O restaurante que nos faz regressar a Viseu
O Mesa de Lemos, em Silgueiros, está a transformar uma pequena aldeia do concelho num dos melhores pontos gastronómicos do país.

Temos a certeza que um lugar é bonito quando mesmo por baixo de chuva ele nos encanta. E foi assim que me apaixonei por esta quinta a 14 km do centro de Viseu, no vale do Dão. E claro, em seguida, pelo cheiro ao entrarmos no Mesa de Lemos, e principalmente pela comida.
O restaurante serve pratos à la carte, mas os grandes destaques ficam com os menus degustação, onde terá a oportunidade de provar a criatividade e a perspicácia do chef português e viseense Diogo Rocha. São três opções: o Menu Mesa de Lemos, com três momentos (€40 + €15 com harmonização de vinhos), o Menu Lemos, com cinco etapas (€80 + €25 com vinhos), e Menu do Chef, composto por sete pratos (€120 + €40 com vinhos). O espaço, que já teve pinturas e esculturas de artistas plásticos de Viseu, exibe uma coleção invejável de vários tipos de quartzo, no chão e também como centro das mesas. A ideia foi do próprio chef, após visitar o Museu do Quartzo – Centro de Interpretação Galopim de Carvalho, o primeiro dedicado a apenas um mineral, o quartzo, e que se encontra a menos de 30 minutos do restaurante.

A experiência gastronómica começa com os pães quentinhos, como o pão de trigo feito com fermento a partir da extração das uvas, acompanhado com o azeite extraído a frio e produzido na própria quinta. As entradas aumentaram as expectativas – que não foram quebradas – no restante da noite. A começar pelo pastel de massa tenra aberto com barriga de atum dos Açores. A grande surpresa foi a gelatina de couve roxa com requeijão de ovelha da Serra da Estrela e doce de couve roxa e a sobremesa, mas vamos a ela daqui a pouco. Antes, destacamos a textura e sabor do polvo de Peniche com picle, puré de beterraba e cebola assada e do salmonete com molho de limão e puré de pastinaca e espinafres. Contudo, a maneira como se desfez na boca a bochecha de porco com ananás dos Açores, puré de alho-francês, favas e criadilha – do Alentejo, "a trufa portuguesa", nas palavras do próprio chef – tornou uma tarefa dificílima eleger um prato favorito. Mas há quem guarde o melhor para o final e dois momentos ainda não saíram da minha memória: a escolha da sobremesa e a maneira como chegaram os petit fours. A estrela principal da sobremesa foi o kiwi em várias texturas, como a própria fruta, em bolo, sorbet e mousse, acompanhado com iogurte desidratado. A descrição não soava tão apetitosa, porém o sabor era tudo e mais alguma coisa. E quando pensávamos que não poderíamos ter mais surpresas, os ajudantes de sala chegaram a empurrar a máquina de tecer da mãe da família Lemos e a mala com a qual o seu filho vendeu tecidos pelo mundo. Nela, os petit fours (pastéis de feijão, castanha de ovos e trufas de chocolate com aguardente) para encerrar a noite com uma experiência sensorial que nos fez questionar porque ainda não nos tínhamos sentado nesta Mesa.
"Não há uma pressão direta, tenho toda a liberdade, mas o Celso [proprietário da Quinta de Lemos] sempre pediu que este fosse um dos melhores restaurantes de Portugal e que comunicasse o nosso país e a região de Viseu", confessa o chef Diogo. Podemos garantir que a promessa foi cumprida com êxito, já que quase 95% dos produtos utilizados na cozinha são portugueses, além dos legumes biológicos utilizados. O chef não espera ser galardoado com uma estrela Michelin brevemente, mesmo com a gala do guia gastronómico a ser realizada em Portugal este ano, mas, se pudéssemos apostar, a Mesa de Lemos teria certamente um espaço nos eleitos deste ano.
A Quinta de Lemos começou com um projeto do empresário português Celso de Lemos, ligado à indústria têxtil, para criar vinho de qualidade para os amigos e familiares – os nomes dos vinhos são referências às mulheres da vida de Celso: Dona Georgina, um dos mais premiados, é o nome da mãe, Dona Santana, a avó, Dona Paulette leva o nome da mulher, Geraldine, a filha, Manuela, a sobrinha, e Dona Louise, a sogra – mas as distinções e prémios nacionais e internacionais chegaram, a exemplo das Medalhas de Ouro recebidas todos anos no Concurso da Comissão Vitivinícola Regional do Dão, a mais antiga região produtora de vinho de Portugal. Até o logótipo da adega homenageia a região ao representar as quatro grandes montanhas que circundam a quinta: Serra da Estrela, Serra do Caramulo, Serra do Buçaco e Serra da Nave.

No mesmo edifício do restaurante há três quartos privados, que poderiam ser disputados por qualquer apaixonado por hotéis de charme, mas que, por enquanto, ainda não estão abertos ao público. "O espaço era para ser uma guest house [ou seja, apenas para receber os convidados da família], não foi pensado serquer para ser restaurante", revela o chef. Felizmente Diogo convenceu Celso e hoje brinda-nos com uma experiência diferente e consistente. Quem sabe se todos poderemos também pernoitar por lá.
O Mesa de Lemos fica na Quinta de Lemos, em Passos de Silgueiros, 3500-541 Silgueiros, Viseu. O restaurante funciona de quarta-feira a sábado a partir das 20h, e sexta-feira, sábado e domingo a partir das 12h. As reservas podem ser feitas pelo telefone 96 115 85 03 ou através do e-mail reservas@mesadelemos.com.

