"É reconfortante perceber que o início não dita em nada onde chegamos ou o que nos tornamos"
Fortemente inspirada pela figura feminina, a marca de moda portuguesa não pretende seguir tendências, priorizando a identidade criativa. A DONNA NOIR veste ilustres figuras públicas nacionais e leva o talento do design português além-fronteiras.
Donna Noir cria moda sustentável em Lisboa, com inspiração global e parcerias marcantes
Foto: DR09 de julho de 2025 às 11:38 Margarida Bexiga / Com Rosário Mello e Castro
Começou em plena pandemia da covid-19, no atelier no LxFactory onde passou horas a fio. Amaternidade trouxe-lhe certezas sobre os seus interesses pessoais, o que permitiu que se dedicasse a passatempos pelos quais nutria uma verdadeira paixão, tornando-se aprendiz no design de moda. Também uma viagem ao Vietname, em fevereiro de 2020, deu-lhe o impulso e coragem de que precisava para arriscar e criar a DONNA NOIR. Dada a época vivida, as suas primeiras criações foram máscaras faciais, sem equacionar no que a marca poderia vir a tornar-se. Inicialmente era apenas um “escape”, que resultou numa das marcas de moda nacional mais promissoras. Define a DONNA NOIR como a sua perspectiva pessoal no mundo da moda, “sem a preocupação de seguir regras, tendências ou a comparação com os outros.” Conversámos com Margarida Gonçalves, também conhecida como DONNA NOIR, o alter ego que deu nome à marca da criadora.
Donna Noir cria moda sustentável com atelier em Lisboa e projeção internacional
Foto: DR
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O que difere a DONNA NOIR do restante panorama do design de moda português?
Tenho bem claro para mim que a moda em Portugal ainda tem muito para crescer e para se expressar num plano global. Sei que há muito talento, há pessoas muito criativas, muitos capazes, produção de qualidade, comprometimento com princípios de sustentabilidade, ética profissional e movimento apoiado em slow fashion muito fortes. A DONNA NOIR foi criada por alguém além-fronteiras, alguém que é apenas uma mente criativa, altruísta e perseverante, que se projeta no futuro, de Portugal para o mundo.
Como é feita a produção das peças, com confecção em Portugal, seguindo o modelo sustentável do slow fashion?
A DONNA NOIR tem atelier próprio em Lisboa, e trabalha igualmente com confeções e fornecedores em Portugal, entre Lisboa e norte do país, mediante as necessidades. Antes sequer de ouvir falar no modelo slow fashion, a DONNA NOIR, de forma espontânea, já seguia muitos passos nesse sentido. Por exemplo: o primeiro fornecedor de tecidos e matéria-prima foi a Riopele e comprávamos dead stock das grandes marcas internacionais. Não abdicamos de trabalhar num formato de comércio justo com quem produz as nossas peças e, na DONNA NOIR, não usamos estes valores como bandeira de marca, eles são uma base inegociável para continuarmos a fazer o que mais gostamos e da forma que acreditamos.
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Donna Noir leva moda portuguesa além-fronteiras, com peças sustentáveis e parcerias de sucesso
Foto: DR
Em diversas ocasiões, representou a marca internacionalmente. Qual o significado de levar a moda portuguesa além-fronteiras?
Amo Portugal, mas eu amo ainda mais levar Portugal para o mundo. Já o fiz de várias formas, assim como ao contrário também. Trago sempre parte do mundo comigo em todas as viagens que faço e essa troca é das maiores dádivas que tenho na vida. A moda é uma extensão do que eu amo, e levar comigo o que me representa enquanto criativa e designer da DONNA NOIR é exatamente o que eu me vejo a fazer com mais consistência e cada vez melhor.
Margarida Gonçalves, Donna Noir, cria peças de moda sustentável em Lisboa, com reconhecimento internacional
Foto: DR
Quais as suas principais inspirações?
A Mulher na sua complexidade, que é uma avalanche de coisas. O que me inspira é tão subtil quanto emoções, memórias, sensações.
A Bárbara Tinoco tem brilhado nos palcos e passadeiras vermelhas com vários looks da sua autoria. De que forma surgiu esta parceria com a cantora?
A Bárbara contactou-me um dia para fazer um look para um concerto, penso que em 2021, e desde então trabalhamos juntas. Ela é um furacão, admiro esta miúda de uma forma inexplicável e tenho muito orgulho nela, é sem dúvida uma mulher altamente inspiradora.
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Bárbara Tinoco veste DONNA NOIR, marca portuguesa sustentável de Margarida Gonçalves, com atelier em Lisboa
Foto: DR
Colaborou com marcas como a Swarovski, Mercedes-Benz e, mais recentemente, com as pastilhas Gorila. São todas colaborações bastante distintas. Como se desenrolou o processo criativo de cada uma?
Esse é exatamente o ADN da DONNA NOIR, não poderia ser de outra forma. A explicação de uma forma mais abrangente para as colaborações tão distintas, tem muito por base o facto de eu não ser bem igual a muitas pessoas à minha volta desde miúda. A doutrina era a que devemos estudar numa determinada área, seguir uma profissão, ter um marido, filhos e por aí adiante. Pois bem, eu mudei de agrupamento várias vezes, segui mais do que uma carreira, entrei em quadros de honra na escola por desempenho na área de cooperação para o desenvolvimento a nível internacional, vivi uma situação de guerra e vivi também verdadeiros filmes norte-americanos com famílias presidenciais da África Subsaariana, porque fui voluntária no Malawi com apenas condições básicas de sobrevivência num país onde se fala chichewa. A DONNA NOIR reflexe exatamente essa natureza, abraça esta ambiguidade como força criativa e sem imposição de limites. Já estamos inclusivamente a fechar a plano de colaborações para 2025-2026 e continuamos a apostar em algo extraordinariamente desafiante.
A DONNA NOIR, criada em Lisboa, leva o talento português além-fronteiras
Foto: DR
Quais os planos futuros e sonhos ainda por concretizar da marca?
Existe tanta coisa que queria conseguir fazer… ainda que não tenha bem claro que a DONNA NOIR é uma empresa por detrás de uma marca. É isso que ela é. No entanto, é claramente pensada como algo muito pessoal, que pretende deixar um legado pela força, pelo empoderamento, pela superação e por não ceder a pressões de mercado, manter princípios de produção e confeção justos. Fazer a diferença e ser reconhecida internacionalmente.
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