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Georgina Chapman, Marchesa. "Escolher um vestido de noiva passa por descobrir quem somos como pessoas."

A designer, especialista em vestidos de gala, colabora com a Pronovias para uma coleção especial de vestidos de noiva inspirada nas deusas gregas.

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24 de julho de 2023 Rita Silva Avelar

Marchesa era um nome adormecido na indústria, pelo menos até 2017, até que depois da pandemia renasceu das trevas, e agora celebra uma nova parceria com a Pronovias. A designer fundadora, que tem agora 47 anos, lançou a sua marca em 2004, ao lado de Keren Craig, inspirada pela socialite Marchesa Luisa Casati. Nos tempos áureos da marca, Chapman vestiu celebridades como Vera Farmiga, Sienna Miller, Sandra Bullock, Sarah Hyland, Poppy Delevingne, Karolína Kurková ou Nina Dobrev, em eventos tão distintos como a MET Gala, o MTV Music Video Awards ou os Óscares. Em 2019, a sua marca atravessou um período de crise, devido ao escândalo sexual que envolveu o produtor Harvey Weinstein (com quem Chapman esteve casada de 2007 a 2021 – embora o divórcio só tenha sido formalizado neste ano, separaram-se em 2017 - , e com quem tem dois filhos).

Filha de uma jornalista e de um empresário, Chapman sempre quis seguir moda, mas ainda fez alguns filmes (Match Point, 2005; Fora de Rumo, 2005; ou Acordado, 2007, são exemplos). Depois de estudar no Chelsea College of Art and Design, em Londres, percebeu que era feliz a criar vestidos de sonho para mulheres que se queriam sentir especiais, sobretudo em eventos importantes das suas vidas, incluindo, claro, os casamentos. A Marchesa passou a fazer parte do restrito clube de marcas de luxo que desfilam nas importantes semanas da moda internacionais. Nesta sua nova colaboração, desta feita com a marca de vestidos de noiva Pronovias com quem já tinha unido forças em 2021, inspira-se na Grécia Antiga para lançar 21 exemplares, todos eles especiais à sua maneira.

"A designer, que tem agora 47 anos, lançou a sua marca, a Marchesa, em 2004, ao lado de Keren Craig, inspiradas pela socialite Marchesa Luisa Casati". Foto: @georginachapmanmarchesa

Quais são os pontos altos da sua carreira? Como é que olha para o seu percurso na moda, até chegar aos vestidos?

Sinto-me incrivelmente sortuda por ter tido a carreira que tive e por poder fazer o que sempre sonhei fazer. É um privilégio poder estar todos os dias na indústria dos vestidos de noiva, na qual é uma honra incrível trabalhar com uma mulher no dia mais importante da sua vida. Por isso, para mim, um dos grandes highlights da minha carreira é precisamente esta colaboração com a Pronovias. Isto permitiu-me chegar com a minha marca a um público realmente global, e criar peças especiais, românticas e maravilhosamente trabalhadas, por um preço raro. Por isso, sinto-me muito orgulhosa desta coleção e estou incrivelmente entusiasmada.

Falou no preço. Tornar os seus luxuosos vestidos mais acessíveis era uma coisa que queria mesmo fazer?

Sim, é precisamente isso. E sinto que, com parceiros tão incríveis e com um impacto tão global... Conseguimos chegar a tantas mulheres! Com este trabalho artesanal e com a experiência dos costureiros, conseguimos fazer um produto muito bonito e a um preço competitivo. É realmente notável não ter sido preciso abdicar nem do design nem da beleza. 

Esta coleção, com formatos volumosos e estruturados, inspira-se nalgum período em particular?

Esta coleção foi inspirada na mitologia grega, que inspira muitas noivas. Mas também olhámos para a Arquitetura. Destacámos, por isso, os drapeados. Verá que algumas das peças são mais arquitetónicas, num contraste com a delicadeza grega. No geral, o objetivo foi criar algo belo, romântico e sempre clássico. 

Modelo Harmonia da coleção Marchesa x Pronovias.
Modelo Harmonia da coleção Marchesa x Pronovias. Foto: D.R

Tem na sua equipa pessoas especiais para fazer os pormenores.

