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E não viveram felizes para sempre: os bastidores do divórcio

O casamento é um contrato a prazo? Como se pode renová-lo? O que leva a um divórcio? Que mentiras se contam? E que culpa pode assumir a família? Estas e outras pertinentes questões são-nos explicadas pelo psiquiatra José Gameiro e as respostas são surpreendentes.

Foto: Pexels
03 de julho de 2020 às 07:00 Isabel Stilwell

É mentira que, "hoje em dia", os casamentos são descartáveis e que as separações se fazem sem a menor contrariedade, atiradas por cima do ombro sem que se volte a olhar para trás. Quem o garante é o psiquiatra e terapeuta familiar José Gameiro que, há 40 anos, observa "à lupa" o esforço de tantos casais que procuram ajuda para manter e fortalecer as suas relações, apesar dos desafios de uma infidelidade, dos efeitos colaterais dos filhos, da rotina e dos desencontros que os "atropelam". Está consciente – e recorda-o sempre que vai a um casamento! – de que muitos não ficarão juntos "até que a morte os separe", mas lembra que mesmo os casais que se divorciam estiveram juntos, em média, cerca de 17 anos. E se uma separação bem feita não o assusta, José Gameiro acredita que muitos "óbitos" podiam não ter sido decretados se os casais tivessem sido "agarrados" mais cedo.

 1. Bastidores de um divórcio

É possível preparar as pessoas para o casamento?

Na fase do namoro? Suspeito que não porque a verdadeira experiência matrimonial implica viver a dois e é difícil prepararmo-nos para o que não conhecemos. O namoro é um treino muito incompleto para a relação. É claro que dá algum conhecimento do outro, mas é depois de estarem em conjunto que as coisas se começam a complicar. É muito fácil gostar de alguém. O mais complicado é viver com ela.

Mas, hoje, a maioria das pessoas que se casam já viveram juntas. Esses casamentos duram mais?

 Não temos dados, mas aparentemente não. Como, também, o número de divórcios entre os casamentos católicos é equivalente ao divórcio entre os casamentos pelo civil. Complicam-se, sobretudo, depois do nascimento dos filhos. Manter o casal e a família ao mesmo tempo é difícil.

Costumamos falar de casal e de família como se fossem sinónimos...

É exatamente porque as pessoas imaginam que são a mesma coisa que as coisas correm mal. São entidades separadas, embora interligadas, obviamente, e exigem um trabalho individual.

Quando as pessoas casam ou decidem viver juntas, fazem-no para ver "se isto dá"?

Não. Numa e noutra situação acreditam que é para sempre. Ao fim de um tempo a relação desgasta-se e toca aquilo a que chamam o amor e que ninguém sabe muito bem o que é. Muitos conseguem reinventar a relação, outros chegam ao fim da linha e percebem que "esta pessoa já não me diz nada".

Há a ideia de que esse "fim de linha" é muito curto…

Mas não é verdade. É mito. São aquelas pessoas que dizem: "No meu tempo…" É claro que um casal sem filhos que se quer separar, separa-se mais depressa do que aquele que tem filhos. Mas as separações implicam muito sofrimento. Sobretudo um primeiro casamento. O segundo não será tanto assim, pois é assumido como sendo para a vida. É um projeto idealizado que quando termina deixa uma sensação de falhanço. E quando há filhos, mais doloroso é. Há uma grande preocupação em poupá-los, em pensar que se vai aguentar tudo em nome deles e, mesmo quando a decisão está tomada, em escolher a melhor forma de o fazer. Os homens, que são hoje pais muito mais envolvidos na vida dos filhos, têm um medo horrível de perder o contacto diário com eles. O divórcio acontece, em média, 17 anos depois do casamento. Não é às primeiras que se desfaz.

Os casais vêm ter consigo decididos a reconstruir o casamento ou para pedir o aval de um "especialista" à separação?

De forma simplista, eu diria que há quatro grandes grupos que procuram terapia: os casais em crise aguda, os casais em crise crónica, os que casaram pela segunda vez e, por fim, os que querem um "bom divórcio". Os casais em crise aguda, a maior parte devido a um caso de infidelidade – são apanhados muito mais depressa no tempo dos telemóveis e das redes sociais –, são aqueles com quem mais gosto de trabalhar e com um melhor prognóstico. Chegam depois de um mês ou dois da "explosão", já acalmaram um bocadinho e decidiram que querem tentar ficar juntos.

