Olivia Rodrigo, de menina da Disney a fenómeno mundial
O primeiro amor, a carta de condução, um coração partido. Olivia Rodrigo, 18 anos, tem um álbum de estreia, Sour, que é um coming of age surpreendentemente universal, tão ingénuo quanto intenso, e de uma riqueza musical e lírica que transformou a menina inocente da Disney numa estrela. Por cá, já chegou ao número um do top de vendas.

É inevitável, o culto da juventude produz estrelas cada vez mais novas. O mais recente fenómeno da música pop, uma adolescente que acabou de completar 18 anos, dá pelo nome de Olivia Rodrigo, vem da Califórnia e, desde janeiro, tem vindo a fazer uma razia aos tops de vendas e de streaming mundiais. Sour, o disco de estreia da ex-estrela da Disney, que já chegou ao número um do top de vendas nacional, é uma surpreendente coleção de boas canções pop e pop-rock, power ballads e hinos à desilusão da adolescência. A Rolling Stone deu-lhe 4 estrelas, tal como o The Guardian e a NME. E até a Pitchfork, mais orientada para a música alternativa, não desceu dos 7 pontos em 10.


Numa era em que o próprio conceito de álbum parece anacrónico – e Olivia é tão jovem que levou trabalhos de casa para fazer em Londres, antes de atuar nos Brit Awards, como reportou o The Guardian – Sour tem conquistado não só os tops de vendas do Ocidente como as plataformas de streaming. Em janeiro, com o lançamento de Driver’s License, o primeiro single do disco, bateu o recorde de streams no Spotify durante uma semana e esteve oito semanas consecutivas no primeiro lugar da Billboard. Com Déjà vu, tornou-se na primeira artista a ter dois temas de estreia no top 5. E Good 4 You deu-lhe o terceiro single no top 100, ainda em maio, e um segundo 1.º lugar no Hot 100 da Billboard.
Admiradora confessa de Taylor Swift, Olivia Rodrigo tem o alcance vocal de Mariah Carey, o carisma provocador de Amy Winehouse e o talento puro de Adele. As suas composições são, ainda que juvenis, surpreendentemente profundas. Rodrigo escreve sobre o grande tema da história da Humanidade, do ponto de vista de uma jovem que acabou de ter a sua primeira desilusão, e, embora caindo na armadilha de um ou outro cliché, fá-lo com a subtileza, as nuances e, por vezes, a ‘calma’ de um adulto experiente. O amor pode estar batido, mas nunca ninguém esquece o primeiro e todos se reveem na desilusão que inevitavelmente o acompanha. Com pai filipino e mãe de ascendência alemã e irlandesa, Olivia Isabel Rodrigo é uma cantora/compositora de canções universais: "Car rides to Malibu/ Strawberry ice cream / One spoon for two / And trading jackets/ Laughing 'bout how small it looks on you." É difícil encontrar quem não se reveja nas emoções de que ela fala e quem não seja invadido por um sentimento de nostalgia ao ouvir as suas palavras, tão inocentes quanto profundas.

Nascida a 20 de fevereiro – uma auspiciosa data de nascimento, que partilha com Rihanna e Kurt Cobain – de 2003, em Temecula, uma pequena cidade na Califórnia conhecida apenas pelas suas vinhas e pelos passeios de balão, Olivia entrou cedo no mundo do show business. Aos 14 anos fez a estreia no pequeno ecrã, no Disney Channel, o mesmo canal que nos deu Selena Gomez ou Miley Cyrus. Na série Bizaardvark interpretou o papel de Paige Olvera, uma espécie de jovem realizadora de videoclips do século XXI. Daí, deu o salto para High School Musical: The Musical: The Series, onde conheceu, a crer no gossip da Internet os mais do que prováveis culpados pela maior parte dos 11 temas que canta em Sour, Joshua Bassett, que foi o seu par romântico na série e na vida real, e Sabrina Carpenter, com quem tem desde então feito um duelo de canções de resposta e contrarresposta. ("And you’re probably with that blonde girl / Who always made me doubt", Sabrina Carpenter terá replicado com "Maybe you didn’t mean it / Maybe blonde was the only rhyme".).


De resto, Sour é um monumento pop que iguala ou ultrapassa toda a concorrência, com power ballads e temas punk-pop, como Brutal, que nos lembra as riot grrrls, e Good 4 You, que aposta no modelo baixo-guitarra-bateria e um refrão pós-grunge, e até uma balada intimista ao som de um arpejo em guitarra acústica, Enough for You. A história da música pop está repleta de estreias auspiciosas que redundaram em one hit wonders fadados a terminar a carreira a cantar nos casinos de Atlantic City. Não parece ser o caso de Olivia Rodrigo, a quem bastará, para se manter à tona, ter um segundo disco com tanta pujança lírica quanto este Sour. Resta saber se a californiana tem outros temas sobre os quais cantar que não apenas o rompimento de relações. Porque a voz e o talento estão lá. O que a deixa em competição direta com Billie Eilish pelo título de prom queen da música pop. Olivia Rodrigo é a artista do ano, com o disco do ano e será provavelmente o fenómeno da década.
