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Moda / Tendências

Arte ou joalharia?

Há uma joalheira portuguesa a criar geometria em prata e ouro, objetos especiais inspirados em formas arquitetónicas, nas ciências e no futuro. A Vanglória é poesia para a indústria, uma esperança de modernidade nas mãos de uma criadora com um ponto de vista.

08 de setembro de 2017 às 07:00 Carlota Morais Pires

Subo até ao último andar de um edifício antigo no Chiado e entro numa casa restaurada que parece receber toda a luz de Lisboa. É neste showroom de marcas portuguesas que Vanessa Pires expõe as suas joias, meticulosamente suspensas no ar, atrás de grandes montras de vidro.

A criadora despertou para o universo da joalharia com apenas 16 anos, altura em que olhou pela primeira vez para as criações de René Lalique, expostas na Gulbenkian. "Fiquei maravilhada com a coleção de joalharia", sorri. Ainda estudou Marketing e Publicidade, mas quis correr atrás da vontade de aprender a criar objetos especiais. "Já depois de me licenciar, inscrevi-me numa escola chamada Contacto Directo (que entretanto deixou de existir), onde aprendi as técnicas básicas de joalharia, mas só consegui aprofundar os meus conhecimentos mais tarde, quando comecei a trabalhar como assistente de um mestre joalheiro, o José Maria Bolhão", conta, enquanto tira uma pregadeira de uma caixa. "No ateliê fazíamos Alta-Joalharia, perdíamos tempo com cada peça, foi ali que aprendi a casear e a batear." Aponta para a parte de trás e passa o dedo pelos (quase impercetíveis) quadrados em prata, um trabalho minucioso que parece quase impossível de concretizar. "Trabalhei durante três anos em Alta-Joalharia e aprendi toda a técnica, mas também a disciplina, o rigor, a exigência e o perfecionismo. É assim a joalharia da velha guarda, mesmo como se imagina, num ateliê com os dedos e a cara suja", ri. 

"O próximo passo foi tirar o curso de punção (o contraste das joias) e criei a minha marca, a Vanglória." Toca nas diferentes coleções e segura (com amor) nas peças que criou com as suas mãos, cada uma delas traçada a lápis e imaginada ao pormenor na sua cabeça. Percorre as coleções com os dedos, todas têm um ponto de vista bem definido – e são modernidade, forma, criatividade e geometria. "Se te falar de um estilo específico, a minha maior influência é a Art Déco", diz, apontando para as pequenas pulseiras em prata que fazem lembrar órbitas de planetas. "Depois, encontro inspiração na natureza e na arquitetura, mas sobretudo na matemática. Faço pesquisas online e olho para os diagramas de ciências, são desenhos muitos bonitos e imagino-os em três dimensões, consigo pensar imediatamente nas peças, nas chapas intercruzadas e nas formas já concretizadas. Não sou muito experimental, gosto de avançar para um projeto já com a ideia completamente definida na minha cabeça", resume a criadora.

Pensa à velocidade da luz e vai deixando que a conversa se torne ainda mais interessante quando fala do processo criativo, de como olha o mundo. Está à frente do tempo e, talvez por isso, o seu trabalho está a ter maior impacto a nível internacional. "Eu trabalho essencialmente com formas geométricas e em Portugal ainda há a preferência pelo design orgânico. Estou a tentar ceder ao mercado, mas mesmo as formas orgânicas têm de ser estilizadas, tenho de lhes dar um formato novo. O que me dá mais prazer na criação é a transformação e saber que acrescentei elementos únicos a uma peça, gosto que tudo tenha um significado", conta Vanessa Pires. "Por exemplo, criei a minha última coleção a partir das proporções áureas e da sequência de Fibonacci. Existem vários lados e no design da folha, o segmento seguinte é a soma dos dois segmentos anteriores. O número áureo é considerado a assinatura de Deus e está em todo o lado, até na natureza", diz. "O mais importante é que eu sinta que estou a criar um objeto especial." 

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