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Máxima

Moda

Glenn Martens assina colaboração com a H&M

Depois de colaborar com marcas como Balmain, Margiela, Comme des Garçons e Simone Rocha, a H&M revela uma das suas parcerias mais inesperadas e criativas até à data: uma coleção com Glenn Martens, designer belga conhecido pela sua visão experimental e pela reinterpretação irreverente das formas clássicas. A Máxima conseguiu uma entrevista exclusiva com o criador de moda.

Glenn Martens colabora com a H&M numa coleção experimental e irreverente
Glenn Martens colabora com a H&M numa coleção experimental e irreverente Foto: DR
17 de outubro de 2025 às 15:20 Inês Costa / Com Maria Salgueiro

Há colaborações que fazem todo o sentido e esta é uma delas. A nova parceria entre e a H&M, cuja campanha foi lançada esta sexta-feira, 17 de outubro, promete ser uma das mais marcantes da marca sueca. Desde moda feminina, masculina a peças unissexo e acessórios, é uma fusão entre a inovação, espírito avant-garde e moda acessível e democrática. Algumas peças do arquivo da H&M vão ganhar uma nova vida através da visão criativa do designer belga. A coleção chega à loja online a 30 de outubro, bem como a lojas físicas selecionadas.

A Máxima falou com o criador e com Ann-Sofie Johansson, consultora criativa de design da H&M. Esta última revelou que esta parceria será “uma das colaborações mais criativas" que a marca já fez. “O Glenn é uma das pessoas mais criativas com quem já trabalhámos – ele é brilhante", afirma, sublinhando que considera o resultado desta nova coleção "muito inteligente."

A colaboração nasce precisamente do diálogo entre o legado da H&M e o arquivo pessoal de Martens. Reconhecido pelo seu trabalho na Diesel e na Margiela e pelo legado criativo que deixou na Y/Project, introduziu o seu ADN pessoal com humor, surrealismo e um toque de ironia belga. A coleção começou com uma investigação profunda por parte do criador de moda ao arquivo da marca sueca, por meio da qual estudou as peças bestseller. “Essas são as peças em que se concentrou e a partir das quais fez a sua magia”, conta Ann-Sofie.

Martens reinterpretou esses clássicos à sua maneira, utilizando os seus códigos e assinatura. "É realmente um novo tipo de colaboração para nós – porque o designer está a trabalhar com o nosso arquivo ao mesmo tempo que com o seu próprio. É típico, quando trabalhamos com designers, que eles olhem para a sua própria herança e códigos, mas aqui, o Glenn está a olhar tanto para os seus como para os nossos."

Mas se há algo que distingue esta colaboração é o elemento de personalização e liberdade. “O Glenn interessa-se muito pelo lado democrático da moda, pela forma como nos vestimos todos os dias, escolhendo peças que combinem com as nossas vidas”, continua. “Acho que foi por isso que trabalhar com a H&M fez tanto sentido para ele  –  adorou a ideia de poder dar às pessoas acesso às suas peças e tocar o coração de mais consumidores com as suas criações e designs”.

Foi com base nos “arquétipos” do guarda-roupa - ou nos vários membros de uma grande família, como expõe Glenn Martens - que o designer acrescentou a dimensão de personalização. Explorando materiais como o arame, as estruturas metálicas, e os drapeados, para criar formas esculturais, o seu intuito é que as peças possam ser transformadas e utilizadas de diferentes maneiras: dobradas ou moldadas em novas formas, incentivando quem as veste a reinterpretá-las consoante o que está a sentir naquele dia.

A campanha inspira-se no imaginário britânico - muito apreciado por Martens, no sentido de humor perspicaz e irónico, numa certa herança cultural e social, no espírito de família, e num sentido de “classicismo” nos guarda-roupas, como acrescenta Ann-Sofie Johansson. O criador de moda descreve a campanha como “um retrato de família excêntrico”, com um grupo improvável de personagens, reunidas numa reinterpretação dos cenários de retrato aristocrático britânico.

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A coleção começou com investigações aos arquivo da H&M, as peças mais icónicas e best-sellers.  Como escolheu os “arquétipos” que quis usar como ponto de partida?

Vejo a coleção como uma grande família de peças de roupa, todas com múltiplos propósitos e pontos de partida diferentes. Todas têm personalidades distintas em diferentes momentos - formais, informais, exuberantes, discretas, clássicas ou provocadoras - e podem ser combinadas e interpretadas de diferentes maneiras: assim como as pessoas, que são elas próprias, mas estão sempre a mudar, a crescer e a sentir-se diferentes a cada dia. Eu interesso-me particularmente pelo vestuário que usamos no quotidiano, aquelas peças em que realmente vivemos, porque essas são, para mim, as que mais carregam histórias. O vestuário vai desde propostas fluidas até camisolas, gabardines e ganga. Vejo-a como representativa de um grande grupo de pessoas incríveis, como uma família completa. Por isso comecei a minha investigação com a H&M pelos bestsellers, pelas peças-chave: eu perguntei pelas peças mais populares e adoradas. Quais os verdadeiros clássicos em que as pessoas confiam estação após estação — e será que conseguimos imaginar como é que tantas pessoas diferentes usam a mesma peça, as diferentes formas como são usadas, os contextos e estilos possíveis, e podemos brincar com isso? Podemos criar algo novo e fresco que traduza a minha identidade enquanto designer, mas que também reflita a história das próprias roupas e a herança da H&M enquanto marca?

Apesar de a coleção ser uma homenagem ao legado e história da H&M, também reflete muito o seu percurso. É sobre as peças e os detalhes que formam a sua assinatura. Conte-nos qual foi o papel do seu próprio arquivo nesta colaboração?