Está com um ar empolgado. Porque é que são os que gosta mais?

Exatamente porque um casal em crise aguda com um problema novo, por muito complicado que seja, está mais aberto a mudar. Ainda não cristalizou. Quando os problemas se tornam crónicos, quando um casamento entra em "piloto automático" e as pessoas já não sabem porque é que agem como agem, é mais difícil. Aí, ou desligam o "piloto [automático]" e tentam assumir de novo o controlo do casamento, ou estão "fritos".

2. As "nuances" da traição

No imediato, quem foi traído está provavelmente disposto a tudo para "ganhar" ao rival, mas a médio prazo não vai cobrar indefinidamente a traição?

A minha experiência diz-me que não. Para muitos casais este é um momento de redescoberta, inclusivamente na cama. O orgulho ferido dos homens pode levar mais tempo a sarar porque ainda há muitos estereótipos de género nestas coisas, inclusivamente naquilo que eles e elas consideram traição. Para as mulheres, ele trai-a a partir do momento em que troca mensagens com outra e se encontra com ela, mas para os homens a traição só existe quando há uma relação sexual completa. E as mulheres são muito mais espertas a "vender-lhes" o que aconteceu porque dizem que foram só uns beijos e uns abraços e eles ficam na dúvida, e às vezes acreditam. Eu não! Não digo nada, claro, mas acho graça. Mas é preciso fazer uma ressalva – só aceito fazer terapia a um casal que rompeu com a relação extraconjugal e decidiu que quer apostar no casamento.

Acredita quando lhe dizem isso? Não é também enganado?

Já aconteceu e a senhora ainda me disse "Vocês são todos iguais!", acusando-me de "estar feito" com o marido dela [ri]. Mas é raro. Aliás, faço esta exigência mesmo aos casais que não recorrem à terapia por um caso de infidelidade e que podem estar a esconder uma relação paralela. Não é possível uma terapia conjugal nessas condições. Senão é uma hipocrisia e estou a trabalhar em falso. Também não vou na conversa de que há relações de coito sem carga emocional. Essa coisa das "quecas tipo copo de água", como se diz. Mesmo nos homens que, supostamente, seriam capazes de fazer essa distinção.

Mas a pergunta é feita à frente do outro?

A primeira sessão de terapia é em conjunto e, nessa altura, eu deixo bem claro que quem decide se há condições, ou não, para uma terapia conjugal, sou eu! Depois explico que vou receber individualmente cada um deles – e aquilo que se passar nessa conversa ficará entre nós. E nessa sessão individual faço duas perguntas-diagnóstico. Uma delas é se existe uma relação extraconjugal e se foi esse o motivo para a terapia, se já acabou. Não faço juízos, quero é saber se está resolvido.

E se alguém lhe diz: "Tenho realmente alguém, mas não quero que ela/ele saiba."

Não faço a terapia. Não denuncio a confidência, mas quando volto a reunir com o casal digo que não há condições para trabalharmos juntos e que é preciso a situação amadurecer. Não posso revelar o segredo, nem explicar mais, "chuto para canto". Mas é raro.

Qual é a segunda pergunta-diagnóstico?

Nessa entrevista individual pergunto também: "Se soubesse que ele/ela tinha outra pessoa, o que sentia?" Se a resposta for "Alívio", porque sabia que ficava bem, porque sentia menos culpa de ser ela a desejar a separação, então também não há nada a fazer.

Os casais crónicos sofrem de "facadas" ao casamento, ainda mais difíceis de resolver?

Chegam já com a crise muito avançada, às vezes com mais de 10 anos de desentendimentos. Sofrem, geralmente, dos dois grandes inimigos do casamento: a crítica sistemática e os problemas com as famílias de origem. Têm um modelo de casamento muito enquistado. Por vezes, um deles está com a autoestima muito em baixo e com um historial de coisas graves, como, por exemplo, impedirem os avós de ver os netos. O sucesso da terapia é mais baixo.

A crítica de que fala é quando criticamos a pessoa, em lugar do seu comportamento?

