Olga Noronha e um momento de magia na ModaLisboa
Mesmo com chuva e frio, nada nem ninguém poderia impedir a performance de Olga Noronha de seguir em frente, apresentada no terceiro dia da ModaLisboa Metaphysical. Num dia cheio de desfiles, eis um momento de emoção e beleza.

Ao terceiro dia da ModaLisboa, o tempo não deu tréguas a ninguém. Logo de manhã, o céu pesado e o vento forte adivinham longas horas de chuva. Dito e feito, chegada a hora da performance de Olga Noronha, a única no meio de vários desfiles, e as gotas caiam do céu.
Não obstante, o espetáculo tinha de continuar. Em conversa com a Máxima, a artista plástica contou-nos que não ir para a frente com a instalação Ensaio sobre o corpo-não-copo-no-corpo era uma "não hipótese". Foi obra do destino, diz-nos Olga, até porque a chuva parou logo a seguir. Algo que podia ter estragado a performance, acabou por transformá-la num momento mágico. "O meu grande desafio é trazer algum momento disruptivo, um momento que ninguém sabe o que esperar e que depois cria alguma supresa e emoção."



A dança, que visa reconfigurar o espaço, o tempo e o sentimento do corpo associado, foi executada na perfeição por três bailarinos vestidos de preto. Suspensa no ar, estava a estrela principal. "Tinha muita vontade de recontextualizar aquela grande escultura que lá está, que se chama Corpo Suspenso, e de a desenvolver em escala um pouco mais pequena, quase em fragmentos que dissipavam no tempo e no espaço", explicou a artista. Anteriomente, esteve em exposição na Boutique dos Relógios Plus, no Porto.

"Quando vim ter uma reuniao à ModaLisboa, porque geralmente gosto sempre de pensar nalguma coisa site specific e esse é o conceito principal da instalação, achei que sítio melhor não poderia existir para colocar aquela peça grande (referindo ao edifício em obras onde o evento desta edição está a ter lugar) e daí criar naturalmente um momento em calendário, com chuva ou com sol, a chover cats and dogs (gatos e cães), que fosse uma extensão do corpo." As partes mais pequenas da peça "são quase como microcorpos que saem desse corpo suspenso, que tem a silhueta de uma mulher impressa em três dimensões."



O momento foi surreal. Já com o sol posto, os dançarinos bailavam à volta do Corpo Suspenso, enquanto o público se reunia nas poucas cadeiras diponíveis na rua, abrigado com os guarda-chuvas pretos que foram distribuidos. Ainda antes da guerra na Ucrânia começar, Olga já se enamorara daquele espaço no Factory Lisbon. "Independetemente de eu saber que foi apenas um edifício que foi abatido e naturalmente um edifico que teria certamente memórias, mas que não foi fruto de conflito ou guerra, eram umas ruinas. E as ruinas transmitem sempre algum sofrimento. É um local decrépito, degradado, sem interesse e tristeza. Olhei para aquele local como um potencial para lhe trazer beleza e poesia, uma revalorizaçao daquilo que é a memoria do que já foi, mas que pode ser algo mais. E foi isso que aconteceu."



No final, os corpos dançantes foram uma extensão de mim, orgulha-se Olga, "e ofereci-vos a todos vocês uma pequena parte do meu corpo que fica como testemunho deste momento. Enquanto artista plástica, o corpo é apenas o meu modo de inspiração, eu não faço usáveis, não faço roupas, e por isso precisei de, por mim mesma, demonstrar que o corpo é tão ou mais válido no contexto Moda mesmo sem Moda, mas com muita emoção." Vale ainda a pena destacar as escolhas musicais para a instalação. "Sabia que queria Michael Nyman para o início, porque toda a envolvente da banda sonora do filme The Piano traz sofrimento com base no amor, num amor entre um instrumeno como uma extensão do corpo." O problema é que a melodia não era longa o suficiente, confessou entre risos. "De repente, em shuffle das minhas músicas preferidas, surge-me o Haja o Que Houver, de Madredeus, e naquele momento soube que era esta." Quando a ouviu, foi uma espécie de entrega ao destino, "como se entregam as pessoas que estão neste momento a sofrer na guerra, como todos nós nos entregamos e como hoje me entreguei.


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