a colocá-lo em contacto com pessoas que poderia não conhecer.

Foi assim que entrou na banda?

Foi assim que entrei na banda! Só queria ligá-lo a outras pessoas… Ajudei-o a arranjar um baterista. E depois, ele acabou por me perguntar se eu podia comprar um ukulele. Então pedi dinheiro emprestado aos meus pais e comprei um ukulele.

Na génese dos Beirut estão todos os instrumentos possíveis e imaginários. Isso moldou a identidade da banda?

É interessante porque eu sinto que a história dos Beirut é exactamente sobre aquilo que fomos retirando [de instrumentos] desde o princípio. No início tocávamos tudo aquilo que podíamos, cada elemento da banda pegava em quatro ou cinco instrumentos num concerto, era uma loucura. O som era sempre insuportável, éramos aqueles miúdos que bebiam umas cervejas e que tocavam tudo e mais alguma coisa. Ao longo dos anos refinámos a nossa escolha, e fomos garantindo que cada elemento é essencial. Há uma alegria grande em termos encontrado a sonoridade certa. O Zach continua a adorar ter muitos instrumentos, especialmente de percussão.

O novo álbum chama-se Gallipoli e foi nesse local que Zach se inspirou para compor algumas das músicas. É verdade?

Não foi exactamente escrito em Gallipoli. Parte do álbum foi escrito em Nova Iorque (a primeira sessão foi gravada lá) e entretanto o Zach mudou-se para Berlim. Eu estava em Nova Iorque, o Zach estava em Berlim, o Nick, o percussionista, estava em Albuquerque, no Novo México… por isso, para gravar, alguém tinha que voar para algum lado. Eu encontrei um estúdio, o Sudestudio, onde uns amigos de Roma tinham estado a gravar, que fica em Apúlia, "o salto da bota" de Itália. Um estúdio pequeno, rodeado de vinhas, um sítio onde o céu fica cor de rosa, no momento do pôr do sol. O mais bonito que já vi, a seguir ao do Novo México. Ficámos um mês a escrever e a gravar aqui, a nadar no oceano, a correr por entre os campos de vinhas.

Que momentos especiais recordam de Apúlia, durante esse mês?

Uma noite estávamos às voltas de carro em Apúlia, e o Stefano, o nosso guia, levou-nos a Gallipoli, uma cidade lindíssima, de onde se pode ver um farol. À medida que entramos na cidade ouvimos foguetes ao longe e nesse momento sai uma procissão de uma igreja, acompanhada de uma banda a marchar. Seguravam a estátua da Virgem Maria e seguimo-los pela cidade inteira… Foi um dos momentos em que nos sentimos todos felizes e agradecidos por estar a viver tudo aquilo. Foi como se estivéssemos num filme de Fellini durante uma hora. Esse momento teve um efeito profundo em todos, mas especialmente no Zach, que no dia seguinte tinha escrito a música Gallipoli.

Quais são os concertos mais memoráveis dos Beirut?

Recordo-me de um momento no Brasil em que o palco foi "atacado" por espectadores entusiasmados, e tivemos que parar depois das primeiras músicas. Era um grupo de brasileiros a dançar! Estavam muito felizes, cheios de energia. Eu prefiro sempre concertos pequenos, mais íntimos.

E em Portugal?

Sempre que tocámos em Portugal, de todas as vezes em festivais, foi sempre incrível. A audiência é sempre maravilhosa. A vez que estive mais doente num concerto foi quando fomos a Paredes de Coura [2014] mas assim que chegamos senti-me invadido por uma calma. Depois disso, fui com um amigo fotógrafo para uma cidade mais a Norte de Portugal, e recordo-me que nadámos no Douro. Foi mágico.

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Foto: Olga Baczynska
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