Crónica Isabel Stilwell. “Filho, estes são os piores anos da tua vida!”
Sabe qual é o melhor presente de Natal que pode dar aos seus filhos, aos seus netos, aos seus alunos ou colegas mais novos? Informe-os, sem rodeios, que estão a passar os piores anos das suas vidas, os mais difíceis, mais cheios de dúvidas e ansiedades. Afinal, o melhor ainda está para vir!
Não estou a brincar, está estudado e comprovado e, se formos sinceros connosco próprios e não nos perdermos a dourar as memórias de um passado que nunca foi assim tão cor-de-rosa, sabemo-lo perfeitamente. As guerras com as amigas, o coração partido por amores não correspondidos, as dúvidas sobre que curso tirar, que profissão seguir, as batalhas campais com os pais e os irmãos, as borbulhas na cara, os medos e as fobias que escondíamos como conseguíamos, a hipocondria que nos tomava a cada dor mais desconhecida, na verdade a lista é infinita. Mas acometidos de uma espécie de amnésia andamos a pregar que a juventude é um tempo de festa, de oportunidades únicas, de euforia e liberdade, sublinhando a propaganda com um “Ai, se voltasse a ter a tua idade...”, dando-lhes a ideia de que o caminho que têm pela frente é um calvário.
Contudo, se desconfia das minhas conclusões, e sente necessidade de evidência científica para o que acabo de dizer, aqui a tem: Laura Carstensen, psicóloga e fundadora do Centro de Longevidade da Universidade de Standford, liderou um estudo ao longo de dez anos destinado a avaliar como o nosso bem-estar físico e emocional evolui ao longo do tempo, e afirma perentoriamente à revista Time:
“Quando na primeira aula do semestre, digo aos caloiros sentados à minha frente que estão a passar a pior fase das suas vidas, é indiscritível a expressão de alívio que se espelha no rosto daqueles 100 universitários. De facto, os últimos anos da adolescência e a década dos vinte são não apenas os piores – com as maiores taxas de solidão, ansiedade e depressão –, como aqueles em que todas as pessoas à sua volta repetem, constantemente, que têm de os aproveitar bem, porque são os melhores de uma vida inteira!”
É um mito que as redes sociais intensificam, dando a cada um destes desafortunados a ideia de que são os únicos que não estão permanentemente felizes, a quem a vida não corre maravilhosamente; os únicos que sentem dificuldades na escola, com os amigos e os amores. O que, obviamente, só mina ainda mais a sua autoestima.
Com base nestas revelações, tenho mais sugestões natalícias. Entregue-lhes também o 'embrulho' seguinte que também dará muita satisfação a quem ande na casa dos 30 anos: é que é a partir dessa idade, segundo a investigação de Laura Carstensen, que se começam a experienciar menos emoções negativas. Isto não significa que as positivas aumentem muito, mas apenas que as negativas baixam, o que tendencialmente permite que as pessoas se sintam mais equilibradas, mais em harmonia consigo mesmas.
E as boas notícias para os mais velhos continuam: os 40 serão ainda melhores do que os 30, e os 50 mais serenos do que os 40, num contínuo de melhoria do bem-estar emocional que vai até aos 60 anos. Para isso contribui o facto de que à medida que envelhecemos tornamo-nos menos egocêntricos, mais atentos aos outros e, como as nossas mãezinhas bem insistiam, descobrimos que quando ajudamos os outros, esses gestos altruístas aquecem-nos a alma. E dão-nos um sentido não só de pertença a uma comunidade mais alargada, mas também um sentido para a vida que é, afinal, o que andamos todos à procura.
Espere, ainda tenho um presente de Natal para os mais velhos, ou seja, para mim mesma. As articulações dos joelhos podem ranger de cada vez que se levanta, mas é entre os 60 e os 70 anos que a vida emocional atinge o seu clímax e a partir dai não volta a baixar significativamente. Laura Carstensen não nega que há muitos aspetos indesejáveis no envelhecimento, mas assegura que os piores efeitos secundários da idade são os físicos e não os emocionais. E é ela que assegura: “As pessoas passam a ter a consciência plena de que têm pela frente um tempo limitado, coisa que os jovens não têm, mas em compensação distinguem bem o essencial do acessório”. Essa distinção fundamental, dá-lhes mais foco, permite-lhes investir e ter mais confiança nas relações que são realmente importantes, desvalorizando os detalhes triviais que infernizam os mais novos. O resultado é menos raiva, tristeza, medo e ansiedade, se tudo correr bem. Além disso, tendem a ver, ouvir e recordar melhor as informações positivas do que as negativas, o que torna a vida emocional mais rica, diz Laura Carstensen, dando um exemplo:
“Sorrimos quando encontramos um amigo que não vemos há muito tempo, mas simultaneamente, sentimos os olhos marejados de lágrimas, porque tomamos consciência de como o tempo passa — é um sabor amargo-doce que não tem nada a ver com a euforia da juventude, mas que é muito profundo.” E nos torna mais gratos o que, digo eu, é o grande segredo da felicidade.
Bem, mas distribuídas estas boas notícias, pode agora reunir novos e velhos à volta da mesma mesa, porque a longevidade permitiu que, nunca como agora, tantas gerações coexistissem. Esqueça as lamúrias dos que asseguram que os jovens não querem saber dos velhos, e os velhos se exasperam com os jovens, porque esta investigação tirou também esse assunto a limpo, classificando-o como um mito. O que os dados indicam é que todos ganham quando se junta a ambição, a energia e as novas competências dos mais novos, com a experiência e a sensatez emocional dos mais velhos. Laura Carstensen propõe que tire a prova dos nove a esta afirmação formando uma equipa com elementos de várias idades e dando-lhes um desafio para resolverem juntos. Fica a sugestão para fazer desta ideia o programa do seu dia de Natal. Boas Festas.