Como apanhar um mentiroso? Os truques de um especialista
A sabedoria popular diz que mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo. É possível que seja verdade, mas só para quem sabe a que é que deve estar atento. Tudo conta: o vocabulário, a ordem em que a história é contada, a linguagem corporal. Leia e transforme-se num polígrafo com pernas.

Já todos nos questionámos, em algum momento da vida, se alguém nos está a mentir. Por outro lado, também já todos receámos ser apanhados numa mentira. Seria ótimo que o nariz dos mentirosos crescesse, como o do Pinóquio, e no entanto, se assim fosse, o mais provável era que andássemos todos com uma pala à Camões, por nos terem vazado um olho. Já para não dizer que seria preciso um creme de rosto feito pela NASA para suportar tanto estica-encolhe, antes que nos começássemos a parecer um papa-formigas.


Tudo isto para dizer que a mentira está em todo o lado. Mas há mentiras e mentiras. Em princípio, a tia Ernestina, toda contente à saída do cabeleireiro, não precisa que lhe digamos que o cabelo parece um capacete, mesmo que pergunte se está bonita e que insista para que digamos a verdade. Mas depois há as outras mentiras, aquelas que minam a confiança de amigos, familiares, parceiros e colegas de trabalho. Aquelas que nos fazem duvidar da nossa sanidade mental – "Ele disse mesmo aquilo ou fui eu que inventei?..." Quando dizemos que nunca mentimos, é, normalmente, a este segundo grupo de mentiras que nos referimos. Até porque, convenhamos, excesso de honestidade é falta de educação – experimente dizer à tia Ernestina o que realmente pensa sobre o cabelo dela e veja que bem que isso lhe corre. E é a estas mentiras que nos referimos quando desconfiamos que alguém não está a ser sincero connosco.

Felizmente, há formas de identificar um mentiroso que não incluem olhar, obsessivamente, para o nariz dele, embora haja outros sinais físicos a que devemos estar atentos. Kevin Colwell, professor de psicologia da Southern Connecticut State University que investiga a mentira, disse à revista Time que uma das coisas mais importantes para descobrir um mentiroso é lidar com a pessoa sem presunções prévias: "É preciso conversar com a pessoa sem assumir que ela está a mentir porque, se o fizermos, isso vai alterar a forma como ela interage connosco. É preciso falar com ela de uma forma que torna a conversa fácil". Dito em bom português, significa isto dar-lhe corda para se enforcar.


Posto isto, Colwell, que treina polícias e investigadores para detetarem mentiras, deixa-nos uma lista com as melhores táticas para apanhar um mentiroso:
- Atenção ao comportamento – Mentir causa uma reação de stress no corpo e, regra geral, isso nota-se no comportamento. Há pessoas que, quando mentem, não conseguem olhar o interlocutor nos olhos. Outras que brincam com as mãos ou o cabelo. Que passam a língua nos lábios ou que pigarreiam. Ou ainda que têm tendência para mexer o corpo, não conseguindo ficar paradas. Se conhecer o seu comportamento normal, vai conseguir perceber que a pessoa está a mentir quando começar a agir de forma diferente.
- O mentiroso repete-se – Uma pessoa que está a dizer a verdade conta uma história de forma natural, orgânica. Pode ir adicionando detalhes de que se esqueceu e responde com facilidade a perguntas. Já uma pessoa que esteja a mentir tem muito cuidado para não se contradizer. Pode falar muito, por vezes quase sem parar – até porque se não parar de falar não dá hipótese de lhe fazerem perguntas –, mas está sempre a repetir a mesma história.
- Demasiada cronologia – Um mentiroso conta uma história de forma cronológica. Já uma pessoa que diz a verdade, regra geral, começa com os detalhes mais importantes e vai evoluindo para os menos importantes, porque é assim que tende a recordar o evento. Quem mente tende a seguir um guião com princípio, meio e fim.
- Quando eloquência vem ao de cima – Esta é talvez uma das formas mais curiosas de apanhar um mentiroso. Parece que, quando as pessoas estão a mentir, usam um vocabulário mais complexo e sofisticado do que usam normalmente. Provavelmente, porque acreditam que isso lhes dá uma aura de credibilidade. Se o seu namorado começar a usar palavras caras, talvez seja caso para desconfiar.
- Responder a uma pergunta com outra pergunta – Se à interrogação "Comeste o meu chocolate?" ouvir em resposta "Por que é que eu havia de ter comido o teu chocolate?", saiba que, provavelmente, está perante uma mentira. E quem diz chocolate diz a vizinha do quinto esquerdo.

E porque aqui, na equipa da Máxima, gostamos muito de um dois-em-um, podemos sempre olhar para este artigo do ponto de vista oposto. Ou seja, se passa boa parte da sua vida a mentir – não estamos cá para julgar os leitores – pode sempre usar estas regras como um guia para não ser apanhado. Já agora, temos a certeza que é o sobrinho preferido da tia Ernestina.

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Anya Hindmarch é uma bem-sucedida empresária britânica no setor da moda, e agora autora de um livro com conselhos para uma vida bem vivida, incluindo o que vem na capa: porque tudo fica mais fácil com um cabelo acabado de lavar.