Novo mundo, novas regras. A segunda revolução sexual
Poderá o movimento #MeToo marcar o início de uma nova era de esclarecimento sexual? Se é esse o caso, quais as regras que cada parte envolvida deve adotar? India Knight, a escritora e prestigiada jornalista do The Sunday Times, explora este território ainda desconhecido.

O que acontece com o sexo livre, confuso e imperfeito na era do #MeToo? Estamos à espera, recatadamente vestidas e com as pernas cruzadas com pudor, que a nova era vitoriana comece? É uma das muitas questões levantadas pela nova revolução sexual. A primeira, nos anos 1960, estava relacionada com o aparecimento da pílula contracetiva e, por consequência, com a liberdade sexual: subitamente, tornou-se possível ter sexo delicioso, sem apegos e sem sentir medo de uma gravidez indesejada. O novo método de contraceção fiável – que não dependia da decisão de o homem usar um preservativo – trouxe às mulheres o poder de controlar a sua fertilidade. Olhando para os anos de 1960 e de 1970, parece-me que muitos homens tinham sexo regularmente e que isso era muito agradável para eles. E não estou convencida de que todas as mulheres com as quais tinham relações sexuais viviam uma experiência igualmente aprazível. Estavam livres da preocupação da gravidez, mas tudo o resto continuava na mesma. As expectativas sociais não se alteraram: as mulheres que haviam escolhido dormir com diferentes parceiros eram julgadas com a mesma severidade de antes e a disparidade nos salários, o aumento do sexismo e a discriminação mantinham-se presentes e (in)corretos. As mulheres ainda precisavam da assinatura do marido ou do pai se pretendessem um empréstimo bancário ou comprar algo a prestações [Nota da Redação: Em Portugal, durante a ditadura, a mulher casada estava averbada no passaporte do marido, precisando da autorização do mesmo para se ausentar do país]. As mulheres dos anos de 1960 podem ter sido libertadas da sua condição biológica, mas em todos os outros aspetos – não sendo menos importante o perpétuo "comer com os olhos" por parte dos homens, tantas vezes acompanhado de comentários ordinários – as coisas não evoluíram muito.
Na era do #MeToo, tenho pensado muito no sexo sombrio da minha geração (nasci em 1965). Olhando para trás, penso que o mesmo, por vezes, era bom e que em outras, provavelmente, não era espetacular. Muitas das minhas amigas tinham relações sexuais voluntárias para evitarem a alternativa: o sexo forçado. Faziam-no em casa, numa festa ou em cada ilha durante uma viagem pela Grécia. Todas nós fizemos sexo por gentileza porque dizer que não obrigava a um esforço enorme e a justificar a negação. E dizia-se que sim por uma questão de conveniência e de boas maneiras. (Imagine-se dormir com alguém em prol da boa educação! Mas fazíamo-lo com frequência.) As pessoas tinham sexo bêbedas ou "pedradas" sem que, depois, se lembrassem de quem tomara a iniciativa. Haviam sido ambos, com certeza… Ninguém se lembraria de falar em date rape [violação num ambiente de interação social], apesar de, algumas vezes, ter sido o que aconteceu. Entretanto, em todo o lado, havia sempre alguém que tentava apalpar as jovens estudantes, no local onde elas trabalhavam, ao fim de semana, havia também um olhar lúbrico no Metropolitano e, na rua, surgiam os comentários acerca dos seios. Eles exibiam os genitais e à noite sentavam-se atrás das raparigas no autocarro e masturbavam-se. No Metro, às oito horas da manhã, a caminho da escola secundária, um sujeito qualquer roçava-se nelas. (Quando estudante contei ao meu diretor de turma quando esta situação aconteceu comigo e ele respondeu: "Ah, sim, houve frottage" [termo derivado da palavra francesa frotter que, naquele caso, significa esfregar o corpo no de alguém, a fim de obter satisfação sexual]. Enquanto esperava por um namorado num pub, num maravilhoso entardecer de verão, um sujeito muito mais velho do que eu sentou-se à minha frente e, coloquialmente, disse-me que mais tarde, nessa noite, me violaria. Todas estas coisas, que são só um pequeno exemplo, aconteceram comigo antes de fazer 21 anos. Podia continuar. E não param à medida que se envelhece. Portanto, sim #MeToo, ou seja, claro que eu também dúzias, centenas, provavelmente milhares de vezes. Não há, hoje, uma mulher viva que diga #NotMe.

