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Moda / Tendências

Relógios de poder: dos pendentes mais extravagantes aos clássicos modelos para o pulso

As mulheres estão a tornar-se clientes e colecionadoras cada vez mais importantes para as marcas de relojoaria, e isso notou-se nas novidades deste ano da Watches & Wonders, onde os modelos femininos brilharam mais alto.

21 de maio de 2024 às 07:00 Bruno Lobo

Com tantos retrocessos civilizacionais a vazar das redes sociais, é reconfortante perceber que o empoderamento feminino continua vivo e recomenda-se. Inclusivamente num bastião tradicional como era o mundo da relojoaria, onde os modelos femininos eram historicamente relegados para uma posição subalterna (mesmo com várias exceções a confirmar a regra). Para mais, eram homens quem maioritariamente comprava relógios, inclusive para oferecer, pelo que muitos fabricantes procuravam agradar ao gosto masculino antes sequer de atender aos desejos da outra metade.   

Tudo isso mudou agora, ou está a mudar, com a chegada de uma nova geração de mulheres com poder de compra e apetite por relojoaria, a quem as marcas estão cada vez mais atentas, até porque passaram a ter, elas próprias, muitas mulheres em lugares de topo e decisão. A transformação não é de agora, é verdade, mas a última edição da Watches & Wonders, em Genebra, terá sido a primeira onde os homens ficaram com mais razões para invejar as propostas femininas. Marcas como a Chanel, Cartier, Hermès ou Van Cleef & Arpels, mas também Vacheron Constantin, Patek Philippe e até Tudor, apresentaram coleções cada vez mais abrangentes e viradas para as mulheres. Mais diversificadas e complexas como, no fundo, o universo que procuram agradar.

Comecemos pela Chanel, que há muito aposta forte na relojoaria, tendo estruturado uma manufatura na Suíça. Sob a direção criativa de Arnaud Chastaing, as peças da casa parisiense têm deslumbrado meio mundo, sobretudo as inspiradas no mundo de Gabrielle Chanel e nos ateliers de alta-costura. Tema revisitado este ano com a coleção Chanel Couture O’Clock, onde tesouras, fitas métricas, alfinetes ou agulhas encontram o seu lugar na alta relojoaria, como se vê tão bem neste divertido J12 automato, com um mostrador estilo de BD onde a figura de Coco, de tesoura na mão, e o manequim, se mexem ao toque de um botão.

Foto: DR

Continuando nas casas de moda francesas que apostaram seriamente na relojoaria, seguimos para a Hermès, que apresentou uma nova família de relógios desportivos, clássicos e elegantes, perfeitos para usar em qualquer ocasião. No fundo, aquilo que os homens sempre procuraram nos seus relógios, mas com um toque feminino. O Cut é possivelmente um dos modelos mais importantes do ano, e ao qual voltaremos muitas vezes no futuro, até porque apresenta diversos pormenores distintivos, como a coroa descentrada às 2 horas, a caixa sobredimensionada de 36 mm, a entrar no terreno dos modelos unissexo, ou os números do mostrador com um desenho muito particular.

Foto: DR

Pelo contrário, no Grand Lady Kalla, da Vacheron Constantin, tudo é superlativo: 46,65 quilates, distribuídos por 268 diamantes muito bem secundados por 112 pérolas Akoya e 50 contas negras em Ónix, no colar. Trata-se de uma peça absolutamente extraordinária, composta por um sautoir e uma bracelete, podendo trocar-se a caixa do relógio entre o colar e bracelete, sendo a alternativa uma espécie de broche onde um grande diamante de dois quilates ocupa a posição central. Todo o brilho e o glamour de uma obra-prima que, surpreendentemente, nem sequer é única e pode ser encomendada em qualquer boutique Vacheron Constantin − como a que temos em Lisboa. Embora não se imaginem demasiados pedidos.

Foto: DR

Regressamos à Chanel, onde também não faltam relógios montados em pendentes, neste caso "secretos", uma moda que vem de uma altura em que não era socialmente bem aceite as senhoras serem vistas a consultar as horas. A solução de muitas casas foi disfarçar os relógios em peças de joalharia, ideia que a Chanel recupera neste quarteto inspirado, mais uma vez, nos ateliers de alta-costura de mademoiselle Chanel.

