A lista dos tecidos mais tóxicos e que devemos evitar

Os tecidos que usamos no dia a dia não são inofensivos. Muitos são derivados de petróleo, contêm químicos tóxicos e são difíceis de reciclar. É urgente saber mais sobre o que vestimos para fazermos escolhas mais conscientes e sustentáveis. Eis os que não devemos usar.

Foto: Pexels
11 de setembro de 2024 às 13:48 Safiya Ayoob / Com Rita Silva Avelar

A moda não é apenas sobre estilo, é também sobre responsabilidade. Atualmente, muitos dos tecidos que compõem as nossas roupas são prejudiciais ao ambiente e à nossa saúde. Poliéster, elastano, nylon e outros sintéticos não são apenas derivados de petróleo, mas também contêm químicos nocivos que podem ser absorvidos pela pele. Com a crescente preocupação pelo ambiente e pela nossa saúde, é vital que comecemos a questionar o impacto das nossas escolhas de vestuário.

Os tecidos a evitar

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O poliéster, um dos tecidos mais comuns no mercado, deriva do petróleo e partilha uma origem com os sacos de plástico. Além de não ser biodegradável, o poliéster liberta microplásticos durante a lavagem, que acabam nos oceanos e contaminam a cadeia alimentar. De acordo com Joana Duarte, designer da Béhen, "o processo de tingimento do poliéster é altamente poluente e está associado a efeitos negativos na saúde humana, incluindo doenças relacionadas com a inalação de químicos". A reciclagem do poliéster é possível, mas complexa e degrada a qualidade da fibra, exigindo a adição de poliéster virgem. Mais ainda, investigadores da Universidade de Birmingham descobriram que as substâncias oleosas no nosso suor "ajudam os produtos químicos nocivos a sair das fibras microplásticas e a ficarem disponíveis para absorção humana", afirma Mohamed Abdallah, professor associado de ciências ambientais na Universidade de Birmingham e principal investigador do estudo, num artigo do The Guardian.

Outro tecido sintético a evitar é o elastano, que confere elasticidade às roupas, como leggings ou sutiãs desportivos. Assim como o poliéster, o elastano é derivado do petróleo e liberta microplásticos. Joana Duarte ressalta que "apesar da sua utilidade em peças que requerem flexibilidade, é importante estar ciente do seu impacto ambiental. Existem algumas alternativas, como o lyocell e o modal, ambos derivados da celulose de vários tipos de madeira." A designer continua, afirmando que devemos de comprar peças de roupa com este tipo de tecido "apenas se necessário e ter consciência de que são peças que não se degradarão, permanecendo intactas por centenas de anos."

Tecidos sintéticos, como o nylon e o acrílico, também apresentam os mesmos problemas, sendo produtos petroquímicos que libertam microplásticos, dificultam a reciclagem e são tratados com milhares de químicos durante a sua produção. Como explica o designer Don Kaka: "As pessoas não fazem ideia que roupas de poliéster e nylon são feitas de plástico puro e são processados com uma série de químicos destruidores de hormonas que podem provocar doenças."

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Um tecido feito à base de bambu talvez não seria o que pensássemos ter nesta lista. Afinal, o nome remete-nos para a natureza e tudo que é orgânico. A verdade é que no seu estado natural, esta planta é rígida e áspera e para se tornar maliável e fluída - como se espera num tecido - passa por um processo que liberta químicos tóxicos (dissulfureto de carbono, hidróxido de sódio e ácido sulfúrico), perigosos para a saúde, isto tudo de acordo com uma investigação levada a cabo pela marca de vestuário sustentável para atividades ao ar livre Patagonia.

Alternativas naturais e recicláveis

Em contraste com os tecidos sintéticos, existem várias alternativas mais sustentáveis que têm menor impacto ambiental e são mais saudáveis para o uso humano. Algodão orgânico, linho, lã e seda são alguns dos materiais que, sendo naturais, apresentam vantagens significativas.

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O algodão, embora natural, tem um impacto ambiental elevado, especialmente no consumo de água e pesticidas. No entanto, optar por algodão orgânico pode fazer uma grande diferença, pois utiliza menos recursos e segue práticas agrícolas mais sustentáveis. Joana Duarte recomenda procurar peças de roupa em algodão orgânico, como jeans e camisas, que são "de maior qualidade e respeitam o ambiente".

Outro tecido a considerar é o linho, uma fibra natural e respirável, ideal para climas quentes. O stylist Filipe Carriço destaca o linho como uma excelente opção para o verão devido à sua frescura e sustentabilidade. "São materiais orgânicos que merecem esta relevância pela sua função prática e menor impacto ambiental".

Além disso, há um crescente interesse nos tecidos recicláveis e inovadores, como o lyocell e o modal, que são derivados da celulose de madeira e possuem processos de produção mais amigos do ambiente. O mesmo se aplica a tecidos criados a partir de resíduos reciclados, como o plástico recolhido de oceanos. Estes tecidos estão a ganhar popularidade e, como nota Filipe Carriço, há fábricas, inclusive em Portugal, que estão a desenvolver novas formas de transformar plantas e outros materiais em tecidos recicláveis.

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A mistura de fibras: Um obstáculo à reciclagem?

Um desafio adicional no caminho da sustentabilidade na moda é a mistura de fibras. Muitas roupas modernas são feitas de uma combinação de fibras naturais e sintéticas, o que dificulta, ou até impede, a sua reciclagem. Segundo um estudo da Universidade de Estocolmo, "tecidos misturados retêm mais químicos tóxicos, dificultando não apenas a sua reciclagem, mas também aumentando os riscos de contaminação durante o uso", conta o ScienceDaily. A solução mais sustentável é optar por peças feitas de um único tipo de fibra natural, facilitando tanto o processo de reciclagem como a redução do impacto ambiental.

É urgente que façamos escolhas mais conscientes em relação ao que vestimos. Tecidos como o poliéster e o elastano podem ser baratos e práticos, mas o seu impacto no ambiente e na saúde humana é devastador. Apostar em fibras naturais, recicláveis ou em inovações sustentáveis na moda é um passo crucial para minimizar este impacto. Se a moda for sustentável, todos ganhamos: nós, o planeta e as gerações futuras.

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