Dating em Lisboa. “O verão terminou e, com ele, o meu potencial romance de Édipo”

O verão terminou e com ele o meu potencial romance de Édipo. Não envolveu mãe e filho, pois ainda não foi desta que me rendi ao lesbianismo, nem sequer à bissexualidade, mas envolveu pai e filho, o que não deixa de ser peculiar. O campo de batalha foi a praia. De um lado, o pai, um homem apresentável nascido no mesmo ano de Brad Pitt, mas definitivamente longe de apresentar os mesmos atributos físicos. Na vida real, os homens até podem envelhecer como o vinho do Porto, mas não possuem o selo Pitt. Trabalhador do sector financeiro, adepto de boas leituras, o pai tinha sempre uma sugestão de livro para me apresentar. Aliás, foi assim que a nossa amizade de verão começou. Do outro lado, o filho. Mais novo do que eu, ainda na casa dos 20 anos, parecia a versão melhorada do pai e até tinha uns olhos verdes de estrela de Hollywood. Já bem empregado, apesar da tenra idade, mostrava-se promissor. Também fisicamente mais atraente.
A tragédia grega que vos relato começou a desenrolar-se no regresso à praia, em meados de abril. Conhecido de outros verões, o reencontro com o pai deu-se de forma animada no areal do costume. “Então, por cá novamente?!”. Beijinho. Beijinho. Foram feitos os resumos dos meses passados longe da praia e citados os livros lidos. O pai aproveitara o inverno para pôr a leitura dos clássicos russos em dia. Algo que eu tencionava fazer. Já eu passara o inverno a ler uma panóplia de autoras, de Annie Ernaux, a Han Kang, passando por Chimamanda Ngozi Adichie. Os primeiros dias de praia foram-se vivendo assim, trocando ideias e sugestões literárias. O pai com o seu acampamento composto por chapéu de sol, cadeira de praia, geleira e raquete, num canto da praia. Eu no meu próprio canto, de puf e toalha. Chapéu só na cabeça e geleira ocasional. Os encontros davam-se à beira-mar, para cinco dedos de conversa que, às vezes, passavam a dez, e uns mergulhos.
Seguiram-se maio e junho. Os dedos de conversa foram aumentando. Os beijinhos também. Em julho, os beijinhos do pai passaram a incluir um abraço, o que na praia pressupõe demasiado toque corporal. Fui revirando um olho e outro, mas nunca demonstrei real incómodo. Aliás, foi crescendo em mim uma familiaridade que me levava a ansiar pelos fins-de-semana. Há pessoas que se queixam da rotina. A mim ela dá-me um certo gás, pois sem ela nunca teria do que escapar.
Ainda antes de entrarmos em agosto, conheci o filho. Foi num dia de Lua Cheia, a maré subiu, cobriu grande parte do areal e eu, que estava prestes a ir-me embora, fui convidada a mudar-me. “Vais-te embora? Anda para ali que ainda temos espaço”. Quando falou no plural achei que me incluía na frase. Na verdade, referia-se ao filho ou ao trio prestes a formar-se. Peguei na toalha e estendia-a ao lado do filho. Apresentações feitas. Beijinho. Beijinho. Não conversámos. Achei-o tímido. Peguei no livro que lia na altura, penso que era de Mário Vargas Llosa, Travessuras da Menina Má, uma das aquisições da Feira do Livro meses antes, e li o resto da tarde. Não sabia ainda que daqui a semanas a menina má seria eu. À noite, já em casa, recebi um pedido de amizade do filho no Instagram. “Interessante”, pensei. Apesar de não termos trocados mais do que duas ou três palavras, começámos a trocar mensagens nas redes sociais.
Aos 33 anos, está-se tão perto do começo da vida quanto do meio. É igual. Dez anos a menos, dez anos a mais. São só contas e números, somas e subtrações, com multiplicações e divisões porque todas as contas fazem parte da vida. Somam-se uns quantos namoros, subtraem-se os amores. Multiplicam-se as estórias e dividem-se os corpos. Apaixonamo-nos menos, mas amamos mais. Acumulamos as experiências e arriscamos as dores. Pelos vistos, também nos tornamos tão interessantes para homens de 60, quanto para putos de 30 anos, ou menos, neste caso, menos. É aqui que a tragédia se começa a abater. Não pela dúvida, mas pela dívida que acabamos por sentir que prestamos a cada metade de nós.
