O Frade, ou o que acontece quando a mestria da cozinha alentejana chega à capital
Chamemos-lhe o que quisermos: taberna contemporânea, casa de repasto, petiscaria portuguesa. O mais recente restaurante de Belém faz jus à tradição da cozinha portuguesa e traz o Alentejo a Lisboa (não só a comida, como a tradição da partilha).
05 de agosto de 2019 às 07:00 Rita Silva Avelar
Quem chega ao fim da Calçada da Ajuda, no cruzamento com a rua do Embaixador, em Belém, se olhar de soslaio para o interior do número 14, provavelmente, vai demorar o olhar uns minutos. O olhar de soslaio (desconfiamos) passa rapidamente a um impulso de querer entrar e ver o que se passa lá dentro. Bem, talvez não só ver. É que esta é a morada novíssima d’O Frade, o restaurante tipicamente português que conquista pelo aspecto irresistível dos pratos da ementa. Com lugar para 22 pessoas e um balcão redondo, o espaço é pequeno mas não o julguemos pelo tamanho. Este é um projeto dos primos Carlos Afonso e Sérgio Frade, que unidos por uma tradição familiar gastronómica única com origem no Alentejo, quiseram abrir um espaço seu.
É precisamente um deles que encontramos atrás do balcão, Carlos Afonso, que conta um pouco da história familiar. "Este restaurante começou em 1966 com a avó do Sérgio, a [minha] tia Mariana e o [meu] tio Frade. Depois passou para a mãe do Sérgio, e os primos acabaram por crescer todos ali. Fazíamos ali os aniversários, acabávamos por brincar na rua em frente ao restaurante. Eu era o mais novo, nunca cheguei a trabalhar lá mas os meus primos Sérgio e Pedro trabalharam. Eles acabaram por não seguir esta área, e acabaram por seguir áreas completamente diferentes da hotelaria e eu e o Sérgio sempre tivemos a vontade de ter um negócio juntos. Ambos estivemos fora do país, e ao regressar a Lisboa começámos a falar em abrir um restaurante" conta." Sobre o seu percurso, revela que se formou um pouco pelo mundo, e sabemos que trabalhou com Hans Neuner, no Ocean no Algarve, com o chef Alexandre Silva no Marmóris em Vila Viçosa, e em Espanha no Azurmendi com o chef Eneko Atxa. "Eu formei-me em cozinha, trabalhei em restaurantes por Lisboa, Algarve, Alentejo… e fora na Bélgica, na Holanda, no País Basco, para conhecer um pouco de várias cozinhas, desde os restaurantes de fine dining aos tradicionais" explica.
Da cozinha saem, assim, maravilhas da cozinha alentejana (e acima de tudo portuguesa) como os petiscos coelho de coentrada (€8,50), ovos com túberas ou espargos (€8), pimentos assados (€6,50) ou lulas com grão (€8). Há também propostas fora da caixa com paladares bem apurados como galinha acerejada (€7,50), pato de escabeche (€9) ou estupeta de atum (€7,50). E estão apresentados os petiscos. Há três pratos principais que podem fazê-lo saltar tudo isto (ou não) que são o já consagrado arroz de pato (€13,50) ou o sempre apetecível bacalhau com batata (€14). Como a tradição manda, não tem melhor fim de refeição que um "pijaminha". Peça-o e chegar-lhe-á à mesa o trio de encharcada, requeijão com mel e mousse de chocolate com avelãs regada com azeite.
Uma das boas razões para ir ao Frade, e regressar uma e outra vez, é certamente o vinho de talha, que é feito em família, em Vila de Frades. Um fiel exemplo de um vinho tipicamente alentejano, feito com a tradição manda há mais de 2 mil anos, e que resulta num branco como o ESCOLHA DOC Branco 2016 ou num brilhante tinto como o PECULIAR Mangancha 2017. Ambos só podem ser provados ou na sua adega mãe ou no Frade. Vale a visita? Vale bem muito mais do que uma só, até.
Chama-se Avocado House e, tal como seria de esperar, neste restaurante o protagonista é o abacate. Além de deliciosa, a experiência neste espaço tem um cariz social: dois dos empregados de mesa são portadores de deficiência auditiva.
Seja no meio da cidade ou junto ao rio, estas esplanadas oferecem o melhor de dois mundos: uma vista sobre Lisboa e boas iguarias gastronómicas para apreciar.