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Divórcios ou bebés, o que acontece mais após uma pandemia?

Analisamos o que historicamente se sucede mais vezes de acordo com as estatísticas.

Foto: Magnolia Pictures | IMDB
27 de março de 2020 às 08:00 Aline Fernandez

Nas conversas com as amigas e na troca de mensagens em grupos por WhatsApp, as brincadeiras e partilhas de memes dividem-se em dois: as apostas de um baby boom após a pandemia do novo coronavírus – alguns estão até a chamar essa "futura" geração de Coronials, em referência aos Millennials – e há quem não para de falar em divórcio, a jurar que terá sorte se mantiver o casamento após o período de quarentena.

Embora seja impossível prever o futuro, é possível sim analisar as taxas de natalidade após pandemias ao longo da história e, se de facto, elas cresceram. "No entanto, a história sugere o contrário", explicou Jaimie Meyer, especialista em doenças infeciosas da Yale Medicine e professora assistente de medicina na Escola de Medicina de Yale, citada pela Cosmopolitan. Ou seja, a história mostra que provavelmente acontecerá o oposto que as conversas com os amigos prevêem. Haverá uma queda nas taxas de natalidade após o tão aguardado fim da pandemia do vírus Covid-19. "Dados epidemiológicos de outros períodos de stress e quarentena, incluindo fomes, terramotos, ondas de calor e surtos contagiosos como o ébola e a gripe influenza sugerem que durante eventos como alta mortalidade em toda a comunidade, há realmente uma queda nos nascimentos nove meses depois", detalhou Meyer. As análises ressaltam que até eventos que causam estragos num período de tempo muito menor, como furacões, travam novos nascimentos.

Um estudo intitulado Ligação entre picos de morte e declínios de nascimento. Parte 1: Evidências, de 2018, analisou estudos de caso desde 1860 a 2011 e confirmou que a queda nas taxas de natalidade não se limita a surtos contagiosos. Desastres de qualquer tipo, como o terramoto de Tóquio em 1923 e o 11 de setembro, também foram responsáveis pelas duas maiores quedas na taxa de natalidade, perdendo apenas para os números analisados após a pandemia de gripe de 1918. Porém, há uma esperança no fim do túnel. "Após a resolução do evento traumático, começando 10 a 11 meses após uma epidemia, as taxas de natalidade começam a recuperar", acrescenta Jamie Meyer.

Curiosamente, as crises internacionais nem sempre tiveram esse efeito coletivo na libido. Durante a Segunda Guerra Mundial, responsável pela maior perda de vidas de todo o século XX, o sexo casual foi tão endémico que foi "considerado uma ameaça à segurança nacional" pelo governo dos Estados Unidos da América, que alertou a população para Infeções Sexualmente Transmissíveis, tendo até iniciado campanhas de propaganda em massa.

Resta-nos aguardar nove a dez meses para contabilizar os bebés que surgiram do confinamento obrigatório. Este mesmo confinamento tem oferecido alguns sérios desafios até mesmo àqueles com os casamentos mais felizes e estáveis. Especialmente para casais que moram em casas pequenas, o novo cenário de distanciamento social e isolamento pode fazer parecer que nenhum dos dois tem muito (ou nenhum) espaço pessoal.

A maioria dos cônjuges passa agora a maior parte do dia separados ou um sai de casa para trabalhar. Agora, com o home office passam quase todo o tempo sob o mesmo teto, tendo de equilibrar a vida profissional e pessoal 24 horas por dia, sete dias por semana – adicione crianças pequenas ou até adolescentes no mesmo espaço – e pode ser uma verdadeira receita para o desastre. Ou o fim: o divórcio.

O jornal The Global Times publicou que a cidade chinesa de Xi'an registou um número recorde de pedidos de divórcio nas últimas semanas, com alguns distritos chegando ao número máximo de consultas disponíveis em escritórios do governo local. Acredita-se que o pico de solicitações para finalizar o casamento tenha duas explicações. Em primeiro lugar, vale a pena lembrar que a pandemia deixou muitos escritórios fechados durante as últimas semanas, o que quer dizer que podem estar a receber uma acumulado de solicitações atrasadas, agora que foram reabertos. A segunda opção é mesmo o confinamento devido ao novo coronavírus, já que muitos casais estão em casa ininterruptamente as mesmas semanas, o que pode ter gerado conflitos conjugais.

Além do atual enigma do vírus Covid-19  para os cientistas: os pesquisadores poderão avaliar se é bom ou mau para os casais passar tempo juntos em locais confinados em no meio de uma pandemia.

Em 2018, um estudo publicado pelo Conselho Nacional de Relações Familiares, dos EUA, descobriu que casais que moravam juntos antes do casamento tinham taxas mais baixas de divórcio no primeiro ano de matrimónio, mas índices mais altos de divórcio nos cinco anos seguintes. Já outro levantamento do Conselho de Famílias Contemporâneas da Universidade do Texas descobriu que viver juntos "protegia" contra o divórcio, mas outro da Universidade de Saint Mary, também no Texas, avaliou que não fazia diferença. Ou seja, não há uma fórmula mágica. "Uma mistura de tempo com amigos e familia, tempo juntos como casal e tempo separado para cada um aumenta a qualidade conjugal, assim como uma divisão igual entre o nosso círculo e atividades e os do nosso parceiro", afirmaram os psicólogos Rob Pascale e Lou Primavera, PhD e autores de Making Marriage Work, num artigo à Psychology Today.

Como passar o tempo com amigos ou família só será possível por telefone ou videoconferência, lembre-se que o segredo de qualquer relacionamento saudável é a comunicação. Michele Weiner-Davis, terapeuta de casamentos e famílias em Boulder, Colorado, disse à CNN que não importa tanto como os casais se comunicam durante o confinamento do novo coronavírus, mas simplesmente que tentam fazê-lo. Afinal, falta menos um dia que ontem para tudo voltar ao "normal."

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