Hayley Atwell detalha manobras perigosas que fez com Tom Cruise
A atriz britânica entra em destaque nesta grande estreia de mais um filme da saga “Missão Impossivel”. Numa conversa, Atwell falou-nos dos desafios da sua personagem, detalhando ao rigor como foi filmar acrobacias em Roma.
Hayley Atwell é um dos nomes fortes da nova Missão Impossível, de Christopher McQuarrie, como Grace, uma agente que não é leal a ninguém, e usa as suas capacidades a pedido de quem tenha dinheiro para as pagar, sem fazer perguntas. A sua vida de independência torna-se num caos quando um trabalho errado a deixa numa situação difícil e ela dá por si a fugir do perigo com Ethan Hunt (Tom Cruise). Tão diferentes como o óleo e a água, este par é forçado a juntar-se numa corrida para corrigir um erro catastrófico. Mas Grace não está acostumada a trabalhar com outros…
Atwell é uma das atrizes britânicas mais amadas, com uma carreira impressionante no palco e nos ecrãs. Recebeu três nomeações para os prémios Olivier Award pelo seu trabalho no teatro e é adorada pelos fans de todo o mundo pelo seu papel de agente Peggy Carter no universo cinematográfico da Marvel. A sua chegada em Missão Impossível - Ajuste de Contas Parte Um, vai mexer como nunca na vida de Ethan Hunt.

Christopher McQuarrie descreveu Grace como sendo "uma força caótica da natureza". Como é que a descreveria? E como descreveria a dinâmica entre a Grace e o Ethan?

Ela é uma agente talentosa, uma loba solitária. A sua dinâmica com o Ethan é muito engraçada. A Grace e o Ethan são duas pessoas que não devem estar juntos dentro do mesmo quarto, mas que são forçados a estar porque têm um objetivo em comum. Quanto mais ela o provoca, mais engraçado se torna. Desde o início, o Tom [Cruise], o McQuarrie e eu falámos sobre as personagens. Estávamos a trabalhar na linguagem do nosso filme. Eles queriam ter um elemento cómico que não parecesse uma farsa e não fosse forçado, mas ao mesmo tempo não parecesse "fofinho". No contexto do enredo, e no contexto destas acrobacias, surgiam ideias e experimentávamos diferentes diálogos. Eles ouviam a maneira como eu dizia as minhas falas com base no meu ritmo vocal e sugeriam linhas que realmente ajudavam a minha personagem a sobressair. Eu observei o Tom e o McQuarrie como um falcão, acreditava no processo e ouvia atentamente o que eles estavam entusiasmados por encontrar nas cenas. A relação de Grace e de Ethan tinha uma qualidade particular. Eles eram pessoas muito diferentes, vinham de origens diferentes, mas tinham um equilíbrio muito parecido.
Em que sentido?
Por exemplo, a Grace e o Ethan têm uma sequência de 20 minutos de perseguição de carros em Roma, e nós fizemos a maior parte dela em dois planos (conjuntos) – um com a reação dela e um com a reação dele. Nós trabalhámos juntos. Mas também tentámos arranjar momentos em que mostrássemos que a Grace não o conhecia. Ele meteu-a num pequeno Fiat amarelo para tentar ser fixe. Mas quanto ele conseguiu, ligou o limpa pára-brisas em vez do carro. Então, aos olhos dela, a Grace pensou, "Quem é este homem? Eu acho que ele não sabe o que está a fazer". É sobre encontrar pequenos momentos de comportamento físico em que o público conseguisse ver que a Grace realmente não confiava naquele homem.


A sequência do comboio no filme parece espetacular, com gravidade zero, locomotivas a cair de pontes e muito mais. Como é que foi gravá-la?
Esta é uma grande sequência no filme e foi muito difícil de filmar. Basicamente, cada carruagem do comboio [nessa sequência] tem a sua própria história. Eu e o Tom [Cruise] tivemos de ultrapassar os diferentes obstáculos à medida que iam surgindo – a carruagem da cozinha era muito diferente da carruagem da sala de jantar e assim em diante. Há toda uma sequência onde o comboio é vertical e eu e o Tom estamos no topo, em cima das plataformas e a olhar para toda a extensão de uma carruagem. Foi surreal. O terror na minha cara? Não era preciso representar nada.
Quais foram as exigências físicas dessa sequência para si?
Bem, a carruagem começou na horizontal e demorou seis segundos a ficar inteiramente vertical. O Tom e eu estávamos posicionados no fim de uma das carruagens do comboio e na ação tínhamos seis segundos para subir numa grande inclinação. Ambos tínhamos umas barras para nos segurar. Fizemos isto algumas vezes. Se alguma vez fizerem corridas em inclinação, vão saber que se cansam muito depressa. Eu acho que foi a terceira ou quarta vez que o fizémos, e depois disso estávamos ali suspensos [nos cabos] enquanto a carruagem voltava para baixo a ser reposta. E o Tom olhava para mim e dizia, "Estás bem?" e eu olhava para ele, fora de mim, e dizia, "Eu não sei. Eu nem sei o que estou a fazer." [risos] Ele olhava para mim e dizia, "Tu deves estar a sofrer da fadiga da adrenalina neste momento. Precisas de alguma coisa?" eu só olhava para ele e dizia outra vez, "Eu não sei." Ele disse, "Ok, precisas de algum chocolate?" e eu disse, "Sim. Sim, isso é literalmente tudo o que eu sei. Que eu preciso mesmo de chocolate." E passados trinta segundos depois ele apareceu com uma maravilhosa caixa de chocolates. Agarrei neles e pensei, "Eu consigo!" De alguma forma ajudou-me a encontrar uma reserva de energia que eu não sabia que tinha. Por isso, paguem-me com chocolates.


