Na cama com os ditadores

O fogo da paixão e do sexo consumia os ditadores. Na intimidade eram amantes fogosos e arrebatadores.

Foto: Getty Images
18 de dezembro de 2019 às 07:10 Dulce Garcia

Mussolini era baixinho, fascista e fogoso. Diz a sua amante oficial, Clara Petacci, que Il Duce parecia um bicho quando descalçava as botas, despia a farda e se atirava a ela – literalmente. “Estou sentada no chão. Ele desliza do sofá e curva-se sobre mim. Sinto que todos os seus nervos estão tensos. Aperto-o contra mim. Beijo-o e fazemos amor com tanta fúria que os seus gritos parecem os de um animal ferido”, relata a mulher que o seguiu até à morte (ambos foram fuzilados em Abril de 1945) no livro Mussolini Secreto, lançado em Itália e que pôs a família do defunto em polvorosa.

Clara era uma menina rica e mimada, filha de um médico do Vaticano, que ainda de soquetes e totós já escrevia poemas laudatórios ao pai do fascismo. Aos 20 anos, o destino colocou-a frente-a-frente com o seu herói. Na verdade, ela foi ultrapassada por ele – quando seguia de carro com a mãe e a irmã, foi ultrapassada por um Alfa Romeo conduzido por Benito Mussolini.

PUB

Eufórica, ordenou ao motorista que seguisse o ditador, na altura com 49 anos (mais 29 do que ela), casado e pai de cinco filhos. Ele ficou tão surpreendido com o seu entusiasmo – e ousadia – que parou o carro para a cumprimentar. Quatro anos mais tarde, eram amantes.

A relação foi minuciosamente descrita por Clara Petacci, que preenchia os compassos de espera pelo seu Benito escrevendo um diário que apodreceu durante anos no jardim de uma amiga condessa, a quem confiou o documento pouco antes da sua morte.

O Gigante, como o próprio Mussolini se baptizou (apesar de, ao lado de Adolf Hitler, que não era nenhuma torre, parecer baixote), tinha um ciúme doentio que tentava acalmar com vigilância permanente aos passos da amada (Clara foi a única amante do ditador a ter guarda-costas, motorista e quarto no Palazzo Venezia). Não foi, todavia, a primeira nem a última a visitar Il Duce nos seus aposentos. Um seu lacaio, de nome Quinto Navarra, garantiu que a obsessão do homem por sexo era tão grande como a sua sede de poder, e contou que todas as tardes levava uma mulher diferente ao ditador, ficando estas registadas no livro como visitas fascistas.

PUB

 

Custa a crer que alguém chamado Amílcar (Benito Amilcare Andrea Mussolini) tivesse tanto sucesso com o sexo oposto. Mas talvez Henri Kissinger tenha razão e o poder seja mesmo afrodisíaco. Se não, que dizer do barbudo Fidel Castro? No livro A Vida Sexual dos Ditadores, do inglês Nigel Cawthorne, é descrito como um homem pouco dado a banhos que corria atrás de meninas ricas e bem novinhas. À semelhança de alguns galãs, escondeu sempre a mulher, cultivando o mito do homem solitário que vive para a revolução. Mas não vivia. Somou amantes e paixões, e acabou retratado como um amante displicente que lia enquanto estava na cama com as amantes (naquela parte em que não é para dormir), passava o tempo a fumar charutos, recusava-se a tirar as botas e falava incessantemente – prática que o mundo inteiro conhece noutro contexto.

Já o camarada Lenine, não praticava na alcova aquilo que defendeu com unhas e dentes na vida política. Condenava o capitalismo, mas coleccionou amantes abastadas, como a aristocrata russa Elisabeth K. E embora gostasse de exibir a sua integridade, viveu um triângulo amoroso com a mulher, Nadezhda Krupskaya, mais conhecida como Nadya (consta que magra como uma tábua de passar a ferro), e a francesa Elisabeth d’Her-benville Armand.

PUB

Mais incríveis ainda são as façanhas de Kim Jong-il, que não olhando ao tamanho, ganhou fama de grande sedutor. Nem que fosse à força. Nigel Cawthorne conta que o ‘Querido Líder’ da Coreia do Norte sempre nutriu um fascínio por mulheres estrangeiras e que, na década de 90 do século XX, convidou inúmeras cantoras e bandas femininas para actuarem no seu palácio, encerrando a festa com uma imensa orgia em que mesmo o pai, o ‘Presidente Eterno’, Kim Il-sung, já então octogenário, terá participado.

 

Com as devidas diferenças, até António de Oliveira Salazar parece ter herdado algum deste fogo interior que consome os ditadores. A fazer fé em biografias recentes, e num telefilme que alvoroçou o pais, não sendo um estridente Mussolini, também teve as suas noites escaldantes. Bien sur, como diria a sua amiga francesa Christine Garnier…

 

PUB

O QUE SE DIZ QUE ELES FAZIAM NA INTIMIDADE

Estaline

O autor de A Vida Sexual dos Ditadores fala das histórias que circulavam sobre a homossexualidade de Estaline e até de um suposto relacionamento gay que teria mantido com o chefe dos seus guarda-costas. Também terá beijado na boca o embaixador dos EUA na União Soviética, William Bullit, usando a língua. Apesar dos rumores, o líder comunista tornou ilegais todas as práticas homossexuais.

Solano López

PUB

O ditador paraguaio conheceu a sua amante irlandesa numa casa de encontros parisiense, supostamente frequentada por nobres e ilustres estrangeiros. Elisa Lynch terá tentado convencer López a matar todas as recém-nascidas locais e a importar meninas escocesas para assim limpar a população feminina do Paraguai.

Sukarno

O antigo presidente indonésio (entre 1945 e 1967) era louco por mulheres. Esgotou a “quota islâmica das quatro esposas” e acumulou amantes, sempre mais novas. As revistas americanas chamavam-lhe “libertino”. Era estéril e quando perdeu o poder, ficou sozinho.

Ceausescu

PUB

Nigel Cawthorne, que além de escritor foi colaborador regular do The Guardian, diz que o irmão de Nicolae Ceausescu, Nicolai-Andruta, terá encontrado certa vez a sua própria mulher, nua, com a cunhada, Elena, mulher do ditador romeno.

Artigo originalmente publicado na edição de fevereiro de 2010 da Máxima

PUB
PUB