E é essa, precisamente, a questão. É por isso que a parte dois da revolução – a parte em que derrubamos o sistema patriarcal, de preferência com a feliz cooperação do patriarcado, e onde a sanidade e o equilíbrio sejam reconquistados – chegou. E chegou porque é impossível negar a universalidade do #MeToo ou rebaixá-lo, a fim de refutar demonstrações de "feminismo" ou de "politicamente correto". Mas lembro-me de não pensar assim há 15 anos, altura em que me sentia irritada por as jovens estudantes acusarem abertamente os homens de date rape: tanto quanto eu sabia, acordar na cama com um homem sem que nos lembrássemos muito bem do que tinha acontecido era banal na vida universitária. A questão é que ambas as situações são possíveis e ambas podem ter acontecido. É possível que, habitualmente, os homens tirem partido sexual de mulheres que não estão dispostas a isso ou que se sintam incapacitadas de darem o seu consentimento e é possível que as mulheres pensem que é apenas uma coisa que acontece. É simultaneamente normal – porque foi tornado norma, lugar-comum – e não normal, de todo, porque sexo sem consentimento é crime.
Achei aquele brado contra uma situação que eu ainda considerava um comportamento "normal" difícil de entender, embora seja como andar de bicicleta: assim que se aprende, nunca mais se esquece. É por isso que compreendo as pessoas, homens e mulheres, que ainda não entendem o que se está a passar e que acham que todos deveriam parar de se queixar. É o fim do mundo se um político acaricia o joelho de uma jovem jornalista [referência ao polémico caso que envolveu o secretário de Estado da Defesa inglês, Michael Fallon, e a jornalista Julia Hartley-Brewer] ou lhe envia uma mensagem sugestiva? Não, claro que não, tal como o facto de um homem se ter roçado em mim, no Metro, não foi o fim do mundo. Obriguei-me a fazer de conta que não tinha tido importância. Forcei-me a achar divertido (Quão forte sou! Quão fracas são as jovens que admitem sentir-se mal e zangadas!) e mantive essa posição durante décadas.
Podia bem ter passado sem viver numa cultura que pensava que exibicionistas [sexuais], voyeurs e apalpadores eram, de algum modo, engraçados. Mas era difícil se se pertencesse a uma família que se ria ao serão, perdidamente, quando assistia ao arrepiante programa televisivo de Benny Hill – Hill’s Angels –, em que o ator corria atrás de mulheres quase despidas, raparigas muito mais novas, as quais faziam de conta não quererem a atenção sexual de que ele as fazia alvo. É semelhante à mão no joelho. Sim, é claro que há coisas piores. Não desvalorizam o facto de as mulheres poderem desempenhar o seu trabalho sem serem tocadas se não o quiserem. Uma vez, quando eu era adolescente, estava sozinha num elevador com um homem que se masturbou, ao ponto de ejacular. Também não foi o fim do mundo, mas isso não fez com que a situação fosse aceitável. Eis uma analogia para as pessoas que dizem, como se fosse uma novidade impressionante: "E as mulheres que beneficiaram do literal ou metafórico casting couch [favores sexuais dados em troca de uma posição vantajosa]? Em Hollywood, algumas ganham milhões de dólares por filme. Porque vão elas a manifestações gritando #MeToo? Que hipócritas!" Veja agora a questão por outro prisma. Primeiro, se os homens fizessem fila para dizer que um colega lhes apalpou os genitais, correndo o risco de serem ridicularizados, iriam a correr para os Recursos Humanos da empresa sentindo-se estupidamente ofendidos? Quanto ao casting couch é muito simples. Imagine que um inteligente, talentoso e ambicioso homem chegou onde chegou porque faz um excelente fellatio. É assim que o sistema funciona: toda a gente concorda que é talentoso, mas se quer ter sucesso tem de fazer felação aos seus chefes. É simplesmente assim que as coisas são. E ele fá-lo, diligentemente, mas pensamos nós que gosta de a fazer? Uma pista: não. Por isso é muito gratificante para ele quando os chefes que pedem sexo oral são apanhados e afastados. Agora, ele pode continuar a sua carreira. Aqui têm. O mesmo acontece com as mulheres que se terão aproveitado do casting couch. É agradável não ter de voltar a realizar atos sexuais que não lhes agradam, mas que tiveram de suportar em nome da promoção da sua carreira. Espero que esteja claro.

