Janja Silva, a desconhecida que se casou com Lula e que salta para as luzes da ribalta aos 56 anos

A socióloga tem estado omnipresente na campanha de Lula para as eleições presidenciais. Depois do ícone da esquerda brasileira ficar à frente na primeira volta do sufrágio de 2 de outubro, a sua terceira esposa mantém-se muito discreta, até mesmo misteriosa, no que toca à vida privada.

Foto: Getty Images
28 de outubro de 2022 às 19:13 Máxima

É a terceira mulher de Lula, aquela que verdadeiramente ninguém esperava, uma vez que o ex-presidente brasileiro ficou viúvo aos 71 anos. Rosângela Silva sucedeu assim a Marisa Letícia, a segunda esposa adorada de Lula, mãe dos seus quatro filhos, falecida em 2017 vítima de AVC após 30 anos ao lado do homem político, oito dos quais como primeira-dama. Este também a seu lado durante as numerosas campanhas do incansável líder que, aos 76 anos, disputa este ano a presidência pela sétima vez.

Amiga de estrelas

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Em 2022, aquela a quem chamam "Janja" assumiu assim as suas funções, trazendo a sua energia e entusiasmo ao candidato do Partido Trabalhista (PT), postando os comícios e os apelos ao voto nas redes sociais. Aquela que ainda há pouco era desconhecida do grande público, depressa assumiu o seu lugar no seio da equipa de campanha, reservando a si mesma a tarefa de fazer a ponte com os artistas e os influencers. A sorridente quinquagenária (completou 56 anos em agosto), de rosto redondo, obteve assim o máximo de apoios. Desde estrelas do Tropicalismo, como Caetano Veloso e Gilberto Gil, até ao imenso Chico Buarque, seu padrinho de casamento em maio último, passando pela cantora Anitta, por atores de envergadura internacional como Wagner Moura, mas também influencers, como a cosmetóloga Juliette, ou estrelas do desporto… todos apoiaram a candidatura de Lula. Foi ainda Janja quem esteve por trás da manobra para organizar o último grande comício de campanha, o Super Live, em São Paulo, no dia 26 de setembro, que reuniu muitos artistas em palco. Mesmo o ator norte-americano Mark Ruffalo se viu obrigado a fazer um tweet de apoio.

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Omnipresente na campanha

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A sua omnipresença já lhe valeu críticas, nomeadamente internas. Mas não há como arrefecer a motivação de Janja, que se reforçou de comício para comício. Com a sua voz grave e serena, a oradora de longos cabelos castanhos apresenta os porta-vozes do marido, a quem ela chama apenas "amor". A sua conta no Instagram testemunha também a sua recente evolução de estilo. Os jeans, t-shirts coloridas com o rosto do marido e blusões em pele do início deram lugar, ultimamente, aos vestidos monocromáticos mais formais, mais "primeira-dama", perante um Luís Inácio Lula da Silva de ténis e jeans, como para dar a entender uma dinâmica própria da juventude.

Foto: @janjalula

A morte da mãe, vítima da covid

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Ao contrário de Marisa Letícia, que se manteve sempre discreta, Rosângela não hesita em cantar em público e em exprimir-se acerca de questões políticas. Ela é também o braço armado do marido no que toca à sedução do eleitorado feminino, já encrespado contra Bolsonaro devido aos seus modos sexistas. "São as mulheres que decidirão estas eleições. As mulheres que ajudarão a reconstruir o nosso país, o Brasil da esperança", escreveu ela no Instagram. Nos vídeos oficiais, é sempre em torno da questão das mulheres que ela se posiciona, sensível "às dificuldades encontradas pelas mães de família, muito endividadas", ou para denunciar, nomeadamente, os feminicídios e a violência contra as mulheres no Brasil. O único assunto mais íntimo que ela aborda nos seus meetings é a morte da mãe, a sra. Vani Terezinha Ferreira, por covid, durante a pandemia, "tal como 700 mil brasileiros", faz questão de recordar Rosângela.

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"Dar um novo sentido ao conceito de primeira-dama"

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Convidado a participar no podcast do cantor Mano Brown, em setembro de 2021, Lula descreveu a sua futura mulher como alguém "muito politizada, como uma excelente cabeça política e muito feminista". Esta sensibilidade está longe de ser artificial. Licenciada em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná, com um MBA em Gestão Social e Sustentabilidade, Janja conquistou os seus galões de militante já há muito tempo. Membro do PT desde que tinha 17 anos, a socióloga conheceu Lula, aliás, através do partido. À medida que a possibilidade de uma vitória se perfila, Janja vai deixando pistas acerca da sua atuação enquanto futura primeira-dama. Interrogada por um seguidor no Instagram, ela abordou a questão em agosto: "Trabalhamos para que eu me torne essa primeira-dama que você espera". Acrescentando misteriosamente: "E há um pequeno segredo: vamos tentar dar um novo sentido a esse conceito de primeira-dama".

