La bella italiana e a sua carteira

Isabella Rossellini cozinhava numa casa cheia de família e convidados quando fez uma pausa para falar, em exclusivo à Máxima, sobre o seu novo projeto com a Bulgari: uma carteira tão especial como ela própria.

La bella italiana e a sua carteira
18 de outubro de 2012 às 06:09 Máxima

Graciosa, amável, despretensiosa. Não é a primeira vez que a Máxima tem o privilégio de entrevistar Isabella Rossellini e deixar-se encantar pela sua simpatia, já que para a edição de novembro de 1999 até nos mostrou o interior do seu apartamento em Manhattan. Mais do que uma atriz ou modelo, Isabella Rosselllini é um ícone. Nasceu em Roma na realeza cinematográfica, é filha da atriz sueca Ingrid Bergman e do realizador italiano Roberto Rossellini e quando começou a trabalhar como atriz, Isabella sempre correspondeu às elevadas expectativas que recaíam sobre si. A sua beleza, onde se reconheciam os traços da mãe, nunca passou despercebida e tornou-se modelo e capa de várias publicações de moda internacionais e, mais tarde, uma referência da cosmética. Agora, com 60 anos recém-completados, Isabella está numa nova fase da sua vida: vive numa quinta nos arredores de Nova Iorque, dedica-se em especial aos seus próprios projetos cinematográficos, bem como a causas solidárias e ambientais, e abraçou um novo e apaixonante projeto com a Bulgari. A relação entre a prestigiada joalheira italiana e a família de Isabella Rossellini tem uma história de décadas e, depois de estar diretamente envolvida noutros projetos com a Bulgari, foi convidada a criar uma carteira com o seu nome que partilhe as suas virtudes e a protagonizar a campanha publicitária, fotografada por Annie Leibovitz. Foi sob este pretexto que a interrompemos enquanto preparava o almoço no feriado americano do 4 de julho. Mas com a graciosidade que já lhe reconhecemos, Isabella Rossellini disponibilizou-se para 25 minutos de conversa.

Qual é a sua primeira memória da Bulgari?

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A minha primeira memória da Bulgari é de passear com a minha mãe na Via Condoti, uma rua muito bonita e antiga de Roma, que começa nos degraus da Piazza di Spagna, e onde hoje existem lojas lindas. Há também um café muito à moda antiga, o Caffé Greco, onde o meu bisavô costumava ir. A Bulgari tem uma longa história e uma longa sabedoria e, quando se quer uma joia perfeita, é o lugar onde ir.

'Há cerca de cinco anos, mudei-me para o campo, onde tenho uma quinta orgânica e passo muito mais tempo dedicada a ela do que a representar'

Acha que as suas origens italianas foram uma vantagem nesta aventura conjunta?

Na verdade, acho que sim, não apenas italianas, mas especificamente de Roma. Normalmente, o design está mais associado com o Norte, a Milão, como a moda, por exemplo. Roma sempre foi muito importante para os artesãos e a base da Bulgari é o trabalho deles. Roma e Florença são as cidades onde produzem a minha mala.

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Como é que esta parceria entre si e a Bulgari começou?

A Bulgari sempre foi amiga da minha família, por isso eu cresci a conhecer a família Bulgari e, ocasionalmente, já trabalhei com eles a usar as joias. A minha mãe tinha joias Bulgari. Até fez um filme em que interpretava uma senhora muito rica e foi a Bulgari que desenhou muitas das joias que ela usou nesse filme chamado A Visita, com Anthony Quinn. Foi a mamma que escolheu ter as joias da Bulgari. Mais recentemente, envolvi-me na campanha Save the Children e foi um sucesso. Depois continuámos a falar porque a Bulgari queria diversificar e expandir-se também para os acessórios. Falámos sobre qual seria o acessório perfeito e perguntaram-me se gostaria de colaborar com os seus artesãos em Florença. O objetivo era criar algo muito clássico, bonito e que fizesse lembrar a joalharia. Fomos buscar inspiração a algumas joias. O fecho da carteira é inspirado em peças antigas da Bulgari, mais especificamente num design dos anos 30. O fecho é feito de pedras semipreciosas, mas se alguém estiver disposto a pagar mais também fazem com pedras preciosas! As carteiras são todas feitas à mão e todas as estações há novas cores. A forma é sempre a mesma, com opção de quatro tamanhos diferentes.

