Olivier Rousteing despede-se da Balmain após 16 anos à frente da casa parisiense, deixando para trás um legado que ultrapassa largamente as fronteiras da moda. Quando chegou à marca, em 2011, com apenas 25 anos, foi recebido com uma certa desconfiança pela indústria — demasiado jovem, demasiado ousado, demasiado diferente para alguns. Tornou-se, no entanto, o diretor criativo não fundador mais jovem a liderar uma grande marca desde Yves Saint Laurent na Dior, e, além disso, o primeiro homem negro a assumir a direção criativa total de uma casa francesa. A sua presença, o seu trabalho e a sua visão reconfiguraram muito mais do que o guarda-roupa Balmain; mudaram o modo como a indústria pensa sobre representação, identidade e poder.
Durante a sua liderança, Rousteing transformou a Balmain numa marca sinónima de glamour moderno, silhuetas esculturais e um sentido de confiança quase teatral. Nasceu, sob o seu comando, aquelo que se viria a chamar o “Balmain Army”: uma comunidade global que transcendeu fronteiras e que incorporou celebridades, modelos, artistas e seguidores digitais. Rousteing soube compreender a força das redes sociais antes de muitos dos seus pares e utilizou essa plataforma para aproximar a moda do público, convidando-o para dentro dos bastidores, revelando processos, fragilidades e sonhos. A Balmain de Rousteing foi simultaneamente espetáculo e sinceridade, luz e intensidade.
Mas o seu impacto não se fez apenas nas passerelles ou campanhas. Ao longo da sua carreira na etiqueta, Rousteing tornou-se símbolo de resiliência pessoal. Nunca escondeu as suas batalhas: o processo da sua adoção, a procura pela identidade, o acidente doméstico grave que o deixou com queimaduras severas e que revelou ao mundo com grande transparência. A sua história é também sobre cura, reconstrução e transformação — elementos que se refletiam, de forma subtil ou explícita, nas coleções que apresentava.
No comunicado de despedida, publicado no Instagram, Rousteing falou de amor, de família escolhida, de gratidão. "Nada disso teria sido possível sem a minha família escolhida, a minha equipa, o grupo e todas as pessoas que acreditaram em mim desde o início." A sua mensagem evidencia que esta não é uma ruptura amarga, mas sim o fim natural de um ciclo profundamente vivido. Agradeceu à equipa, ao fundo Mayhoola, que detém a marca, às pessoas que acreditaram nele quando ainda era uma promessa, e ao público que cresceu com ele, estação após estação. “Cheguei com os olhos bem abertos e saio com os olhos ainda bem abertos”, afirmou.
Agora, aos 40 anos, inicia um novo capítulo — e a indústria observa, expectante. Rousteing deixa Balmain com a marca de quem não apenas criou roupas, mas histórias. Histórias sobre pertença, beleza, força e diversidade. Não sabemos ainda qual será o próximo palco, mas sabemos, com alguma certeza, que continuará a moldar a moda de formas que ainda estamos a aprender a reconhecer.