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'Journaling': por que é que há cada vez mais pessoas a manter um diário?

É umas das técnicas de 'mindfulness' mais faladas do momento, e não o é por acaso. Escrever todos os dias (o que quer que seja) carrega variados benefícios e custa muito pouco. Descubra porquê.

'Diário de Bridget Jones' (2001)
'Diário de Bridget Jones' (2001) Foto: D.R
02 de setembro de 2022 Pureza Fleming

Há uma razão pela qual a hashtag #journaling acumulou, até à data, cerca de 3,4 mil milhões de visualizações no TikTok. Manter um diário agrega copiosos benefícios — iremos enunciar mais à frente os mesmos — e, verdade seja dita, esta é uma prática que muitas de nós já fazíamos no passado: na altura chamava-se diário. Eu sempre fui de escrever — apontar ideias, listas de tudo e mais alguma coisa, afazeres, pensamentos, reflexões… Em pequena era das tais que mantinha diários. Tive vários e queimava-os assim que chegavam ao fim. Na altura não me passaria pela cabeça que queimar certos escritos (memórias, pensamentos, acontecimentos), seria hoje visto como uma técnica pseudo espiritual, uma metáfora para a eliminação do passado e dos seus respetivos sufocos. Na altura queimava-os somente porque não queria que ninguém descobrisse os meus mais recônditos e honestos pensamentos. Uma vez que nunca padeci de sintomas de saudosismo e muito menos de materialismo, queimava-os sem culpa. Tinham servido o seu propósito, haviam tido o seu tempo de vida. E o caminho era, tal como sempre será, para a frente.

Afinal, o que é isto de se fazer journaling?

"Journaling é o processo de tornar sentimentos e pensamentos mais tangíveis, passando-os à forma física", explica Jessica Hoeper, assistente social e criadora do projecto Ray Of Hope, em conversa com o site Bustle. É uma maneira de tirar os pensamentos da cabeça, transportando-os para o papel. Tal como todas as ferramentas de self care, quanto mais a técnica for posta em prática, maiores os benefícios e melhor nos sentiremos. "A quantidade de tempo que se leva a escrever não é tão importante quanto a frequência com que se pratica a escrita", ressalva Hoeper. A assistente social recomenda escrever no diário algumas vezes por semana, ou sempre que fizer sentido. Reforçando uma vez mais o que já foi mencionado acima, o mais importante de tudo é fazê-lo e sobretudo sem expectativas. Deixar as palavras fluirem, escrever o que nos mói a cabeça, por mais ou menos sentido que aquilo possa fazer no momento. Lembre-se: é pessoal e intransmissível. Não se trata de um romance a ser publicado, mas do seu bem-estar mental e emocional.

Como fazer journaling?

São muitas as formas de se fazer journaling: pode-se escrever acerca do quotidiano; fazer-se reflexões ou expôr-se pensamentos sem os treinadores de bancada do costume — seja nas redes sociais, seja na esfera de familiares e amigos; pode apenas servir como um meio onde cabem todos os desabafos do mundo, uma vez mais, sem receio de julgamentos; ou pode servir para, pura e simplesmente, se anotarem longas listas de afazeres — não há palavras para descrever o delírio que é chegar ao final do dia com os checks todos feitos. E pode, evidentemente, servir para tudo isto — como é o meu caso. O céu é o limite. Tal como outras disciplinas do mindfulness, como é o caso do Yoga ou da meditação, a única condição para que a técnica funcione é somente e apenas que se pratique. Escrever sempre que possível; senão todos os dias, quase todos os dias.

Alguns benefícios do journaling:

Ajuda a que nos concentremos nos aspetos positivos da vida

Ao escrevermos diariamente ganhamos uma noção maior daquilo que é a nossa vida: o positivo e o negativo. Quando enfrentamos momentos menos bons, os escritos do passado relembram que "também isto passará", que "melhores dias virão". A gratidão é uma palavra que, de certa maneira, se tornou um tanto banal. Mas a realidade é que haver um reconhecimento acerca das coisas boas que o mundo nos proporciona, e ser-se grato por isso, é meio caminho andado para se conseguir ver a vida a partir de outro prisma, com outros olhos.

É uma maneira de entender suas emoções

Há alturas na vida em que tudo parece demasiado confuso e em que a nossa mente se assemelha a uma emaranhado de fios. O resultado é que tal confusão mental torna impossível a tarefa de se ver o que quer que seja com clareza. Tudo fica pouco nítido, às vezes até caótico. Nestes momentos peculiares a escrita ajuda a pôr as ideias em ordem e, consequentemente, torna-se mais fácil de olhar para a nossa vida e de a organizar — seja em que campo for.

O diário pode ajudar a "conectar os pontos"

Seguindo a lógica do ponto anterior, ao termos tudo escrito e apontado com uma sequência mais lógica do que por vezes consegue ser a nossa mente, ganhamos a capacidade de analisar o que foi, o que é e, até quem sabe, o que será. A palavra escrita ajuda-nos a conseguir captar uma outra perceção das coisas.

É catártico

É precisamente nos dias em que apetece tudo menos existir, em que o choro toma conta de nós, em que a vida parece não fazer sentido, que mais devemos "deitar tudo cá para fora". Como já foi escrito acima, escrever no diário evita julgamentos e opiniões não solicitadas. Somos nós connosco mesmos num gesto de expulsão de todas as dores que nos consomem naquele momento. No final, o alívio é garantido.

Dá uma certa perspetiva

Muitas vezes, em situações muito específicas da minha vida, o journaling serve para me recordar atitudes — minhas e/ou dos outros. Quando surgem dúvidas relativamente a algo ou alguém, faço o exercício de vasculhar páginas passadas e, rapidamente, encontro as respostas que procurava. Ou, pelo menos, fico com as ideias mais arrumadas.

Por fim, o journaling é provavelmente a técnica de autocuidado mais acessível: não custa dinheiro, pode ser praticado a partir de qualquer lugar e a qualquer hora. Para quem tem uma profissão ligada à escrita, esta técnica é ouro sobre azul, uma vez que a escrita implica não só prática, como também disciplina. Treine a sua mente para ser consistente naquilo que contribui para o seu bem estar. Só custa ao início e, depois de ver os benefícios, nunca mais irá querer parar.

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