Sabemos que esteve envolvida em todo o processo de realização desta carteira. De que parte do processo criativo gostou mais?

Foi provavelmente em Florença porque testemunhei o incrível conhecimento dos artesãos que está a desaparecer no mundo. Acho que essa foi a parte mais maravilhosa: trabalhar com eles e ver o processo de criar uma carteira. A Bulgari é uma grande empresa que foi capaz de salvar a mão-de-obra especializada.

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A carteira é um acessório muito importante para as mulheres e algumas trazem mesmo a sua vida toda lá dentro. O que costuma trazer na sua carteira?

Bem, por causa do facto de acharmos que a carteira é um pouco a nossa casa, o forro da carteira foi desenhado por mim e é um pequeno caracol que tem o simbolismo de trazer a casa às costas. A carteira é como o caracol a carregar a casa. O motivo pelo qual fizemos este forro é porque eu não queria um forro preto. É que quando o telefone toca e está tudo preto dentro da carteira não se consegue encontrar nada, por isso decidimos fazê-lo colorido e com um padrão para que o que temos na carteira se destaque. E o que eu tenho na minha carteira é o que as outras pessoas têm, claro: telemóvel, chaves, porta-moedas, a minha agenda…

Pode contar-nos como surgiu o desafio de criar o forro da carteira?

Eu faço curtas-metragens cómicas e quando faço os filmes eu desenho-os, faço a storyboard. A Bulgari viu esses desenhos e foi assim que a ideia surgiu. Desafiaram-me a ser eu própria a desenhar o padrão do forro e eu peguei num dos meus desenhos de um caracol, pelos motivos que já referi. Quando saio de casa, desde que tenha a minha carteira, tenho um pouco da minha casa comigo. E este é também um padrão exclusivo para esta carteira.

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Qual é a sua versão ou cor preferida da carteira Rossellini e porquê?

Gosto muito das cores excêntricas. A primeira que fiz e que usei muito foi a que tem o padrão zebra. E agora, nesta estação, há uma vermelha da qual eu gosto em particular. Geralmente, uso roupa muito simples, branca ou preta, e não uso muitos padrões, por isso é nos acessórios que deixo a fantasia e a cor libertarem-se. Tenho tendência a usar as carteiras mais coloridas, mas também tenho em preto e bege para um look mais clássico.

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Já tinha trabalhado com a Annie Leibovitz antes? O que acha da abordagem tão particular que tem a cada trabalho?

Sim, já trabalhei com a Annie várias vezes e fiquei muito feliz por voltarmos a trabalhar juntas. É uma das maiores fotógrafas, claro! Ambas trabalhámos em moda durante muitos anos, por isso fico muito comovida por esta campanha e a Bulgari nos unirem de novo. Além disso, é uma oportunidade feliz poder representar os valores da Bulgari, não com base na juventude mas sim na experiência e consistência.

Como foi o ambiente durante a realização da campanha e como é a sua relação de trabalho com a Annie?

Foi inacreditável, quando cheguei ao estúdio a Annie chamou-me, levou-me ao seu escritório e estava todo forrado com fotografias minhas! Fez uma pesquisa incrível. Já me fotografou e conhece-me. Apesar de tudo, quando cheguei, recordei-lhe: “Annie, não há segredos para os maiores, no fim tem sempre a ver com muito trabalho, muita pesquisa e estar preparado.” Havia várias fotografias minhas e depois havia fotografias de um pintor, Meredith Frampton, todas eram retratos de mulheres, mas mulheres que não eram sensuais, eram elegantes e muito lady like, de uma forma muito simples e clássica.

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O seu amor pela Arte é conhecido. Porquê a escolha do pintor Meredith Frampton como inspiração para esta campanha?

