Tenho uma filha com 8 anos e um filho com 6 anos e sempre competiram muito um com o outro, com algumas discussões. Mas ultimamente tem sido demasiado. A minha filha é muito boa na escola (e em diferentes atividades) e quer ajudar o irmão que é mais desligado. Tentamos não nos meter nas guerras, mas tem ultrapassado os limites. Eu e o meu marido nem sempre damos os melhores exemplos… têm assistido a algumas discussões… mas como sairmos deste ciclo e ajudá-los a ter uma boa relação?
Cara Isabel, a questão que coloca é comum entre pais que estão atentos à qualidade da relação dos filhos… e os conflitos surgem também com alguma regularidade por diversos fatores. Deixo alguns pontos a considerar…
A fratria é um dos mais importantes "laboratórios de socialização" da vida, em que a criança vive e experimenta ações e emoções, preparando-se para as suas relações sociais exteriores à família. A rivalidade entre irmãos é natural, já que a fratria é uma base ótima de desenvolvimento de competências sociais. A partir destas rivalidades, as crianças têm a possibilidade de desenvolver competências ao nível de gestão de conflitos, gerir divergências e aprender a partilhar, contrariando alguma tendência para o egocentrismo. Pode haver a tentação dos pais entrarem na discussão e tentarem resolver, ou silenciar a discussão, como se fosse algo negativo, contudo este é um espaço deles que os ajuda a crescer e aprender a gerir relacionamentos.
De modo geral as crianças conseguem resolver os seus conflitos, desenham formas de negociação e soluções. A intervenção de um adulto deve ser efetuada apenas quando a rivalidade está a ser vivida de uma forma que vai além dos limites, ou a pôr em causa efetivamente o bem-estar de uma ou mais crianças envolvidas. Os pais poderão agir como mediadores: conversar, pedir a cada um para falar do que sente e pensa, e procurar que as crianças cheguem a um acordo (evitando ser o adulto a tomar uma decisão ou posição). De modo geral a rivalidade ou tensão vai sendo resolvida ao longo do tempo, e à medida que as crianças vão crescendo. A base da prevenção para os conflitos entre as crianças, passa por uma educação positiva para a cooperação e gestão de emoções, identificando os momentos de maior irritabilidade e estratégias diferenciadas para cada uma das crianças (tal como todas as estratégias de gestão de emoções não funcionam com todos os adultos, o mesmo acontece entre os mais pequenos) e fomentando formas construtivas de partilhar o seu ponto de vista. A importância de validar a existência de diferentes perspetivas passa pelo seu impacto na forma como as crianças podem também abrir espaço para uma solução alternativa, mais do que competir por "quem tem a razão".
Há que lembrar que os pais são a grande inspiração: a forma que se relacionam entre eles (estejam em casal ou separados), com a família alargada ou outros elementos da comunidade vai ser tida em conta. Os desabafos ou eventuais críticas que ouvem dos pais podem ser adotadas por eles na sua dinâmica. Apesar de não ser o único fator, este é onde os pais mais podem ter influência: agirem como exemplos relacionais, mostrando formas construtivas de lidar com as divergências ou com a frustração.
Outro ponto a ter em consideração passa pela forma como se lida com os diferentes filhos. Se os pais respeitarem as diferenças dos filhos, os seus talentos e limites, formas de sentir e estar, evitando as comparações (que podem levar a mais conflitos entre irmãos), e ajudando cada um, a partir das suas características específicas, a potenciar o seu melhor, e apoiar e celebrar o melhor do outro.
A harmonia que se viver em casa irá potenciar um clima de maior cooperação: promover atividades gratificantes para todos fora de casa, atividades que impliquem cooperação, mas também trazer leveza, brincadeiras e sorrisos às rotinas de todos os dias, bem como abrir o espaço social a mais familiares e amigos, pode ajudar.
Se o clima de tensão se mantiver, pode ser de grande ajuda recorrerem a um terapeuta familiar que vos poderá ajudar a gerir esta fase de maior turbulência.