Sim, temos. E na minha equipa de design tenho designers que trabalham especificamente com os bordados e com os tecidos. Esta é uma parte muito importante do que fazemos, na Marchesa. Por isso, é uma parte muito importante da nossa colaboração com a Pronovias, que tem uma equipa fantástica que dá vida às nossas visões. Por isso, é sempre um momento muito empolgante ver a coleção a ser criada e a incorporar estes pormenores.

De onde vêm os tecidos?

Acho que teria de falar com a equipa [da Pronovias] para isso. No que toca à minha colaboração, em conjunto com a minha equipa fazemos toda a inspiração criativa. E cabe à Pronovias fazer o trabalho fantástico de obter todos os tecidos e materiais. E é aqui que a união se concretiza, pois eles podem ajudar a criar a visão dos mercados como marca de noivas, e com o seu incrível design artístico para montar a coleção, e também encontrar todos os requintados apliques.

Recuando aos seus primeiros passos nesta indústria: como é se tornou especialista em vestidos? Porquê vestidos?

Sabe, desde muito pequena que eu quis ser designer. Quando era muito pequena, talvez com 6 anos, fui pela primeira vez ao Victoria and Albert Museum, vi aqueles trajes todos e lembro-me de ter ficado muito impressionada com a beleza deles e, nessa altura, tornou-se muito claro para mim que queria que esta essência romântica fizesse parte da minha vida. Sempre me senti muito desiludida por ter nascido numa época em que usávamos calças de ganga e t-shirts. Por isso, queria recriar este outro mundo onde as mulheres usavam vestidos incríveis todos os dias e, desde criança, gostava de desenhar vestidos. Quando chegou a altura de ir para a faculdade, estudei design e comecei a desenhar figurinos, depois segui Moda. Além disso eu adoro noivas. 

Tem alguém na família que a tenha incentivado a seguir esta paixão?

À medida que eu crescia, a minha mãe mostrava-se incrivelmente por dentro da Moda, e tinha um sentido de estilo inato, pelo que a via vestir-se quando eu era criança, o que [para mim] a tornava muito racional. Acho que foi mesmo a minha mãe. Isso, e parte deste sentido de sermos capazes de realçar a nossa beleza, de sermos apaixonados por isso e de nos sentirmos bem com isso. Atribuo-lhe o mérito de me ter feito sentir a necessidade de entrar na moda.

Ao longo destes anos, o que é que percebeu que as noivas mais procuram nos seus vestidos? E o que é que, para si, um vestido de noiva deve ter?

Encontro nas noivas a necessidade de as ajudar a encontrar o vestido perfeito. Isto para mim torna-se realmente um projeto.  Normalmente, elas sonham com ele (o vestido) toda a sua vida e, por isso, encorajo-as sempre a lembrar-se desse momento, porque este é um vestido para o qual elas vão ter de olhar durante muitos e muitos anos. Por isso, [um vestido de noiva] deve ter um sentido de intemporalidade e tornar-se verdadeiramente personalizado. Acho que é correto ir por aí. O sentido de moda vem de dentro da noiva. Em última análise, este é um momento muito pessoal para ela, e é um momento que vai guardar para toda a vida.

Escolher um vestido de noiva passa por descobrir quem somos como pessoas. É isso que é tão especial nos vestidos de noiva. Não se trata necessariamente do que está a acontecer no momento. Mas também é igualmente importante a forma como a mulher se sente e se mexe nele, claro. Normalmente, um casamento é um dia longo, por isso também se quer sentir confortável. Por isso, passamos muito tempo nos esboços e na alfaiataria, certificando-nos de que o vestido lhe dará todo o conforto. Não queremos estar sempre a puxar o vestido para cima, por exemplo. 

Modelo Nemesis da coleção Marchesa x Pronovias.
Modelo Nemesis da coleção Marchesa x Pronovias. Foto: D.R

Falando genericamente de vestidos, qual é o perfeito, para si?

Acho que isso é impossível de dizer. O que é maravilhoso na moda é que todos os dias acordamos um pouco diferentes. Por isso, o meu vestido perfeito de hoje não será o meu vestido perfeito de amanhã, e todos os dias nós mudamos um pouco. Então, há dias em que talvez eu mude. Há dias em que volto a vestir algo que não queria há 10 anos, que não iria voltar usar. Mas, de repente, sinto-me como se fosse essa pessoa [do passado]. E é isso que eu adoro na moda. É tão individual e tão profundamente personalizado.