O que nos garante que a Revolução Sexual 2.0 não é um falso amanhecer? A sensibilidade dos homens! (E mulheres, obviamente. O secretário de Estado da Defesa, Fallon, acusado de assédio sexual, foi demitido por Theresa May, por Amber Rudd e por Andrea Leadsom. Não estou convencida de que teria sido afastado se a primeira-ministra, a ministra da Administração Interna ou a líder da Câmara dos Comuns fossem homens.) Lembremos aquele sórdido jantar no Dorchester Hotel, onde as hôtesses foram apalpadas e não só. O evento chamado Presidents Club teve lugar, anualmente, até o grupo ter sido dissolvido, no início deste ano, na sequência das revelações. Um aspeto marcante destas denúncias foi que, assim que os que marcavam presença no jantar começaram a ser identificados, nenhum homem disse ter visto nada inapropriado. Nem um. Nada. Nenhum deles viu nada. Todos ficaram lá por pouco tempo, obrigado e boa noite. Aqueles homens agarraram-se às suas pérolas e pediram que lhes dessem sais a cheirar para não desmaiarem, qual damas ultrajadas. Não faziam a menor ideia de que algo de errado tivesse acontecido. Foi notável e de um descaramento extraordinário.
Avancemos rapidamente dois meses no tempo. A atitude dos homens começou a mudar. Já ninguém diz: "Não fazia ideia de que essas coisas estavam a acontecer" ou "Não vi nada", nem velhos dinossauros, como Michael Parkinson, que tem 83 anos. Em 2016, tentou justificar alguns comentários que fez acerca de Helen Mirren, em 1975, quando disse que era muito difícil levá-la a sério, uma vez que tinha uma aparência tão sexy. Mas numa recente edição da GQ [inglesa], o apresentador, jornalista e autor diz que se sente desconfortável com algumas das suas ações passadas: "Se fizesse agora o que fiz então, teria de ter cuidado. Podia ser preso." E acrescenta: "Não existe um homem com uma determinada idade que não olhe para trás e pense: "Foi o meu comportamento apropriado?" Lamenta não ter tomado uma atitude, declara, em relação a um editor que mostrou os genitais à sua mulher, Mary, na sua própria casa. Pobre Mary. Como Parkinson, os homens estão a abandonar o insincero "Eu não fazia ideia" e a assumir um genuíno "Oh, meu Deus!". Ou, talvez, um pesaroso "Raios!" ao examinarem os seus comportamentos passados, considerando alguns deles inadequados. O #MeToo está a obrigar a uma reavaliação, pelo menos entre os meus amigos, que estão nos seus 40 e 50 anos. Tem sido feito um inventário desconfortável e, apesar de não haver algum que se sinta completamente horrorizado pelo seu passado, muitos sentiram-se incomodados em retrospetiva, não tanto pelas bebedeiras e atos sexuais consensuais, mas por situações em que eles eram a pessoa que exercia o poder, o amigo mais velho, o empregador, o contacto útil, o senhorio do apartamento partilhado. "Ainda tenho a certeza de que ela queria dormir comigo" é um comentário típico, "mas trabalhava para mim, pagava-lhe o salário e imagino o quanto isso pode ter sido determinante".
Enquanto os homens analisam as suas próprias ações, como é que as mulheres encaram a sexualidade e o sexo? A pergunta que se faz agora é: "Os homens ainda têm autorização para flirtar?" A resposta é: "Façam-no, desde que saibam a diferença entre flirt e assédio." Uma questão mais interessante poderia ser: "Podem as mulheres expressar a sua sexualidade, serem sexy, demonstrar que gostam de sexo e que o procuram?" O problema, aqui, é a resposta padronizada: "As mulheres podem ser tudo aquilo que querem e apresentarem-se como quiserem. Ponto final e adeus." Isso não chega. Na era do #TimesUp e do #MeToo parece-me simplista e irrefletido. Se as mulheres de Hollywood que estão sempre sob as luzes da ribalta se expõem na linha de fogo, dizendo "Vou usar um vestido transparente e sem roupa interior porque me apetece", isso não parece ajudar. Mas todas as mulheres têm a obrigação de tomar esta atitude? Não será isso repressão, ainda que de uma maneira completamente diferente? Ou se uma mulher diz "Eu até gosto de olhares masculinos, de vez em quando, mas obrigada na mesma", enquanto se pavoneia nos seus saltos altos de stripper – bom, e então? Se ela diz "Vou posar para a Playboy porque me faz sentir bem e acho que o meu corpo é maravilhoso" devemos responder "Ainda bem para ti. Não é a minha noção de divertimento, mas vai em frente"? Ou – e aqui começa o desconforto – explicamos à mulher que, na verdade, na situação que vivemos exibir o corpo talvez não seja útil à causa atual? Porque, agora, as mulheres estão a policiar outras mulheres e a dizer-lhes como se devem sentir e como se vestir. Não me sinto bem em relação a isso: esclarecimento, por um lado, e reeducação para mulheres que precisem, por outro lado. À parte o facto de ser macabro, ninguém quer ser a paternalista desmancha-prazeres que faz uma repreensão, como se fosse uma sabichona. Além disso, existem algumas áreas legítimas de preocupação. O sexo e a sexualidade são confusos, selvagens, espontâneos e complicados. Os parâmetros pessoais dos indivíduos são apenas isso: pessoais. Qualquer ato consensual é algo que vale a pena declarar, claramente, e considerar valioso. Preocupa-me que estejamos a caminhar no sentido de encarar o sexo pós-#MeToo como algo que tem de ser aprovado, higiénico e delicodoce e onde tudo o que saia fora disto é visto como incorreto ou suspeito. É um pensamento sinistro. Sexo é sexo, o que quer que nos excite, desde que não faça mal a alguém, vale a pena repetir.