Foto: DR

De volta ao pulso, seguimos para a tradicional Patek Phillipe, a celebrar os 50 anos do Golden Ellipse. Para muitos, este já seria o relógio masculino mais feminino da marca, mas agora virou completamente unisexo com uma nova bracelete em metal que é, ao mesmo tempo, uma peça de joalharia com cada link montado à mão pelos artesãos da Patek. Super maleável e confortável no pulso, a bracelete apresenta um método inovador de ajuste, que permite acertar ao tamanho do pulso sem ter de recorrer ao trabalho de um ourives − até agora imprescindível neste tipo de braceletes. Por isso, também, o sistema foi patenteado.

Foto: DR

 Também não será de estranhar que os Carrera originais, da Tag Heuer, fossem modelos masculinos, uma vez que ganharam esse nome em homenagem a uma corrida de carros dos anos 1950, famosa por ser extremamente perigosa. Por isso é interessante verificar como a coleção feminina vai ganhando importância de ano para ano e neste, diríamos, serão até os modelos que melhor representam o estilo "luxo descontraído" que marcou a coleção desde a sua génese. Até no tamanho, 36 mm, são iguais aos modelos originais.  Existem três mostradores diferentes, em madrepérola com ou sem diamantes ou em bronze escovado, que nos parece a opção mais empolgante.

Foto: DR

Para 2024, a Cartier reservou uma pequena grande surpresa: um relógio bracelete de design ousado, totalmente novo, futurista quase, mas que ao mesmo tempo parece estar profundamente enraizado no passado. Não seria difícil imaginar que a velha maison pudesse ter feito algo semelhante nos anos 1930. É definitivamente um objeto de prazer, que tem essa característica peculiar de espelhar as horas do outro lado da bracelete, como se o tempo pudesse ficar suspenso entre as duas imagens – a real e o seu reflexo que é, também, o seu inverso.

Foto: DR

Há qualquer coisa de muito especial, também, na forma como a Van Cleef & Arpels combina arte e técnica para criar relógios quase etéreos. São as "Complicações Poéticas", que neste "Brisa de Verão" se revelam num jardim onde as flores dançam e as borboletas voam, marcando a passagem das horas, o dia e a noite (consoante apareça a borboleta amarela ou a azul). Ao pressionar o botão lateral, as borboletas passam a voar livremente, sem amarras. No entanto, o mecanismo nunca para, por isso, quando a borboleta retoma a contagem, avança para o ponto onde estaria se não tivesse feito o bailado, continuando a marcar as horas com total precisão.

Foto: DR

Nesta edição da Watches & Wonders, a VCA reinterpretou também um dos seus modelos mais icónicos, o Lady Arpels Jour Nuit – precisamente por ter essa indicação no mostrador. Temos agora dois novos modelos de 33 e 38 mm, que apresentam discos rotativos de 24 horas, exibindo a Lua e as estrelas em ouro branco, engastadas com diamantes e, no caso do modelo de 33 mm, com o Sol em ouro amarelo em guilloché (raiado) ou no modelo de 38 mm, embelezado por safiras amarelas. 

A Clair de Rose representa atualmente a versão mais moderna e delicada da Tudor e, possivelmente, aquela que melhor a distingue da irmã mais velha, a Rolex. Um caminho que a marca tem vindo a trilhar com cada vez mais confiança. As origens da Clair de Rose remontam ao período Art Deco, algo muito evidente no cabuchão da coroa, e o nome resulta de uma brincadeira entre o Clair de Lune e a Rosa, o primeiro símbolo a representar a Tudor. Este ano, a coleção recebe pela primeira vez o emblemático azul Tudor e vê a linha expandir-se com três tamanhos, dos mais delicados 26mm aos 34, passando ainda pelos 30 mm. Sempre com as braceletes metálicas de 5 elos, os famosos "grão de arroz".

Foto: DR

Last, but not Least, um novo Happy Sport da Chopard, porque "os diamantes são mais felizes quando estão livres", como brincou a copresidente da marca, Caroline Scheufele. Foi ela mesmo quem desenhou os primeiros modelos no início da década de 1990, tudo porque não encontrava um relógio com o qual se identificasse ou a acompanhasse no seu estilo de vida. Nem sequer na marca de família. Vendida a ideia internamente, os Happy Sport originais juntaram aço e diamantes pela primeira vez, e este ainda por cima à solta no mostrador. O seu sucesso marcaria a história da relojoaria conjugada no feminino, e o novo capítulo que agora abrimos acrescenta-lhe um toque de leveza e de cor, com a bracelete em pele azul-marinho − porque o verão está a chegar e queremos dar mais alegria às nossas vidas.

Foto: DR
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