No dia seguinte regressei à praia e coloquei a tolha sob a alçada do acampamento do pai, mas esperava pelo filho. Quando finalmente chegou, o entusiasmo foi mútuo. Conversámos durante quase duas horas na água. Os meus dedos estavam engelhados e o queixo batia-me. Passou tanto tempo que a maré subiu e sem darmos conta coube ao pai proteger os nossos pertences de serem levados pelo mar. Os dias de praia foram-se seguindo e fui-me revezando entre pai e filho. Ora conversava com um, ora conversava com outro. O pai mais galanteador, arriscava conversar comigo sobre relações antigas e até falava livremente sobre sexo. Eu sabia que tinha sido casado por diversas vezes, três, salvo erro, e que todos os verões somava namoradas que não duravam até ao outono. Gostava da atenção que me dava, confesso, mas não me imaginava a ter um relacionamento com alguém assim. “Eu ainda quero casar e ter filhos. Tu já não estás para isso. Ficamos assim, que estamos melhor”, dizia-lhe eu e ele concordava, só para me dizer: “Sei lá, sei lá se o cupido não me atraiçoa e acabo casado outra vez”. E eu dava por mim a pensar se estaria a ser demasiado cautelosa ao não arriscar. Afinal, uma aventura nunca fez mal a ninguém – a quantidade de mentiras que contamos a nós próprios…
Do outro lado, o filho, era o oposto. Contou-me algumas façanhas engraçadas, mas era um rapaz dado a relacionamentos sérios e profundos – talvez para se afastar da instabilidade emocional do pai. Queixava-se de que as miúdas da sua geração eram demasiado fúteis, viviam para o Instagram e para o TikTok e de que tudo era planeado de forma a poder gerar conteúdo. Parecia dar-se melhor com mulheres mais velhas, mas eu não gostava do título de mulher mais velha, porque do meu ponto de vista, o mais novo era ele. A nossa atração mútua durou várias semanas e terminou no dia em que me pregou dois sustos. O primeiro quando me agarrou a mão durante a sesta. Eu, tomada pela surpresa de um toque inesperado enquanto dormia, dei um salto e levei a mão ao peito. “Caraças, que me matavas do coração”, exclamei. Minutos depois, matou-nos de todo, quando me disse “Sei que o que vou dizer é polémico, mas gosto dos livros do Gustavo Santos”. Pobre filho, viu a minha afeição por si esmorecer tão rapidamente quanto se me tivesse dito que votava no Chega.
Por esta altura, já pai e filho andavam meio às turras. Trocavam bocas e suspiros. Faziam comentários à parte e agiam como dois galos à solta numa capoeira. O pai, quando percebeu o interesse efetivo do filho por mim, acabou por afastar-se gradualmente. Achei nobre ao início, mas deixei de ter direito a beijinho e passou a receber-me com um “Ah, estás aqui”, ao qual faltava um revirar de olhos. Amuei. O filho, percebendo que perdera hipóteses, afastou-se também. Deixou de me pregar sustos e foi alargando a distância entre as nossas toalhas. Em sua defesa, eu afastei-me emocionalmente primeiro, mas depois senti-lhe a falta. Setembro terminou. Da última vez que fui à praia, o pai ficou no seu canto, o filho no dele e eu no meu. Parecia um fim de festa às seis da manhã, quando todos se divertiram imenso, mas já ninguém se suporta. Talvez no próximo verão já ninguém se lembre de nada disto e possamos voltar a montar um acampamento amigável, sem desejos inconscientes para explorar. Ou talvez exista um tio ou um primo que me possam apresentar, sei lá. A vida é um bocado como as ressacas, depois de uns dias já nem nos lembramos que jurámos nunca mais beber. Só sei que nunca me dou por vencida e que mesmo a tomar banhos gelados, ninguém me tira da praia.

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