Por exemplo, analisemos o vestir "recatadamente". Não há melhor maneira de parecer fora de moda do que exibir um decote – más notícias para as mulheres de peito grande, a quem as golas altas não favorecem. Ainda assim, penso que devemos continuar a vestir-nos horrivelmente por mais uns tempos em nome da solidariedade. Além disso, há muito para celebrar, nem que seja pelo facto de o vestuário largo e confortável estar de novo na moda – roupas com as quais podemos correr, saltar e esticar-nos, e não as que apertam o corpo e nos fazem sentir como um "chouriço". Não são roupas para atrair, como se darão conta. Porém, e se gostarmos de nos sentir um "chouriço" ou de usar saltos, ainda que ninguém os use já? A profundidade da confusão que este território pode engendrar foi exemplificado por uma sessão fotográfica que a atriz Jennifer Lawrence fez para promover o seu recente filme, A Agente Vermelha. Aconteceu em Londres, imediatamente antes de um grande nevão, o que é o mesmo que dizer que fazia muito frio. O realizador [Francis Lawrence] e o coprotagonista [Joel Edgerton] estavam preparados para o frio, confortáveis nos seus casacos, mas ela usou um vestido Versace que mal se via. A jornalista Helen Lewis postou um tweet: "Esta é uma imagem tão discretamente depressiva (e reveladora). Nem que seja pelo facto de eu ter estado no exterior hoje e ter sentido um frio de rachar." O tweet foi publicado, milhares de vezes, por outros. Eu fiz o mesmo: a imagem de uma jovem gelada, seminua, rodeada por homens de meia-idade bem agasalhados pareceu-me um comentário pertinente ao que ainda acontece na indústria cinematográfica, meses depois de Weinstein. Certo? Sim e não. J-Law respondeu, no Facebook, criticando quem estava a cometer o erro de se deixar levar por essa corrente de pensamento: considerou-nos sexistas e não-feministas. "O Versace era fabuloso. Acham que ia esconder aquele lindo vestido com um casaco e com um cachecol? Estive no exterior cinco minutos. Ficaria na neve por aquele vestido, porque adoro moda e aquela foi a minha escolha", escreveu Lawrence. "Isto é sexismo, é ridículo e não é feminismo… Tudo o que visto é escolha minha. E se quero estar com frio, a escolha é minha!" Ela sentia-se, conforme declarou, "extremamente ofendida".
Como Lewis apontou no tweet subsequente: "Discordo da ideia que ‘tudo o que uma mulher decida fazer = feminismo’" – e, por certo, importante nesta questão é saber se agora precisamos de um feminismo mais sério, intelectualmente rigoroso e menos divertido. Talvez seja tempo de pedirmos aos homens que reconheçam que todo o comportamento tem as suas consequências e que já não chega dizer "As minhas ações são feministas porque digo que são".
Sensualidade e sexismo são, obviamente, duas coisas diferentes, tal como sensualidade e assédio sexual. As pessoas não são assediadas, abusadas ou agredidas porque são sexy: são assediadas, abusadas ou agredidas porque alguns homens acham que é correto servirem-se de quem desejarem. A solução, é claro, não é as mulheres tornarem-se amish para se defenderem. É os homens aprenderem a comportarem-se e não verem em todas as mulheres com uma saia curta uma sedutora sem escrúpulos – o tipo de pensamento fundamentalista e demente que não tem lugar numa sociedade razoavelmente desenvolvida. A nova evolução é, creio eu, que os homens estão, por fim, a compreender isto. Finalmente. Talvez seja pela mais nobre das razões ou talvez seja porque precisam de regras simples que eles entendam. De qualquer dos modos, é um progresso.