Todos criticamos aqueles com quem vivemos. Há coisas que nos irritam e tentamos sempre mudar o outro. Mas a crítica que corrói qualquer casamento é quando rebaixamos sistematicamente o outro com "Tu não fazes nada de jeito", "Não aprendes!", "Estava-se mesmo a ver...", em lugar de criticar um comportamento específico. Nalguns casos fazem-no ambos, muitas vezes é só de um lado e o outro submete-se, mas vai ficando destruído. Felizmente, hoje as pessoas têm muito mais autonomia emocional e reagem dizendo "Ou isto muda, ou acabou-se". 

3. A sogra e outras "heranças" familiares

As pessoas tendem a repetir os modelos das famílias de origem. Devíamos olhar bem para a família do outro antes de casar com alguém?

Importamos modelos de relação emocional da família de origem, mas não são deterministas. Mas, para isso, temos de ter consciência de como o nosso modelo é diferente daquele em que o outro cresceu. Por exemplo, na minha família é tudo à napolitana: discutimos, gritamos uns com os outros, mas disso não vem mal ao mundo, mas na família dela há muitos não ditos, foge-se ao confronto, as coisas são ultrapassadas com o tempo, mas sem serem faladas. Quando estas duas pessoas chegam a um casamento é provável que à primeira discussão a sério – que provavelmente nunca assumiu aquelas proporções no namoro – ela fique paralisada, não sabe discutir daquela maneira e ele se exaspere com a passividade dela que interpreta como estando a mandá-lo à "outra parte". Então quando estamos a falar do modelo de educação dos filhos, esta diferença ainda se torna mais intolerável.

A solução é chegarem a um consenso sobre um novo modelo aceite por ambos?

Não, necessariamente. Cada um pode ficar com o seu, mas às claras. Tem é de ser aceite pelo outro. Têm de perceber o que é possível mudar e o que não é possível mudar, deixando cair a ideia de fusão que é uma mentira. Nunca será possível. Costumo dizer que [se] ninguém espera que alguém mude de clube de futebol porque é que acham que tudo o resto pode ser mudado? O importante é que aprenda a gerir as expectativas. Num casamento não há verdades e mentiras absolutas. Importa é como cada um sente as coisas. 

A família alargada pode ser um problema. Mas quando se casa com mais de 30 anos, como agora acontece, não se perdeu esse poder controlador?

De maneira nenhuma. Em Portugal, as famílias alargadas estão muito presentes, mesmo a 300 quilómetros de distância. As sogras intrusivas continuam, as sogras que desqualificam as noras, sobretudo quando nasce o primeiro neto, fazem coisas horríveis, aparecem em casa dos filhos sem avisar. E as noras, por seu lado, reagem com a sensibilidade à flor da pele. Porque a sogra se "atreveu" a trazer um bolo...

Confesso que nunca percebi… A minha trazia o almoço completo e eu agradecia.

Digo-lhes o mesmo: aproveite a sogra que tem. Mas elas não querem! Há uma competição aberta. Os sogros são mais fáceis. No meio disto, os maridos não sabem o que fazer. 

Só têm uma safa – criticar a mãe. Seguras deles, elas até vêm em defesa da senhora... 

Não é fácil criticar uma mãe. Eu na terapia digo "Não se meta com a sua sogra"… Sogra 10 e você leva zero.

Por falar em ciúmes. Os ciúmes podem corroer uma relação?

Temos de distinguir entre ciúmes "normais" – "Ele passa a vida a olhar para as outras mulheres" – que se resolvem em terapia de casal e ciúmes patológicos – "Ontem fomos a um restaurante e percebi que ele tem uma relação com a empregada". Quando eu diagnostico delírio de ciúme, digo claramente à pessoa que ela precisa de ajuda individual e, até, de ser medicada, o que raramente é bem aceite. Até que essa pessoa esteja em tratamento não há muito que uma terapia de casal possa fazer.

Na terapia cada um não tenta fazer de si um aliado?

Claro que sim, sobretudo num primeiro momento em que querem que diga que têm razão. Por isso é que um terapeuta tem de ser completamente neutro e acredito que, ao fim de tantos anos, eu consigo ter uma verdadeira neutralidade. Ajuda quando lhes digo que nos casais ninguém tem razão, embora perceba que um possa estar a sofrer mais do que o outro e que não estou ali para julgar ninguém. Vamos lá por sentimentos e não pela razão.

