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Os livros do ano - a escolha da redação

Dos clássicos de sempre, passando pela poesia ou pela ficção contemporânea do ano. Estas são as escolhas da equipa da Máxima.

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19 de dezembro de 2024 às 22:04 Máxima

Anna Karenina, de Liev Tolstói. Por Clara Drummond

Minha meta é ler pelo menos um grande clássico por ano, e em 2024 o escolhido foi Anna Karenina. É um livro muito envolvente e gostoso de ler, com aspetos modernos que são relevantes até hoje, como as discussões sobre o papel da mulher na sociedade (infelizmente, hoje vemos políticos e influencers com mesmas posições de personagens que já eram considerados reacionários na Rússia do século XIX). É preciso dedicação para ultrapassar as quase mil páginas, mas vale a pena. 

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Mais Uma Desilusão, de Valério Romão (Abysmo). Por Diego Armés

Editado pela Abysmo já no fim de 2024, é uma monumental peça literária. Pode ser um poema épico, ou um desabafo num diário sem pausas para respirar, ou ainda um tratado anti-académico escrito por quem cresceu no Portugal dos anos 80 e 90. O mais provável é que seja uma ordem de despejo dada pelo autor a todos os sentimentos de frustração acumulados ao longo das décadas - mas tudo em modo simultaneamente irado e contemplativo, revoltado e conformado, acusatório e autoanalítico. Por Diego Armés

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Hamnet, de Maggie O'Farrell (Relógio d'Água). Por Isabel Stilwell

O meu preferido de 2024: Hamnet, de Maggie O'Farrell, escritora que não conhecia, mas que escreve de uma forma clara, poética, sensível, cheia de magia. Um romance histórico, muito livre, que nos leva ao mais fundo da relação amorosa de Agnes com o seu marido, William Shakespeare e ao insuperável luto pela morte do filho de onze anos (nunca vi uma descrição tão poderosa). Luto vivido de forma tão única e individual — Agnes fecha-se sobre a sua dor, Shakespeare afasta-se, e... escreve Hamlet. 

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História da Arte sem Homens, de Katy Hessel (Objectiva) Por Maria João Martins

Sendo tarefa ingrata escolher um livro do ano, não hesito em eleger História da Arte sem Homens (edição Objectiva), da jovem historiadora de arte, locutora e curadora britânica Katy Hessel. Pelas suas páginas, viajamos desde a Idade de Ouro da pintura holandesa no século XVII, ao impressionante trabalho das artistas latino-americanas do pós-II Guerra Mundial, passando pelas mulheres que estão a definir o conceito de Arte na atualidade. Este livro foi concebido como uma resposta à "Bíblia" do tema, The Story of Art, de Ernst Gombrich (1950), que foi publicado pela primeira vez sem mencionar uma única artista mulher. A destacar ainda a biografia de Maria Teresa Horta, da autoria de Patrícia Reis, ou o novo livro de Afonso Cruz, O que a Chama Iluminou.

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Histórias de Amor Moderno, de Maria Olívia Sebastião (Oficina do Livro). Por Rita Silva Avelar

Em 36 anos, esta foi a primeira vez que a Máxima editou um livro que compila uma série de crónicas. Por essa razão, e por espelhar tão bem os dilemas dos relacionamentos tanto de hoje como do passado, refletindo uma série de comportamentos sociais, é a minha escolha. Do amor platónico, à violência doméstica, à traição na amizade, ao romance à distância, o título da rubrica que todos os dias publicamos ao sábado ganha aqui várias conotações, e umas configuram mais desamor que amor. As vidas tão diferentes de todas e todos nós, aqui retratadas em microcontos deliciosos para ler a qualquer momento, pois não perdem atualidade.