Não tenho respostas para todas as perguntas que faço. Considero, apenas, que é importante fazê-las. Tenho sugestões. Uma é ir devagar e inteligentemente. Se as pessoas estão a ficar para trás por hostilidade ou por incompreensão, devíamos tentar aproximá-las, em vez de gritar com elas. Ter a razão do nosso lado não é justificação para não debatermos as questões. O movimento #MeToo não pode perder de vista os seus objetivos, nem tornar pouco claro o que pretende. Do mesmo modo, não pode ser visto como uma maneira de dizer aos homens que se lixem. Infelizmente, qualquer pedido educado no sentido de alcançar a igualdade é sempre mal interpretado por uma minoria de homens, que o ridicularizam. Por isso, o discurso do público acerca da igualdade de géneros é tão estranho e está tão estagnado, com toda a gente com medo de dizer o que pensa. Online, onde é fácil ser anónimo, esse discurso é fervoroso e violento. A conversa superficial é policiada e controlada, mas há uma anarquia oculta e, aparentemente, um sem-fim de críticas virulentas e enraivecidas dirigidas às mulheres. Tem de se acabar com isso e é um trabalho para homens mentalmente saudáveis, em todo o lado. Seria útil desafiar as partes do comportamento homem-mulher que não se encaixam nos parâmetros do #MeToo. O sentimento geral entre os homens é de que a mulher deve agradar. À medida que crescemos, aprendemos a ser socialmente apaziguadoras: sentamo-nos a uma mesa, ao jantar, cheia de homens aborrecidos e, de imediato, fazemos a conversa vibrar, rimos, brincamos, lisonjeamos e flirtamos. Se o nosso chefe, ou parceiro, ou marido, ou colega são socialmente inaptos, nós tentamos atenuar esse comportamento. Facilitamos a vida aos outros e prosseguimos com o nosso desempenho. Somos compelidas a ser, ou a parecer, permanentemente charmosas. Não estou a sugerir que nos transformemos todos no Rab C. Nesbitt [personagem de uma série de comédia que optou por viver como um desempregado alcoólico] de um momento para o outro (apesar de ser uma ideia agradável), mas a perspetiva de que temos de estar sempre de serviço para sermos muito agradáveis está ultrapassada. O que realmente interessa é que a sexualidade da mulher é cem por cento dela para usar e conceder ou não, como ela desejar. As mulheres deveriam deixar o hábito diário de se vestir para agradar aos homens e, nesse aspeto, também os jovens rapazes para as raparigas. Dado o estado corrente das coisas no mundo, muito disso ainda parece inimaginável e vai ser especialmente difícil desatar este nó para a geração mais nova de homens e de mulheres que cresceram com a banalização de imagens pornográficas e, por vezes, com a ideia de que o sexo porno é o tipo de sexo que deveriam ter. Os homens jovens precisam de aprender a fazer a transição entre a pornografia e a vida real e as jovens mulheres precisam de estabelecer os seus limites sem medo. Se os jovens, rapazes e raparigas, debaterem estas questões sem os habituais preconceitos farão a verdadeira revolução. É, mais do que nunca, possível. A nova revolução sexual ainda pode demorar a dar frutos. Mas, pelo menos, começou.
A longa marcha para a liberdade
4 de dezembro de 1961A pílula contracetiva é introduzida no Reino Unido apenas para mulheres casadas até 1967, data a partir da qual se tornou acessível a toda a gente.
1975Michael Parkinson entrevista Helen Mirren, diz-lhe que ela é boa no "erotismo promíscuo" e pergunta-lhe se o seu ‘equipamento’ desempenhou algum papel no seu reconhecimento como atriz séria, num momento ilustrativo de quatro décadas de sexismo na televisão.
Anos 1980Benny Hill era libidinoso no seu programa televisivo Hill’s Angels que foi cancelado, em 1989.
Outubro de 2017A atriz Rose Mcgowan acusa Harvey Weinstein de abuso sexual, dando início ao movimento #MeToo.
Janeiro de 2018O escândalo do Presidents Club: os relatos das hôtesses relativos ao encontro anual, só para homens, denunciaram o assédio sexual neste evento de beneficência, em Londres. Vinte e quatro horas depois a organização anunciou o seu encerramento.
Março de 2018No seu discurso quando recebeu o Óscar, Frances McDormand desafiou os executivos de Hollywood a repensarem a sua conduta: "Todas nós temos projetos que precisam de financiamento", sublinhou. "Não falem deles connosco nas festas desta noite. Convidem-nos, antes, para uma reunião nos vossos escritórios."
Crédito: Exclusivo The Sunday Times/Atlântico Press