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A 15 de setembro, ela confirmava que não seria uma "ajudadora", pegando no termo empregado por Michelle Bolsonaro, a atual primeira-dama, para falar das esposas. Quando a mulher do presidente de extrema-direita apregoa "a honra, a glória, a força e o poder do rei Jesus" como credo no Instagram, Janja, por sua vez, avança o seu curso universitário e a política. A Bolsonaro, que apela aos homens a encontrarem "as suas princesas", ela responde que só vê "guerreiras" reunidas entre o público.

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Interrogado pelo site UOL acerca do papel da primeira-dama, em julho de 2022, Lula respondeu com a sua espontaneidade habitual: "Penso que não deve haver um mistério dedicado à primeira-dama, mas conto com ela para me ajudar, para me aconselhar e também para discutir comigo". E acrescentou: "É uma jovem senhora que tem as suas ideias próprias e terá toda a liberdade para decidir o papel que vai querer desempenhar".

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Visitante na prisão

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Ao ouvi-lo, quase que creríamos o antigo presidente intimidado pela personalidade forte de Rosângela. No entanto, no início, o seu encontro foi como o de um velho leão da política com uma militante de base 20 anos mais nova. É neste contexto de envolvimento político que os seus caminhos se iriam cruzar em finais de 2017, de acordo com a assessoria de imprensa do PT, antes de começar a história de amor, em 2018, pouco antes de Lula ter sido preso no âmbito da vasta operação anticorrupção Lava Jato. Condenado a uma pena de 12 anos, o ex-presidente passará 18 meses na Prisão de Curitiba. Será definitivamente inocentado em março de 2021 após a anulação das suas condenações pelo Supremo Tribunal, tornando-se assim reelegível para a mais alta função do Estado. Libertado a 8 de novembro de 2019, a sua primeira ação foi apresentar Janja à multidão que o veio saudar. E beijá-la na boca, sofregamente, ali mesmo em Curitiba. Pois durante os 580 dias de detenção, a socióloga fora um apoio que nunca falhou, multiplicando as visitas ao parlatório. "Escrevemos um ao outro 580 cartas, ainda as guardo comigo", contava assim Lula, de visita a Paris em 2020. E aquele que sempre bradou "conspiração política" acrescentava: "Foi graças a este amor que saí da prisão sem ódio".

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"Muralha de mutismo de lealdade"

O Brasil descobre então esta desconhecida e os media partem em busca de informações acerca desta mulher do sul, nascida a 27 de agosto de 1966 em União de Vitória, no estado do Paraná. Ficamos a saber que ela seguiu o curso de Sociologia e trabalhou quase 20 anos na empresa pública Itaipu Binacional, que gere a barragem com o mesmo nome. Mas acerca da sua vida privada, antes de Lula, nada se fica a saber. A revista Veja revela que ela terá sido casada durante seis anos e não tem filhos. Os nossos colegas do jornal de Curitiba Plural escrevem que, ao procurarem saber mais, foram confrontados com uma "muralha de mutismo e lealdade". Ainda assim informam que Janja é a mais nova de dois irmãos e que terá sido casada com um professor de História. O seu pai, José Clóvis da Silva, reformado com 82 anos, vive ainda em Curitiba. Contactados pelo jornal, os seus amigos descrevem-na como uma mulher "determinada, organizada, concentrada, leal". E afirmam que a paixão por Lula terá acontecido por altura de um jogo de futebol de beneficência em Guararema, em dezembro de 2017, onde o ex-presidente fazia parte da equipa liderada pelo cantor e compositor Chico Buarque.

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Na sua conta do Instagram, criada em maio de 2017, nada transparece também. A primeira foto partilhada, a do seu cão Thor, recebeu 24 gostos. De seguida foram postadas as tradicionais selfies, fotos de jantares entre amigos, caminhadas e passeios, noites de jazz com o seu grande amigo, o advogado Leandro Pedron, ainda imagens de cães e apelos à libertação de Lula. Isto antes da ascensão no sentido da oficialização do casal. E de o número de seguidores passar de 700 a 226 mil.

Foto: @janjalula

Vestido de casamento made in Brasil

O casamento de ambos celebrava-se, assim, a 18 de maio de 2022, numa cerimónia privada reservada a um círculo de pessoas chegadas, entre as quais figuravam inúmeros artistas, numa residência chique de São Paulo. A noiva avança envergando um vestido made in Brasil, é claro. A criação em tecido branco-sujo bordado à mão por artesãs locais é assinada pela muito em voga Helô Rocha.

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Lula parece mais do que nunca empolgado pela relação dos dois. "Estou apaixonado por ela como se tivesse 20 anos", não para de repetir. O casal nunca se separa e percorreu o Brasil de mãos dadas ao longo da maratona da campanha. Unido por detrás do slogan "o amor vencerá", pelo "Brasil da esperança". E tendo de instituir um vasto programa para reparar um Brasil desunido como nunca após quatro anos da presidência de Jair Bolsonaro. "Sem medo de ser feliz", como o refrão do hino oficial da campanha de Lula.

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Isabelle Bodet / madame.lefigaro.fr / Atlântico Press

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Tradução: Adelaide Cabral

Foto: Getty Images
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