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O que esperar de ‘Variações’, o filme sobre o icónico artista português

João Maia, e o elenco, que conta com Sérgio Praia como António Variações e também com Filipe Duarte e Victoria Guerra conversaram com a Máxima sobre o filme a importância de António Variações.

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05 de agosto de 2019 às 07:00 Aline Fernandez

António Rodrigues Ribeiro é o quarto filho de uma numerosa família de gente do campo, com origem na aldeia de Fiscal, no Minho, perto de Braga. Tornou-se conhecido como António Variações, cantor e compositor das músicas que ainda hoje todos sabemos de cor.

A 22 de agosto estreia nos cinemas Variações, a longa-metragem que retrata a vida do barbeiro e figura da esfera das artes e da noite lisboeta no final dos anos 1970. A música é o fio condutor do filme e a forma como ele a vivia apaixonadamente é a linha narrativa.

A história conta como António procura o sonho de se tornar cantor e compositor, apesar de não saber uma só nota musical. Ele viveu em Amesterdão, onde foi barbeiro, de Lisboa foi à Luanda, onde foi radiotelegrafista durante a guerra, e também esteve durante um período em Londres. O filme foca-se no processo de transformação de Rodrigues Ribeiro na persona de Variações, o artista excêntrico e popular cuja carreira fulgurante de apenas um ano e meio foi interrompida pela sua morte, em 1984. Portador de SIDA, o cantor não sobreviveu a uma broncopneumonia.

Do ponto de vista do realizador

"Eu sempre pressenti que o filme tinha um chamamento para o público feminino, embora fosse um filme protagonizado em grande parte por homens. E é precisamente o que está a acontecer, as mulheres estão a gostar do filme e isso era o que eu pretendia inicialmente, porque esta é uma história universal", contou à Máxima o realizador João Maia, completando que queria que a história tocasse a todos, não só às pessoas que viveram naquela época.

O ponto inicial

"Eu encontrei este tema, que dizia qualquer coisa da minha adolescência, que era este período em que se ouvia muito rock português. De repente [surge] o Variações, de quem eu não era, digamos, um fã –, porque ele teve também uma carreira muito curta. Voltei a ouvir os seus discos, fiquei rendido, e pensei que devia fazer algo sobre este tema. As letras eram muito sugestivas", revelou João Maia sobre o seu primeiro projeto em longa-metragem.

O sonho demorou quase 15 anos para concretizar. Foram alguns os obstáculos: "É um filme de época, [um aspeto] que o torna mais caro e a banda sonora foi toda feita de raiz. Eu queria que o filme fosse o mais realista possível em termos de cenário, de guarda-roupa. E isso custa sempre um bocadinho mais de dinheiro", explicou o realizador. "Se fosse fácil haveria muitos mais filmes e muitos mais realizadores. Foi uma maratona, mas eu estou muito contente."

Foto: João Pina

Realismo, mas nem tanto

As filmagens levaram cinco semanas em Lisboa e uma semana na terra natal de Variações, no Minho, onde foram gravadas as cenas do cantor na infância. João Maia fez questão de reproduzir os ambientes o mais próximo da verdade. "Era essencial – eu tentei fazer isso em muitas coisas – outras não conseguimos, porque era impossível. Mas filmámos onde ele deu o primeiro concerto, exatamente no sítio onde foi, filmámos no prédio onde ele viveu – ele vivia no primeiro andar e nós filmámos no terceiro andar –, filmámos na rua dele. A casa que escolhemos para ser a casa de infância dele é na aldeia dele – a casa dele não existe mais, se existisse provavelmente teria filmado lá… Os caminhos que fizemos era o caminho que ele fazia para trabalhar", contou detalhadamente e com entusiasmo o realizador. "Eu aqui não era só por ser realista, mas sentia mesmo na equipa que quando estávamos no sítio verdadeiro, toda a gente lidava com aquilo de uma maneira diferente, fazia-se um silêncio diferente."

