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Prazeres

Poder matriarcal, maternidade e direitos das mulheres. É disto que se fala no FEST

O FEST também precisou de reinventar-se. Este ano, a presença feminina neste festival de novos talentos atinge um record que mostra que há cada vez mais mulheres atrás das câmaras. Ou será que elas estão, agora, com mais visibilidade?

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31 de julho de 2020 às 08:00 Rita Silva Avelar

Com uma presença feminina que supera as programações de outros anos, o FEST tem boas novidades para os amantes da sétima arte. O festival português, que dá a conhecer novos talentos na realização, teve que reinventar-se para os novos tempos e este ano aposta na visão feminina. "Perto de 70% do programa é constituído por trabalhos realizados por mulheres, e só na nossa competição de longas-metragens, das 10 obras em exibição, 7 são de mulheres realizadoras" revela Fernando Vasquez, programador do FEST. No total são mais de 230 filmes que, entre os dias 2 e 9 de agosto, ocuparão a cidade de Espinho, pólo central de uma edição que pela primeira vez se estende a Porto e Lisboa. 

Nesta edição, estão em destaque os projetos cinematográficos da francesa Zoé Wittock e da australiana Shanon Murphy. "A primeira produziu uma obra que rapidamente se está a transformar no grande êxito do ano, um filme intitulado Jumbo, que retrata uma história de amor muito invulgar e uma relação tensa e complexa entre uma mãe e uma filha" revela, acrescentando que a "segunda é dos nomes mais badalados do momento, já que com o seu filme Babyteeth, que ganhou dois prémios em Veneza, construiu uma comédia sobre uma doença terminal de uma adolescente, trabalhando muito bem a forma como uma família pode lidar com um final inevitavelmente trágico" revela este programador, sobre os trabalhos em destaque. Mas há mais.

Foto: Lisa Tomasetti

Talentos emergentes, sempre no feminino

A presença de mulheres na realização traz temas como a maternidade, religião, o poder matriarcal ou os direitos das mulheres. "Com uma presença tão significativa de autoras femininas no nosso programa não é de estranhar que o tema mais dominante seja a maternidade" revela Fernando Vasquez. "Aqui o destaque inicial tem de ir para a argentina Maura Delpero, com o filme Maternal, que nos transporta até uma casa de acolhimento de mães adolescentes no centro de Buenos Aires. O filme apresenta-nos diferentes visões e perspectivas do que é ser mãe, ao mesmo tempo que explora de forma brilhante a relação tensa entre as adolescentes, maioritariamente rebeldes, e as freiras que controlam a instituição" revela, sobre uma das aguardadas novidades do festival.

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E acrescenta mais uma visão: "este tema da maternidade manifesta-se ainda de forma clara na curta-metragem da polaca Agata Puszcz, Home Sweet Home, um filme passado num futuro distópico, onde várias crianças e adultos são contratados para participarem em eventos sociais, como festas de aniversários. O filme ganha novo tom quando uma das crianças é contratada para participar na mesma festa onde a sua mãe biológica está a trabalhar."

Ainda nesta temática, outro dos destaques é o trabalho da realizadora ucraniana Iryna Tsilyk, com a sua longa The Earth Is Blue As an Orange. "Apresenta uma família onde todos os homens estão ausentes, e que vive na frente de batalha do conflito na Ucrânia. O filme retrata a produção de um filme familiar que reproduz algumas das experiências aterradoras dos últimos anos, como forma de terapia familiar."

As relações familiares são um dos temas paralelos à programação, com destaque particular para a longa Wildland da dinamarquesa Jeanette Nordahl. "Apresenta-nos uma família de criminosos violentos, controlada por uma matriarca, cuja união é posta em causa com a chegada de uma jovem sobrinha com dificuldades em aceitar a verdadeira natureza da sua família" explica o programador.

Foto: Christian Geisnaes

E por fim, não passam despercebidas as vozes que se levantam pelos direitos das mulheres, em filmes como Papicha de Mounia Meddour, "que nos fala sobre a luta de um grupo de jovens raparigas contra a crescente influência de grupos conservadores islâmicos", e o documentário Lovemobil da alemã Elke Margarete Lehrenkrauss, "que nos revela os perigos do dia a dia de um grupo de prostitutas que trabalha em rulotes estacionadas nas estradas rurais germânicas."

A presença portuguesa no FEST e as apostas do ano

Há também fortes realizadoras portuguesas a competir no Grande Prémio Nacional. Tânia Prates com Quando a Luz se Apaga, Beatriz Bagulho com (In)dividual, Carolina Neves com Alvorada e Susana Ramalho Marques com Ara. "Todas elas estão a dar sinais de enorme talento e temos poucas dúvidas que nos próximos anos se vão tornar figuras de referência" revela Fernando Vasquez, que deixa ainda duas grandes apostas este ano. "Aliha Thalien é uma jovem realizadora francesa que tem tudo para se tornar numa figura de renome nos próximos anos. A sua curta Feu soleil é dos trabalhos mais elegantes e robustos que vamos exibir. A austríaca Anne Thorens apresenta-nos uma curta-metragem de nome Diagonal em que aborda, de forma muito inteligente, a pressão exercida sobre jovens mulheres por parte de homens para não utilizar contraceção. É sem dúvida um dos nomes que pode vir a dar que falar num futuro próximo."

*Em Espinho, as sessões decorrem no Auditório da Junta de Freguesia e no cinema drive-in instalado no parque de estacionamento da Nave Desportiva. As extensões simultâneas às duas maiores cidades do país farão circular as longas em competição pelo Cinema Trindade e Cinema Ideal e as curtas pela Casa Comum da Reitoria da Universidade do Porto.

A programação completa para o evento, assim como os horários das sessões e preço de bilhetes pode ser consultada em detalhe em FEST.

Foto: Lisa Tomasetti
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