E os nomeados para o Óscar de Melhor Guarda-roupa são…
O figurinismo de Hollywood tem uma longa história com um denso enredo. Divas e tendências de moda à parte, “vestir” um filme representa um intenso trabalho de investigação e preparação que também é contemplado por alguns prémios da indústria do cinema.

Em plena época de cerimónias de entrega de prémios de cinema contam-se nomeações e aprumam-se galardões. Enquanto filmes, atores e realizadores somam críticas, destacamos aqui uma categoria que parece passar desapercebida bem à vista de todos e que, ao longo dos anos, tem rompido estereótipos e batido recordes nesta indústria: o Figurinismo. A importância da roupa no cinema vai muito além do frenesim da passadeira vermelha, porque tem um papel fundamental na narrativa de cada história. Antes do mundo ser a aldeia global que hoje conhecemos onde se busca a originalidade e elogia a diferença, em meados do século XX Paris ditava a Moda e, na era dourada da Alta-Costura (a década entre 1947 e 1957 em que Christian Dior esteve à frente da sua casa de moda) os criadores de moda eram os gurus da arte de bem vestir. As novidades e a fama dos criadores atravessavam o Atlântico para os Estados Unidos com a mesma facilidade com que as celebridades americanas reforçavam os seus guarda-roupas em Paris. Nomes sonantes como o próprio Dior, Gabrielle Chanel e Hubert de Givenchy (cuja amizade com Audrey Hepburn levou à criação de vários guarda-roupas) tentaram a sua incursão no mundo do figurinismo de Hollywood, mas com sucessos limitados. Os Estados Unidos também tiveram a sua era dourada só que foi no Cinema (aproximadamente entre o início da década de 1950 e o final da década de 1970). O écran que se tornou uma janela para mundos paralelos, apresentava ao público as suas divas preferidas em personagens com imagens cuidadosamente trabalhadas e o resultado foram ícones inspiradores. Parte do segredo deste sucesso estava nos figurinistas que tanto vestiam as suas atrizes-estrela nos filmes como na vida real e ganharam mesmo o estatuto de criadores de moda. Travis Banton tem os créditos de ter criado o look de Marlene Dietrich, Gilbert Adrian começou a sua própria marca de moda – Adrian, Ltd, Helen Rose foi a criadora do vestido de noiva de Grace Kelly, e estes são apenas alguns nomes mais sonantes.
Com tanto talento numa indústria grandiosa e em crescimento não tardou a ser fundada uma associação de figurinistas, a Costume Designers Guild (CDG), em 1953 por 30 profissionais. Hoje inclui cerca de 875 membros que trabalham por todo o mundo e não apenas em cinema e televisão, mas também em anúncios, no mundo da música e até da animação. A CDG tem o seu próprio programa de entrega de prémios, mas há mais. Os prémios Emmy celebram o Melhor Design de Figurinos de Uma Série desde a sua edição de 1969 e, atualmente, este tema divide-se em diferentes categorias consoante os concorrentes de cada ano. No Reino Unido, a cerimónia de entrega dos Bafta’s começou a distinguir o Melhor Design de Figurino do ano em 1964. Mas a primeira destas instituições a despertar para a importância dos figurinos foi a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos da América e, em 1949, foram entregues os primeiros dois Óscares na categoria de Melhor Design de Figurino, porque durante os primeiros 19 anos os filmes a cores e os filmes a preto e branco concorriam separadamente (com exceção dos anos 1957 e 1958, que, numa tentativa de reduzir categorias, juntou os dois tipos de filmes).

Os prémios que distinguem o melhor do cinema para todo o mundo ver têm nesta categoria uma caixinha de surpresas. É nela que se enquadra a mulher recordista da estatueta dourada, com oito Óscares e 35 nomeações: Edith Head. Vestiu divas, galãs, deixou a sua marca no cinema e também na moda e trilhou o caminho para todos os que lhe seguiram. O Figurinismo será uma das poucas categorias em que o género não importa e a tendência é maioritariamente feminina. Na mais recente edição desta cerimónia fez-se novamente história. Em 2019 Ruth E. Carter tornou-se a primeira mulher negra a ganhar um Óscar nesta categoria pelo guarda-roupa do filme Black Panther (2018). O universo Marvel até pode não ter sucesso nos prémios de cinema, mas os filmes de fantasia são uma das tendências preferidas de quem premeia figurinos. Aliás, o conservadorismo que tantas vezes é apontado às escolhas da Academia, não afeta os critérios do guarda-roupa. É caso para até para dizer que os seus membros gostam de ser surpreendidos, como provam as vitórias para os filmes Star Wars – Episódio IV, Uma Nova Esperança, o primeiro filme da saga lançado em 1977 que valeu o Óscar de Melhor Design de Figurinismo para John Mollo; As Aventuras de Priscilla, Rainha do Deserto (1994); O Senhor dos Anéis: O Regresso do Rei, que em 2004 ganhou os 11 Óscares para as quais estava nomeado, ou mais recentemente, Alice no País das Maravilhas (2010), Grand Budapeste Hotel (2014), Mad Max: Estrada da Fúria (2015) e Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los (2016).
Outras das tendências preferidas são os guarda-roupas que retratam épocas históricas ou décadas do século passado. As indumentárias de época, como os séculos XVII, XVIII e XIX, implicam um intenso trabalho de pesquisa visual e técnica, cujo resultado acaba por encher o ecrã e dar às roupas um papel de prestigio no filme. Assim como a reprodução exímia do look de uma década do século XX ajuda a localizar imediatamente uma narrativa no tempo e no espaço. A Academia de Hollywood tem até um certo "fraquinho" pelos Anos 20, como provam os Óscares atribuídos aos guarda-roupas dos filmes O Grande Gatsby (1974 e 2013), O Artista (2011), Chicago (2002) e All That Jazz (1979). Parecem ficar de fora das preferências (e também das nomeações e dos prémios) todos os guarda-roupas contemporâneos. Recentemente talvez Eu Sou o Amor (2009) e O Diabo Veste Prada (2006) sejam os casos de registo, deixando Patricia Field, responsável pelo guarda-roupa deste filme, bem como dos filmes e últimas temporadas da série O Sexo e a Cidade, com os suspiros de desejo do público como reconhecimento do seu trabalho. Atualmente, há quatro nomes que se destacam entre tantos talentos: Milena Canonero (que assina o guarda-roupa de Marie Antoinette, entre outros), Collen Atwood (Memórias de Uma Gueixa), Sandy Powell (The Young Victoria), Mark Bridges (Linha Fantasma) e Jacqueline Durran (Anna Karenina).
Para a cerimónia de entrega dos Óscares deste ano os nomeados são: O Irlandês (por Sandy Powell e Christopher Peterson), Joker (pelo veterano Mark Bridges), Mulherzinhas (por Jacqueline Durran), Jojo Rabbit (por Mayes C. Rubeo) e Era Uma Vez… em Hollywood (por Arianne Phillips), Que surpresas reservará a entrega da estatueta deste ano?


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