Foto: João Pina

Eis o prato cheio de António Variações

Sérgio Praia recebeu o primeiro contacto para participar do filme em 2008. "Eu descobri que ele era viciado em Amália Rodrigues, uma cantora de fado de que gosto muito e me acompanha desde miúdo, e ali senti quase como fosse um sinal, pensei: ‘Hum… há qualquer coisa aqui que me agrada’", partilhou com a Máxima o ator de Ovar.

"Houve todo um lado de imaginação que nós tivemos de acreditar que pode estar ou poderá fazer lembrar [Variações]. De facto não existe material, mas aquilo tinha que ser feito, portanto eu tentei ser o mais respeitoso possível, consciente do ambiente dele e das dificuldades que ele teve na vida e emprestar o meu corpo àquelas dificuldade e àquelas alegrias", explicou-nos Sérgio acerca da complexidade de concretizar algo com tão pouca referência biográfica. "Eu gosto muito de me pôr no lugar dos outros. Como é que eu resolveria determinada questão é das coisas que mais prazer me dá e aqui nesta personagem foi um prato cheio", riu-se.

Foto: João Pina

O fiel amigo Fernando Ataíde

A simpatia do ator Filipe Duarte parece ter encontrado na personagem de Fernando Ataíde espaço livre, de acordo com as características do amigo e companheiro de António Variações. "Eu soube através de reflexos da biografia do António, que ele era uma pessoa também que assumia quem era e não tinha problemas em mostrar ao mundo quem era", contou-nos Duarte. "Tivemos a sorte de conhecer a Rosa Maria, a personagem que a Victoria [Guerra] interpreta, porque está viva. Eles os três eram muito amigos e ela, estando viva, conseguiu passar-nos informações que não estão nos livros e que foram fundamentais", explicou o ator, sobre como se preparou para dar vida a Fernando. "Eu já gostava do António e, conhecendo melhor a sua história, sou um grande admirador", finalizou, com um sorriso.

Foto: João Pina

A mulher por trás do Trumps, a discoteca mais conhecida da época

Fernando Ataíde ficara desolado com a partida intempestiva de António Variações e casou-se com Rosa Maria. Juntamente com os colegas do Ayer e a sua mulher abre a Trumps, onde Variações virá por fazer o seu primeiro concerto. Victoria Guerra, que dá vida à Rosa, confessou que estudar o papel não foi tão fácil. "É sempre difícil fazer uma personagem viva. É preciso ter muito cuidado e eu senti uma responsabilidade 100 vezes maior", contou-nos. "Para além de ter um argumento muito bom e de atores mesmo muito bons, eu adorei trabalhar com o João [Maia], que deu uma liberdade aos atores incrível, o que deu mais ao filme."

A dificuldade transformou-se em orgulho. "Eu acho que ficamos todos muito marcados por esse filme. Não só a energia dos atores, do João, de toda gente, a própria equipa foi tão boa, que depois ver o filme, eu acho que ficamos todos muito tocados e eu espero que as pessoas também fiquem", confessou a atriz.

Se é sobre um cantor, que tenha boa música

Variações será o primeiro filme português realizado com sistema de som Dolby Atmos, o que promete proporcionar um arrebatador áudio "em movimento" nas salas de cinema, que envolverão o público com precisão e realismo. Vale a pena saber que a banda sonora será editada no dia a seguir da estreia, a 23 de agosto, pela Sony Music e incluirá um tema inédito. A música Quero dar nas vistas foi reconstruída pelo diretor musical Armando Teixeira, da banda portuguesa Balla, através das famosas cassetes de António Variações.

A mensagem mais importante do detrás da obra

O filme é uma homenagem a todos aqueles que aspiram transformar as suas vidas. Aceitação, coragem, ir à procura dos sonhos, não desistir, ser capaz de conseguir dar um salto e acreditar que os sonhos se podem tornar realidade. "As pessoas não têm que morrer nos sítios onde nasceram, não tem que fazer o que as pessoas querem que elas façam. Temos o direito a sonhar e o filme passa isso", disse o realizador João Maia.

Foto: Cartaz ‘Variações’ | distribuição NOS Audiovisuais
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