Todos os artistas, incluindo os designers, se inspiram na Cultura? Que filmes, livros e músicas a inspiram nas suas referências estéticas?

Acho que são sempre as referências culturais que têm mais impacto nas minhas criações. E sempre que começo uma grande coleção, começo com um moodboard. E assim, com imagens, as ideias podem surgir-me a qualquer momento. Mas observar o mundo todos os dias, quer estejamos a caminhar numa floresta, na cidade ou a conversar com alguém, vai preencher os nossos instintos criativos, de modo que não podemos deixar de trazer para o nosso esforço criativo o que está culturalmente à nossa volta. Por isso, isso vai sempre acontecer, mas em cada coleção tentamos racionalizá-lo. Para ter uma visão única, como esta. Esta coleção é sobre as deusas gregas e a mitologia.

Acredita que a escolha cromática tem peso na forma como pensa as coleções? E como imagina as energias de cor para as noivas?

Sim, fazemos isso em cada coleção, temos sempre uma história de cor. Depende muito do design e do movimento do design, se se trata de uma peça mais ousada ou de um vestido mais romântico, depende também do tecido... Determinados apliques são melhores com certas cores. Outras não ficam tão bem e, quando se trata de noivas, resume-se quase sempre ao que é tradicional e ao branco, mas também é muito divertido brincar com a cor. Por veses, arriscamos e fazêmo-lo. 

No Instagram, Georgina conta com mais de 200 mil seguidores.
No Instagram, Georgina conta com mais de 200 mil seguidores. Foto: @georginachapmanmarchesa

E quais são as principais tendências para as noivas? O que é que vemos agora, neste ano, nesta estação?

Nesta estação, concentrámo-nos, tal como em todas as estações, em tentar chegar a todas as mulheres com as suas diferentes silhuetas. E também criámos muitos acessórios. Assim, uma mulher pode personalizar e criar realmente o seu visual e fazer as suas escolhas. Temos, sabe, saias sobrepostas, por exemplo. Mas acho que, em última análise, as noivas estão muito interessadas em procurar algo muito único, que as faça sentir especiais no dia do casamento. Mas também procuram algo confortável, para poderem desfrutar do seu dia. Portanto é tentar casar os dois mundos.

E, finalmente, como em qualquer coleção e em qualquer empresa, todas as marcas têm altos e baixos. Como é que lida com os momentos mais difíceis?

Sabes, como toda a gente faz. Acho que todos nós passámos por momentos difíceis na pandemia. Por isso, acho que sei qual é o meu conselho para quem está a começar um negócio. Um deles é: nunca se sabe o que o amanhã trará, mas quando estou a fazer aquilo que me apaixona e de que gosto, acordo todos os dias e sinto-me abençoada por viver e poder ir trabalhar. Todos os dias trazem algo diferente, e alguns dias são fantásticos, e outros dias são desafiantes. Mas os dias desafiantes são uma altura para se ser criativo, para descobrir como nos conhecemos e como nos estruturamos, e os dias fantásticos são de celebração. Cada um destaca o outro. Por isso, é a alegria da vida a passar. 

Modelo Hestia da coleção Marchesa x Pronovias.
Modelo Hestia da coleção Marchesa x Pronovias. Foto: D.R

Acredita nisso? Esse otimismo mantém uma marca durante tantos anos?

Quer dizer... Não sei, não sei. É assim que me sinto. É preciso ter paixão pelo que se faz. E isto é muito importante, porque se não fores verdadeiramente apaixonado pelo que fazes, então sabes que não é a mesma coisa. O meu negócio é como se fosse o meu terceiro filho.

Mencionou a pandemia, foi assustador não poder ver as suas coleções em desfile?

Estivemos a criar o tempo todo. Apesar de não estarmos a expor, continuávamos a fazer as criações e as coleções. Para mim, claro que é muito bom mostrar os vestidos, mas a minha paixão é mesmo desenhar e fazer o trabalho de bastidores, e isso não parou. Por isso, continuo a sentir-me criativamente realizada.

Como é um dia na sua vida?

Oh, meu Deus! Todos os dias são diferentes. Tenho dois filhos. Tenho muitos animais e trabalho a tempo inteiro, por isso todos os dias são novos dias. Mas é divertido. É muito divertido. E estou muito grata por isso todos os dias.

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