4. O medo de se ficar só

Nas sessões não se dizem coisas irremediáveis? Sentindo-se atacado perante terceiros, o atacado resiste a "sacar das armas" e atirar a matar? E, depois de ditas, como se apagam? 

Do género "Desprezo-te", "Nunca gostei de ti", "Na cama foi sempre uma porcaria"? Não dizem! Talvez porque procuro sempre que a tensão se mantenha baixa, senão "estamos feitos". Não é cortar a palavra. Podem falar à vontade, mas se um fala mais alto eu intervenho logo, não quero a "terapia do ranho" com choro e ranger de dentes. Uma sessão corre bem se entrarem aos gritos e saírem a falar calmamente.

Não é uma constante o lamento de que "Dantes não eras assim?"

"Não és o homem que conheci"... Sobretudo da parte delas, sim. É verdade que os homens têm menos jeito para isto e que se as diferenças de género estão mais esbatidas, mas mantém-se ainda muito na forma como o relacionamento é vivido no dia a dia. Os homens instalam-se, colocam-se no registo da ajuda, chegam a casa e não têm paciência para as ouvir. As mulheres têm uma forma diferente de comunicar – é tudo em discurso direto, é preciso mais tempo. Eles ficam espantados quando lhes digo que têm de as ouvir, de se fazer interessados, que faz parte do "serviço conjugal". Numa relação, ambas as partes têm de fazer fretes. É assim mesmo. O "termóstato" do sexo é importante, mas não pode ser o único. É preciso que eles metam na cabeça que os gestos de afeto não têm de acabar numa relação sexual. Quando as mulheres sentem que um abraço é sempre um prelúdio de "festa à noite", nem abraços dão e é preciso cortar com essa associação de causa-efeito. Na cabeça de ambos.  

Enquanto se endeusa o passado ainda há esperança, mas quando se acha que foi tudo mau já não há volta a dar?

Pode ser só temporário. O casamento tem fases de grande seca e essa é uma coisa que é importante que os casais percebam: que há sempre fases chatas, mas que são ultrapassadas e volta a ser muito bom.

O medo de ficar sozinho pode levar a querer continuar um casamento falhado? Será que uma geração que, provavelmente, viveu sozinha antes de casar tem menos medo da solidão?

Não me parece que essa experiência anterior chegue para apagar esse medo. Há pessoas que não se separam por medo de ficarem sozinhas, medo de se imaginarem sem alguém. Quem tem filhos tem menos medo. E também continua a haver quem não se separe por razões económicas. Conheço muitos homens que tiveram de voltar para casa dos pais e que têm de ter os filhos em casa dos pais. São situações difíceis. 

5. Os lutos

 É comum ver as pessoas assumirem o estatuto de vítima depois de um divórcio... 

Costumo dizer que as pessoas não sabem explicar porque é que gostam de alguém ou até porque casaram… Mas quando se separam encontram 100 razões para o fazer. E tratam de semear essas razões, vão aos amigos, à família, e semeiam-nas. O casamento é muito protegido socialmente. Apesar do número de separações e de divórcios, a sociedade não quer que os casais se separem. E a reação a uma mulher ou a um homem que se separou é ainda completamente diferente.

Diferente, como?

Uma mulher sozinha é uma ameaça: as amigas não confiam nos maridos [ri]. Em "ene" casos, a mulher que acabou de se separar começa a receber telefonemas dos maridos das amigas que lhe perguntam se não precisa de conversar, se não quer ir almoçar para desabafar... Uma mulher à solta é um risco. Um homem sozinho não é uma ameaça. Dito isto, eles muitas vezes comportam-se como tontos, começam a ir para a noite, querem muito encontrar alguém porque têm muito mais medo de ficar sozinhos.

Há pessoas que se separam, apesar de não terem deixado de gostar uma da outra?

Algumas. Não deixaram de gostar. Deixaram de conseguir viver, o que é diferente. Por vezes voltam a casar e ainda não fizeram o luto da relação anterior porque pode-se perfeitamente gostar de uma nova pessoa sem ter feito o luto. Depois de um divórcio com filhos, há dois lutos que é preciso fazer.

