É a segunda vez que este príncipe desaparece, e estes acontecimentos não são novidade, um registo da BBC de 2017 revela que no espaço de dois anos, três príncipes sauditas que viviam na Europa nunca mais foram vistos - todos críticos do governo do seu país. Este aparentes raptos têm sido comuns entre membros da família Real Saudita que pedem uma mudança de regime.
A revista Vanity Fair apurou que, momentos antes do voo que levaria o príncipe Sultan bin Turki II de Paris para o Cairo, o piloto do avião, Saud, estava aparentemente normal, conversou com o staff, mostrou fotografias dos filhos e falou do facto do príncipe saudita ir a bordo do seu avião. No entanto, houve alguns comportamentos que levantaram suspeitas - um membro da comitiva do príncipe, que era aviador não profissional, estava a conversar sobre treinos, e Saud não conseguiu acompanhar a conversa. O que é estranho para alguém que deveria ter experiência. Mais: o voo tinha uma tripulação de 19 pessoas, que é mais de o dobro do normal e toda a equipa era composta por homens. Mais: o comandante do avião mostrou interesse num relógio de um companheiro do prínicipe, com uma espécie de "farol" que chamava ajuda em caso de acidente, admiração sem sentido, sendo ele um piloto profissional.
Todos estes aspetos alertaram a equipa de proteção pessoal do príncipe. No entanto, Sultan quis entrar no avião, até porque tinha sido o príncipe Mohammed bin Salman, da sua família, a enviar o mesmo.
O avião foi afinal para a Arábia Saudita e o piloto revelou mais tarde que trabalhava para o governo.
Em 2003, o príncipe Sultan disse a alguns repórteres que a Arábia Saudita devia parar de ajudar o Líbano com dinheiro, e afirmou que o primeiro-ministro do Líbano, Rafic Hariri usava o dinheiro para viver uma vida extravagante. Este comentário pareceu não ter peso nenhum, no entanto, a família de Hariri tinha laços fortes com os governantes sauditas e especialmente com o poderoso filho do rei, Abdulaziz, que ficou bastante desagradado com a observação. A adicionar a esse comentário, o príncipe Sultan criou uma comissão contra a corrupção, o que não agradou a Abdulaziz – foi aí que Sultan foi raptado pela primeira vez, ficando com ferimentos graves permanentes. Durante os 11 anos que se seguiram, andou dentro e fora de prisões sauditas. Por causa das complicações de saúde, o governo deixou-o ir para Manchester para receber tratamentos.
Já na Europa, o príncipe recebia dinheiro da família real e gastava milhões de dólares por mês. Quando houve cortes nas economias por parte do rei Salman, este ficou sem dinheiro, e então, fez várias tentativas para o recuperar - incluindo enviar cartas a membros da sua família para tentar destituir o rei. As cartas que enviou denegriam a imagem não só do rei mas do seu filho, príncipe Mohammed, e chegaram às mãos do jornal The Guardian, que as publicou.
O príncipe esperou o pior. No entanto, recebeu o que queria, aparentemente – o pagamento por parte da família real. Além disso, o seu pai contactou-o para se encontrarem no Cairo, o que terá levado a esta viagem sem regresso.
Quando aterraram, os homens de Saud agarraram no príncipe e levaram-no para fora do avião. Foi a última vez que o staff de Sultan o viu. A equipa de segurança do príncipe não podia entrar na Arábia Saudita, então ficou num hotel, sem puder sair durante 3 dias.
Quase 5 anos mais tarde deste incidente, alguns detalhes continuam a surgir – Saad al Jabri processou, em agosto de 2020, o Príncipe Mohammed (aquele que Sultan criticou nas suas cartas) por tentativa de homicídio.