Pedro Lima nasceu em Luanda, em abril de 1971, e de há tanto tempo nos "entrar em casa", já o sentimos como família. Pai de quatro filhos pequenos, dorme pouco e tem tempo para muita coisa. No momento desta entrevista, filmava a novela da TVI A Única Mulher, e era o ator principal de Kilimanjaro, uma peça da Companhia Nacional de Almada, encenada por Rodrigo Francisco."Até por defesa, as pessoas organizam-se em torno de preconceitos, procurando valorizar-se ou valorizar o grupo a que pertencem. Sente-se isto em todas as áreas da vida, nos preconceitos sociais, contra outros credos, outras etnias. Os preconceitos contra as mulheres, pelos quais subi a estes sapatos, existem em quase todos os nossos pensamentos, atos e omissões, de uma forma que parece quase genética de se enxertarem em todas as situações. Dito isto, é preciso sublinhar que estamos no bom caminho. Se sentimos que a violência contra as mulheres é maior, é porque estamos mais sensibilizados para ela, merece mais espaço na comunicação social, o que não aconteceria algumas décadas atrás. As telenovelas, porque chegam a milhões e milhões de espectadores, têm um poder enorme nessa mudança de mentalidades, e sinto que todos, do autor ao produtor, passando pelo ator, obviamente, temos consciência disso e fazemos o melhor que conseguimos para que a mensagem pedagógica passe. Umas vezes melhor, outras pior, como em tudo, não há histórias perfeitas. Mas o teatro tem o poder extraordinário de alertar consciências. Neste momento sou Harry, na peça Kilimanjaro, feita a partir de várias obras de Ernst Hemingway. Por outras palavras, sou Hemingway, e a relação do escritor com as mulheres não era a mais recomendável [ri]. É um ponto de partida, para se pensar a sério nestas questões."
Fotografia: Branislav Šimoncík. Styling: Jan Králícek / Dezembro de 2014 (Edição 315)