O luto pela pessoa que se perdeu?

O luto pela pessoa de que se gostou, do projeto que se tinha com ela. Quando numa segunda relação, as coisas começam a ser mais difíceis, quem não fez o luto começa a sentir-se desesperado: "Porque é que não fiquei? Afinal isto é tudo igual." E este luto não é linear, não é uma coisa que acontece logo, e depois passa, tem fases. Vai e volta. Às vezes acorda quando morre o ex-marido ou a ex-mulher, apesar de a pessoa estar numa nova relação feliz. Pode ser demorado e complicado.

E o outro luto? 

O luto do "pacote", da família. "Separei-me, até me quis separar, mas aceito mal que os meus filhos tenham de viver ou comigo ou com o pai, nunca com os dois. Era tão bom quando estávamos todos juntos." E tenho medo que sofram por isso. É o luto da família idealizada, da primeira família. E depois, em Portugal, separamo-nos mal, o que não ajuda.

Separamo-nos mal?

São mal aceites as boas relações com os ex-cônjuges. É muito raro que seja possível que os pais e que os seus novos maridos ou [novas] mulheres estejam juntos num aniversário dos filhos e já nem falo no Natal. Pode não haver uma "guerra aberta", mas há um desconforto porque não se fecharam bem as relações anteriores. Quando as pessoas aceitam fazer uma terapia de casal para preparar o divórcio, e há cada vez mais pessoas que me procuram para a fazer, essas questões podem ficar mais bem resolvidas.

Erros a evitar num segundo casamento

"As terapias de segundos casamentos são muito diferentes. Chegam mais cedo para procurar resolver os disparates que fizeram. O mais clássico é irem viver juntos depressa demais. Não dão tempo para os lutos. Separarmo-nos leva tempo e sobretudo os homens são muito apressados. Dá asneira.

O segundo disparate é não perceberem que os primeiros tempos não vão ser fáceis, ao contrário do que aconteceu no primeiro casamento. Então se há filhos, de um ou de ambos, e então se forem raparigas, é quase certo. E um casal ainda sem maturidade enquanto casal pode perder-se nesta ‘guerra’.

O terceiro disparate é imaginar que são uma família clássica e que tudo deve ser feito da mesma maneira. Querem andar ao ‘molho’ sem perceber que, naquele momento, o que o filho quer é uma relação individualizada com o pai ou com a mãe e o ‘apêndice’ que está lá em casa não tem de se meter. A tensão e as discussões facilmente corroem o amor e a paixão, e a mãe, na dúvida, vai escolher os filhos. Tudo erros evitáveis."

As fake news do divórcio

As parangonas dos jornais continuam a anunciar a tragédia em variantes de "Mais de metade dos casamentos acabam em divórcio" numa verdadeira fake news.

De facto, quando lemos que em 2018, o último ano de que há dados, por cada 100 casamentos, 59 acabaram em divórcio, a conclusão parece óbvia. Mas o que não se diz é que esse indicador compara os divórcios registados num ano com os casamentos celebrados nesse mesmo ano, o que resulta na ilusão de um "casa-separa" mais rápido do que a própria luz. Contudo, o INE dá-nos conta de que os casamentos que terminaram em divórcio em 2018 duraram 17 anos, em média, ou seja, a maioria dos 20.345 divórcios registados em 2018 refere-se aos 58.390 casamentos realizados em 2001. E, assim sendo, a percentagem não é de 59%, mas de cerca de 35%. O que não é propriamente a mesma coisa.

Juntos antes de casar

Mais de metade das pessoas que casaram em 2018 já viviam juntas (59,8%), sobretudo na zona de Lisboa e a sul. Não admira que, também por isso, a idade dos "nubentes" tenha aumentado: em 2018, a idade média à data do primeiro casamento era de 34 anos nos homens (25 em 1980) e de 32 nas mulheres (23 em 1980).

Os verdadeiros crentes

Dos que casaram em 2018, cerca de 21% eram reincidentes. A que se soma uma boa notícia: ao contrário do que acontecia há uma década, hoje as mulheres também voltam a casar quase tanto quanto os homens, provavelmente mais livres do estigma que um segundo casamento acarretava.