Acho que começou com um quadro que foi particularmente apelativo para nós. Havia um com uma mulher sentada num sofá de uma forma tão relaxada e, no entanto, sabíamos que era uma mulher elegante na postura, na atitude. Sobressaía uma grande simplicidade. Pensámos que era aquilo que queríamos para a campanha: uma elegância clássica, nada sensual ou louca, mas calma, o que é muito difícil de captar. E eu acho que a Annie a captou de forma brilhante.

Identifica-se com as mulheres nestes quadros?

Gostava de ser como elas! Adoro as mulheres nas pinturas, nem sequer sei quem elas são, mas o que elas transmitem, aquela elegância clássica… Acho que todas as mulheres da minha idade desejam tê-la. Não desejo ser mais jovem, sensual ou provocante, mas sim uma senhora elegante.

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Em todos os trabalhos em que se tem envolvido ao longo dos anos, acha que a mulher já conquistou o lugar que merece na sociedade, em igualdade com os homens?

Há certas profissões que, com a minha experiência de vida, se tornaram populares para as mulheres, por exemplo médicas, advogadas e, cada vez mais também, realizadoras. Nos últimos dois anos participei em seis filmes com pequenos papéis e quatro deles eram de mulheres. Parece começar a haver mais mulheres realizadoras do que homens. Há 20 anos atrás nem se ouvia falar disto, havia muito poucas mulheres realizadoras e cinematógrafas. Do ponto de vista da família não se progrediu assim tanto, porque as mulheres que têm uma carreira continuam a ter de tomar conta da casa e das crianças e nada é feito para as ajudar. Acho que ainda há muito trabalho para ser feito, mas estamos na direção certa.

Por outras palavras, o feminismo ainda se justifica no século XXI? 

Acho que sim, absolutamente. Eu acho que as mulheres têm de tornar os seus direitos válidos.

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Sabemos que participa em várias causas humanitárias e ambientais e também continua a trabalhar como atriz. Neste momento o que a ocupa?

Continuo a trabalhar como atriz e tenho algum interesse nisso, confesso. Mas estou mais interessada em fazer os meus próprios filmes, que eu escrevo e realizo, e são relacionados com animais ou problemas ambientais. Divirto-me mais a trabalhar nestes filmes do que nos projetos de outras pessoas. Há cerca de cinco anos, mudei-me para o campo, onde tenho uma quinta orgânica e passo muito mais tempo dedicada a ela do que a representar.

E que outros projetos podemos esperar de si num futuro próximo?

Tenho um filme alemão que vai ser lançado no outono, Nono, het Zigzag Kind; também participei num filme da realizadora francesa Carine Tardieu e noutro da realizadora iraniana Marjane Satrapi. Em setembro vou realizar um filme que é uma coprodução com o canal alemão Arte e uma televisão americana com quem tenho trabalhado muito.

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Teremos mais parcerias entre si e a Bulgari? Talvez uma coleção de joias ou um perfume…

Temos colaborado, mais ou menos, durante quase toda a nossa vida. A carteira vai continuar certamente à venda. Por isso, vou continuar a promovê-la e a mudar o design, as cores, as pedras. Este ano é particularmente importante porque esta carteira foi selecionada para representar todos os acessórios Bulgari. Vamos continuar num patamar elevado, talvez no próximo ano a campanha publicitária dos acessórios tenha outra pessoa, não sei. Não discutimos mais nada. A Bulgari foi recentemente comprada pela LVMH e mudaram vários executivos, que estão agora a tomar as suas decisões.

1 de 6 / La bella italiana e a sua carteira
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2 de 6 / Imagem da campanha inspirada na pintura do artista britânico Meredith Frampton (1894-1984) reinterpretada pelo olhar da fotógrafa Annie Leibovitz)
3 de 6 / Campanha publicitária da Bulgari
4 de 6 / La bella italiana e a sua carteira
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5 de 6 / Um dos momentos da sessão fotográfica
6 de 6 / Momento de cumplicidade entre ambas
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