Chama-se Margaret A. Farley e é a freira americana que escreveu o livro Just Love: A Framework for Christian Sexual Ethics. Um livro que gerou polémica e censura por parte do Vaticano, sobretudo porque Margaret afirma que «a masturbação nas mulheres não levanta nenhumas questões morais e favorece as relações». O Vaticano considera ultrajantes as afirmações da freira e relembra que a masturbação é um acto de desordem grave. No seu livro, Farley também tece considerações sobre a homossexualidade, dizendo que «a orientação sexual das pessoas, bem como as suas relações, devem ser respeitadas». Aos ataques por parte do Vaticano, a freira recusou-se a responder por escrito, explicando que o livro não era um ataque à Igreja, mas uma reflexão sobre tabus morais. Vários teólogos apoiaram Margaret, explicando tratar-se de uma excelente estudante de Teologia.
Esta notícia lembrou-me uma coisa que ouvi em miúda e que nunca esqueci: «Os rapazes que se tocam nas partes ficam com pêlos nas palmas das mãos.» Parece uma memória vinda do século XVIII, mas ouvi este absurdo na década de 80 do século XX. Sobre as raparigas nunca ouvi ou li nada, na verdade nem sequer se falava sobre isso. Não é só no contexto da Igreja que a masturbação, nomeadamente a feminina, continua a ser um tema a evitar. Mesmo quando se tenta falar abertamente sobre isso, sente-se que tem de haver um esforço activo para ultrapassar séculos de silenciamento e punição. É difícil entender porque é que o tema «sexo», sobretudo a solo — que não tem qualquer risco, nem mesmo o da procriação—, causa tanto constrangimento dentro e fora da Igreja. Obviamente que sempre foi uma forma de controlo, com o intuito de manter a ordem social. O primeiro onanista célebre da história foi o filósofo Diógenes de Sinope, que o fazia por vezes em praça pública. Diógenes existiu séculos antes de Cristo. Quando o repreendiam por se masturbar em público, simplesmente dizia: «Oh! Mas que pena que não se possa viver apenas de esfregar a barriga!» A repreensão era apenas por fazê-lo publicamente, os gregos não condenavam a masturbação em privado. Nessa altura, a sexualidade no Ocidente era muito mais livre do que aquela que vivemos nos últimos séculos; a masturbação era considerada natural, embora fosse motivo de risota nas classes mais abastadas que usufruíam de convívios sexuais mais sofisticados. Em muitos aspectos continuamos a regredir ou num impasse de controlo moral absurdo. Muito graças à força que a Igreja continua a exercer sobre as pessoas. Felizmente, de quando em vez, aparecem criaturas ímpares dentro da própria instituição, que não fazem mais do que constatar o óbvio e acartar com as consequências disso — não sei quais terão sido para a Irmã Margaret A. Farley, mas, pelos vistos, não a fizeram calar-se, que é como quem diz, ter Papas na língua.* A cronista escreve de acordo com o Acordo Ortográfico de 1990.