Festa marcada, closet vazio? 5 marcas portuguesas que tornam o aluguer irresistível

Entre convites que pedem "algo novo" e a vontade de consumir melhor, o aluguer de vestidos tornou-se a forma mais elegante de brilhar sem pesar na carteira, nem no planeta. Em Portugal, cinco marcas lideradas por mulheres estão a provar que estilo, sustentabilidade e serviço personalizado podem (e devem) andar de mãos dadas.

Alugar roupa é a nova forma de brilhar sem pesar na carteira ou no planeta Foto: DR/ @xapica / @wawwwcloset / @rent_a_char / @lafripe_cestchic
26 de agosto de 2025 às 17:04 Safiya Ayoob

Com convites que chegam em série e feeds preenchidos por looks irrepreensíveis, a pressão para “levar algo novo” a cada ocasião especial continua real - e pouco amiga do ambiente (e da carteira). A boa notícia? O aluguer de vestidos deixou de ser uma solução de nicho para se tornar uma escolha informada, sustentável e, sobretudo, desejável. Em Portugal, multiplicam-se os projetos que combinam curadoria exigente, serviço personalizado e um compromisso claro com a circularidade. Fomos ouvir cinco fundadoras que, de dentro do closet e com muito estilo, estão a redefinir a etiqueta do vestir: experimentar, partilhar, devolver e brilhar.

La Fripe C’est Chic 

PUB

Carolina Lains Canas trouxe para a La Fripe C’est Chic a escola prática de anos como stylist e produtora de moda: “Sempre me interessou a individualidade de cada estilo e de cada pessoa.” A marca nasce de um gesto simples - dar destino ao “excesso” do próprio armário - e transforma-se num serviço com acompanhamento próximo: “Sendo stylist, acompanho cada cliente desde a primeira visita até ao momento em que usam o vestido. Este aconselhamento é gratuito e faz parte do serviço.” 

O nome vem do francês (fripe significa roupa em segunda mão) e resume a tese da casa: usado também é chique. Na Fripe, a variedade vive da curadoria: tamanhos do XXS ao L e um leque de designers internacionais - de Paco Rabanne e Óscar de la Renta a Emilio Pucci, Missoni, Zimmermann ou Simon Miller - que raramente chegam ao público fora do circuito das celebridades. Como explica Carolina, a missão passa por “democratizar esse acesso e dar a qualquer pessoa a oportunidade de usar exatamente as mesmas peças que já foram escolhidas e vestidas pelas suas referências e ídolos”. É moda circular, sim, mas com olho clínico de stylist e proximidade de “mensagem de WhatsApp”.

Aluguer de vestidos: estilo, sustentabilidade e serviço personalizado em Portugal Foto: @lafripe_cestchic

Rent-a-Char 

PUB

Criado por Carlota Loureiro (a “Char” do nome) em 2021, o Rent-a-Char parte de uma ambição clara: alinhar sustentabilidade e economia com a vontade - tão humana - de ter “o outfit certo para a ocasião certa”. Nas palavras da fundadora, “Em Portugal é a marca pioneira no mercado de aluguer de vestidos”, afirmação sustentada por uma comunidade fiel e crescente onde cabem clientes, influencers e atrizes.

A oferta impressiona em volume e história: são mais de 400 vestidos, do vintage herdado da avó a modelos únicos feitos por modistas portuguesas. Há ainda um trunfo pouco comum - acessórios para compor o look completo (carteiras, chapéus…) e até uma Ski Collection para aventuras na neve. O modelo é simples: “Há opções para todos os tamanhos, sendo que apenas existe um tamanho de cada vestido.” Tradução: exclusividade por peça, elevada rotação e a emoção de descobrir o tal. 

Descubra cinco marcas portuguesas para alugar o vestido perfeito para cada ocasião Foto: @rent_a_char

Sfilata 

PUB

Duas irmãs, Sofia d’Orey e Vera d’Orey, perceberam na própria pele o paradoxo da festa: o armário cheio e a sensação de “não ter nada para vestir”. Daí nasceu a Sfilata (desfile, em italiano), pensada para que “cada cliente se sinta como se estivesse numa passerelle, confiante e deslumbrante”. A coleção começou, em março deste ano, com as peças das próprias fundadoras e tem crescido ao ritmo do feedback de quem experimenta. 

O foco é nítido: vestidos de festa que vão do clássico ao contemporâneo, sempre com atenção à qualidade do tecido e à arquitetura do corte. As opções de tamanhos giram maioritariamente em torno do S e M, mas com um cuidado especial na versatilidade: elásticos, fechos estratégicos e modelagens que adaptam a peça do XS ao L em alguns casos. “É fundamental que todas as mulheres, independentemente do corpo, possam sentir-se incríveis”, sublinham. O resultado é uma curadoria que privilegia a elegância funcional: vestir-se bem, sem amarras. 

Alugar roupa para eventos é a solução sustentável e elegante para brilhar em qualquer ocasião Foto: @sfilata

WAWWW Closet 

PUB

Joana Miranda transformou o “peso na consciência” de ter demasiados vestidos numa plataforma de partilha com propósito. WAWWW é acrónimo de We Are(n’t) What We Wear e a filosofia está à vista: “Embora a roupa seja uma das nossas paixões, continuamos a defender que valemos mais pelo que somos.” O closet, nascido durante a pandemia e apresentado ao mundo em 2021, conjuga peças intemporais, vintage de qualidade e criações da própria marca WAWWW (vestidos feitos ou transformados in-house). 

A oferta atravessa do cocktail à gala, do clássico ao arrojado, com forte influência da moda espanhola e um rol de etiquetas que vai de MATTUÎ, Lady Pipa, Sézane e An&Be a marcas portuguesas como INDI Lisbon e FV the brand. O serviço completa-se com aconselhamento personalizado - hoje com uma Personal Stylist dedicada - e um objetivo assumido de democratizar tamanhos: começaram com predominância de S e M (o espelho do closet de origem), mas a variedade tem vindo a aumentar para que “o futuro seja o mais democrático possível”. 

Alugar vestidos é solução sustentável para eventos, com marcas portuguesas a redefinir a moda circular Foto: @wawwwcloset

XAPICA

PUB

O nome XAPICA condensa a amizade de Alexandra Filipa (Xana Pipa) e Carlota, e um episódio que ficou para a história (e para o logótipo): “Na sessão fotográfica uma de nós foi picada por uma abelha”. Entre risos, fica a intenção séria: dar vida aos vestidos parados no armário — “tão giros” que não se quer vender — e colocá-los a circular. 

A curadoria cruza high-street e indie: Farm Rio, Lagaam, Zara, Mango, Sfera, Maje, Tema, Baymo, peças vintage e outras descobertas. A marca abriu portas a 1 de maio e aposta em S e M como base, com modelos “bastante adaptáveis a todos os corpos”. É um projeto jovem, fresco e com um ADN descontraído que promete crescer com a comunidade. 

UD_xapica Foto: @xapica

Para lá do óbvio, poupar em peças tipicamente usadas uma ou duas vezes, o aluguer traz benefícios concretos: reduz o desperdício, prolonga a vida útil dos vestidos e democratiza o acesso a marcas e materiais de qualidade superior. O efeito colateral é feliz: mais experimentação (cores, cortes, padrões) e menos culpa. 

PUB
leia também

Guerra e paz: a moda além do sentido estético

A designer francesa Marine Serre apresentou uma coleção cápsula chamada "Paz", com representações dos conflitos no Congo, no Médio Oriente e no Sudão. Como se exprime a moda perante a guerra? O Dicionário de Estilo tenta responder.

PUB
PUB