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Azul de Agosto, de Deborah Levy (Relógio d'Água). Por Rita Lúcio Martins

Conta a história de uma pianista de cabelo azul que, após um desaire, entra numa espécie de imersão, tentando perceber quem realmente é. No entanto, e essa é uma das singularidades do livro, a sua incerteza nunca se converte em ansiedade. A personagem vai vivendo e as páginas estão impregnadas dessa vida. Sítios, objetos, sabores, impressões. Tudo descrito com detalhe, mas que parece sussurrado, como algo que paira. Como a mulher misteriosa que aparece e desaparece, prendendo-nos no seu rasto, como uma possibilidade de reinvenção repleta de melancolia. 

Maus Hábitos, de Alana Portero (Alfaguara). Por Tiago Manaia

Os primeiros capítulos deste livro entraram-me diretos para o coração. De tal modo que sentia palpitações, e queria saber tudo da pessoa que tinha escrito frases tão poéticas capazes de me comover até às lágrimas. A ação passa-se nas ruas de Madrid, nos anos 80. A personagem principal vive rodeada de mulheres esmagadas pelos hábitos de uma sociedade machista. Há a violência física feita contra elas (lembrou-me também a vida da minha mãe, em Lisboa, na mesma época) e há a violência que vive a personagem principal. Um menino que se veste de menina às escondidas na casa de banho. Sabe não ter nascido no corpo certo, procura respostas nas cantoras que vê na televisão ou em figuras do bairro que tiveram vidas atribuladas, mulheres trans ou travestis (como se dizia) capazes de instigar um sem fim de rumores rocambolescos nas ruas daqueles arredores. Há uma luz ao fundo deste túnel, é possível ser-se feliz quando não se pertence à norma?

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All Rhodes Lead Here, de Mariana Zapata. Por Safiya Ayoob

Este livro encaixa-se na categoria de young adult e pode ser considerado um romance, mas, ao lê-lo, percebemos que vai muito além da relação gradual que se constrói entre as duas personagens principais. Esta é a história de Aurora, uma mulher que regressa à sua terra natal, no Colorado, Estados Unidos, após anos a viajar pelo mundo. É uma personagem profundamente humana e cativante, e acompanhamos a sua jornada enquanto enfrenta o luto pela mãe, que desapareceu quando era muito jovem. As caminhadas pelas montanhas, pelos mesmos trilhos que a mãe percorria, tornam-se um símbolo de conexão e cura, uma tentativa de se aproximar da memória materna e de encontrar respostas dentro de si mesma. Este livro não é apenas sobre o amor romântico entre um homem e uma mulher, mas sobre diferentes formas de amor: o amor pela mãe, o amor por si própria e o amor pela vida. Mariana Zapata entrega-nos uma narrativa emocionante, repleta de introspeção, crescimento pessoal e uma ligação profunda com a natureza. Uma leitura que certamente ficará connosco muito depois de virarmos a última página.

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A Mão Que Cura, de Lina María Parra Ochoa (D. Quixote). Por Madalena Haderer

Quem encontrar laivos de realismo mágico nesta história não ficará surpreendido com a nacionalidade da autora: colombiana. Depois da morte do pai, a casa de Lina, a protagonista, enche-se de moscas. E não é a primeira vez que isso acontece na família. A dor que Lina, a mãe e a irmã partilham, afasta-as. Cria um enorme buraco negro nas suas vidas. À medida que o tempo vai passando, esse negrume vai ganhando corpo – um cheiro estranho que ocupa cada divisão da casa, unhas que raspam no chão, olhos que brilham no escuridão. A Mão Que Cura fala de poderes, profecias, bruxarias e superstições. É um romance sobre mulheres que se apoiam e entreajudam, que encanta os amantes do sobrenatural. Os mais realistas poderão lê-lo como uma alegoria daqueles tempos confusos, sombrios e dolorosos que se seguem à morte de alguém muito amado. A Mão Que Cura lembrou-me Gabriel García Márquez e levou-me de volta às semanas e meses que se seguiram à morte do meu pai – o melhor e o pior de dois mundos.

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