Obviamente, quando olho para trás no meu percurso pessoal e profissional enquanto designer, está tudo conectado com o maior capítulo da minha vida, que foi o período em que fui diretor criativo da Y/Project. A Y/Project era uma marca pequena, foi relançada em 2012 e eu deixei-a em 2024, basicamente em setembro do ano passado. Esse tempo todo foi realmente determinante para eu desenvolver a minha filosofia pessoal de design.

Desde a minha saída, a Y/Project ficou em pausa - deixou de operar. Então pareceu-me lógico celebrar essa história e, de certo modo, dar-lhe uma nova vida. Vejo esta coleção como uma oportunidade de dar uma segunda chance e uma segunda vida a todas essas explosões criativas agora sob uma nova forma, para garantir que agora todos podem desfrutar: não apenas alguns privilegiados, mas também todas aquelas pessoas que nunca teriam sido alcançadas pelo Y/Project no passado. Foi um projeto muito emocional, quase como um “canto do cisne. Sei que esta será a última vez que exploro esses elementos tão característicos e experimentais..

Há muito humor na coleção, desde o trompe l’oeil ao pack de cinco boxers. Fale-nos sobre isso.

Eu acho que o absurdo e o humor são uma constante no meu trabalho. Conseguirá encontrar um toque de surrealismo no meu trabalho para a  Margiela, e muitas piadas e reviravoltas para a Diesel. Gosto de pensar que a moda é uma arte belíssima e muito séria, mas também deve ser divertida. Acho que isso vem muito da minha educação belga. A Bélgica não é um país particularmente bonito, chove quase todos os dias, é cinzento, tem pouca natureza. Não tem os recursos naturais que a Suécia tem, ou a herança artística e arquitetónica de Itália. Algumas partes são bonitas, mas no geral é um pouco cinzento e um pouco sombrio, e acho que para sobreviver a este tipo de ambiente, os belgas geralmente adotam a ironia ou o sarcasmo, e temos muito humor negro porque é assim que tornamos o dia-a-dia mais alegre e divertido. Penso que quem cresce em ambientes frios e cinzentos acaba sempre por encontrar refúgio no humor.

Muitas peças da coleção são adaptáveis. Podem mudar de forma ou tornar-se mais esculturais. Como imagina que as pessoas vão interagir com elas?

Pessoalmente, sinto que estas peças têm uma versatilidade enorme. Adoro como o pronto-a-vestir pode ser uma tradução do que uma pessoa sente num determinado dia — o seu estado de espírito, quem acreditam que são ou como querem ser vistas. E muitas vezes, uma só peça permite várias respostas, várias identidades. Há dias em que queremos um visual mais elegante, outros em que nos apetece algo mais desconstruído e divertido.

Tem peças favoritas na coleção? Que peças se destacam?

É difícil escolher. Acho que esta coleção é muito equilibrada, tem muitas peculiaridades, tem excentricidade, humor, e diferentes tipos de peças e de silhuetas.

A coleção explora profundamente a relação humana com a roupa — e presta homenagem à capacidade de encontrar vanguarda no quotidiano. O que o fascina nesses “arquétipos” ou clássicos?

Esta coleção convida o comprador a refletir sobre como quer ser visto; como é que quero que as pessoas olhem para mim e que sentimento quero transmitir hoje? Todos nós temos dias mais ousados - quis ligar esses impulsos criativos a arquétipos mais padrão do guarda-roupa: peças familiares, tradicionais, sobretudo nos guarda-roupas britânicos. Itens que reconhecemos da televisão, do cinema, dos clássicos: o trench coat, a camisa, o fato. De certa forma essas peças clássicas tornam-se numa tela em branco — e é importante manter isso, ajudam a manter uma âncora na realidade, a garantir que as explosões criativas não se tornam completamente alienadas da realidade. 

Encontra muita inspiração nas pessoas que observas nas ruas ou no metro. 

Tenho dois empregos e vários projetos paralelos, por isso, na realidade, não tenho muito tempo na minha vida privada para sair, pesquisar, ir a concertos ou ver filmes. Normalmente trabalho seis ou sete dias por semana e, quando não estou a trabalhar, estou no campo com o meu cão, os meus amigos, a cozinhar e a comer. Por isso, os momentos em que apanho o metro para ir ao escritório da Margiela são realmente especiais para mim, porque é finalmente o momento em que saio da minha bolha de trabalho. Acho incrível ver pessoas de todo o lado, a fazer todo o tipo de coisas, a passar tempo num espaço, a viajar. E isso deixa-me muito entusiasmado porque consigo ver como as roupas afetam quem as veste. Como um salto alto pode fazer alguém sentir-se mais elegante e como um par de ténis pode dar mais força. A roupa tem um impacto muito forte na pessoa, por isso o metro é realmente o meu momento de estudo.

Como escolheu o elenco da campanha? Conta com Richard E. Grant e Joanna Lumley, que são os dois icónicos.

Eles são absolutamente icónicos. E profundamente britânicos. Pareceram-me perfeitos para a coleção: partilham um sentido de estilo apurado e também uma certa perspicácia. Eles representam figuras quase patriarcais e matriarcais porque são muito queridos do público, por isso senti que eram perfeitos para este retrato de família pouco convencional.

Como tem sido trabalhar com a H&M?

Tem sido brilhante. Sou alguém que gosta de explorar tudo o que a moda tem para oferecer, e de trabalhar em diferentes contextos, desde a alta-costura até às marcas acessíveis. Então foi muito especial, e a H&M foi incrível na produção, super organizada e empenhada em encontrar formas de traduzir técnicas complexas para preços acessíveis. Sinto-me muito orgulhoso e honrado por ver o meu nome associado a uma coleção tão bonita.

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