Simon Pegg diz que a ironia é que, apesar de ser o Tom a fazer quase todas as acrobacias, ele está muito preocupado com os colegas quando estão a fazer acrobacias. Concorda?
Ele é como um treinador de boxe no ringue. Antes de fazermos qualquer coisa, o departamento de acrobacias explicava o que nos iam pedir para fazer, e o Tom dizia, "Ok, vamos lá ver. Deixa-me ver". Ele conferia tudo por nós. É assim que ele é. Sim, ele faz coisas extraordinárias, mas também é assim nos detalhes da sua própria preparação. A sua abordagem nunca é desleixada. Eu acho que é o que acontece quando se atinge um nível de competência; ele treinou e praticou vezes e vezes sem conta, o que significa que consegue fazer tudo parecer espontâneo. Ele sabe como viver com o seu corpo. Ver a sua abordagem é muito inspirador. Se eu estiver a trabalhar com alguém que faz estas coisas, mas que ficasse muito nervoso ou desleixado, isso criaria em mim um medo que provavelmente levaria a conter-me mais. Com ele, sinto-me segura. Como se conseguisse ir em frente, correr esses riscos.
A Missão Impossível é feita de uma forma única na produção de filmes de grande sucesso, não trabalhando a partir de um guião, mas desenvolvendo as personagens à medida que se filma. Como é que descobriu isso?
Quando entrei no estúdio não fiquei surpreendida porque me disseram como iria ser. No teste de ecrã, McQuarrie tinha-me escrito dez páginas de diálogo. O Tom tinha-as decorado, as câmaras estavam ligadas. Gravámos e depois o Tom disse, "Queres tentar uma em que ela retenha mais informação?" Talvez trocarmos a última frase para o meio da cena?" Estes senhores estão sempre, sempre a trabalhar. Por isso, como a audição foi assim, eu pude ver como eles tinham uma relação simbiótica em que falavam uma linguagem comum e conseguiam acabar as frases um do outro. McQuarrie e Tom estavam constantemente a trocar ideias entre eles. Nunca se fixavam só numa ideia, estavam sempre à procura de mais. E foi assim que aconteceu no cenário.

O que é que isso significa para si como atriz?
Dá-me a oportunidade enquanto atriz de chegar e não ficar apenas no meu canto a dizer as minhas falas, mas sentir que posso experimentar uma série de coisas. Porque era seguro fazê-lo, não havia julgamento, não sentia que podia falhar. Isso significa que tens acesso a essa mentalidade infantil de apenas brincar. É tão revigorante para um ator… Foi muito inclusivo. O Tom e o McQuarrie estavam sempre tão envolvidos. Iam até à pista de corridas ver como eu estava a treinar [com o carro], para ver como estava a correr a minha corrida. Eles iam ver e trabalhar as coisas. Coisas como, "Será que ela consegue fazer a corrida completa e segura, mas também atuar ao mesmo tempo, de uma maneira que a sua personagem não pareça que não sabe o que está a fazer?" Com base no que viam, a personagem surgia. Acontecia o mesmo quando eu estava a treinar uma sequência de luta.
Como descreveria o estilo de luta da Grace?
Era sobretudo corpo a corpo, socos e luta. Mas, a certo ponto, o meu professor deu-me duas facas e disse, "Agora faz isso". E foi mais rápido. O que aprendi, que já conhecia do meu trabalho, é que adoro adereços. Eu posso fazer coisas com adereços que podem transmitir um traço de caráter. E ver que sou rápida com coisas nos meus dedos fez com que o Tom e o McQuarrie dissessem: "A Grace pode fazer truques de magia. Será ela uma carteirista?" Foi uma forma fascinante de trabalhar. Mas, também, eles estão muito conscientes de que se tem de gostar de o fazer. Temos de amar fazê-lo. Se eu der um pontapé, mas não gostar de o fazer, não vamos usar essa cena. Mas se eu estou a gostar de fazer truques de magia, ou saltar de costas para a ponte, e eu estou a gostar, então sabemos que vou continuar a fazê-lo, take após take, de uma forma dinâmica, enquanto adiciono elementos à performance.

Rebecca Ferguson tem sido muito elogiada pelo que fez com a personagem de Grace. Como é que foi para si, juntar-se à família Missão Impossível?
Eu adorei absolutamente tudo. Amei. E a Rebecca é tão poderosa. Ela conhece este mundo e eu entrei como uma estreia. A Rebecca tem uma tranquilidade extraordinária que lhe dá uma autoridade natural perante as câmaras, o que é muito diferente da energia da Grace. A Grace está um pouco mais vigilante a toda a hora. Ela está constantemente a observar o que a rodeia, ela não sabe bem o que está ali a fazer. Muitas das vezes, ela só quer sair de onde está! Por isso, é uma energia diferente. Mas eu acho que é isso que a Missão Impossível faz, e que fez tão bem neste filme. Tem diferentes e distintas personagens femininas. Temos a Vanessa Kirby, que desliza. A sua voz é como seda, e ela é como um copo alto de champanhe. Temos a Pom Klementieff, que é a assassina, brusca, que está sempre a absorver tudo o que está à sua volta para poder matar o mais rápido possível. As quatro são personagens muito diferentes, com energias diferentes. Divertimo-nos todas imenso.

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