A influência da Bauhaus no mundo da Moda

Para marcar o 100º aniversário do nascimento da Bauhaus, pedimos a vários designers de moda para contar à Máxima como o movimento alemão influencia o seu trabalho.

01 de abril de 2019 às 18:35 Aline Fernandez

"Para um criador de Moda ou qualquer pessoa ligado ao design em qualquer uma das suas vertentes, perguntar se somos influenciados pelo Bauhaus é quase redundante," diz João Magalhães, designer da marca com o mesmo nome. "Todos, mesmo os que nunca ouviram falar nesta escola, somos marcados por ela, porque uma grande parte da maneira como desenhamos o mundo vem das experiências e das ideias desenvolvidas pela Bauhaus".

Nascida em abril de 1919 na cidade alemã de Weimar, a Bauhaus foi uma escola de Artes inovadora fundada pelo arquiteto Walter Gropius. Mudou-se para Dessau, a 126 Km de Berlim, em 1925, e depois para a capital alemã, em 1932, mas foi fechada pelos nazis no ano seguinte. Entre os seus adeptos, há nomes como Wassily Kandinsky, Paul Klee, Josef e Anni Albers, Ludwig Mies van der Rohe e Marcel Breuer.

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Na época, a ideia da Bauhaus era unir arte e indústria, principalmente forma e funcionalidade, dando igual ênfase à pintura, escultura, artesanato e arquitetura, têxteis, cerâmica, metalurgia e marcenaria. Em apenas 14 anos e com pouco menos de 1250 alunos, a influência da escola não encontrou barreiras. "Não se pode alcançar esse tipo de ressonância com qualquer organização ou propaganda. Só uma ideia tem o poder de se espalhar tão amplamente", terá dito Mies van der Rohe, que foi aluno e depois o terceiro e último diretor da escola. Um dos factos que levou a Bauhaus a propagar-se pelo mundo foi paradoxalmente a razão de ter sido fechada pelos nazis. Os seus artistas estabeleceram-se assim em outros países e com eles foram também as ideias.

E, como era de se esperar, de Walter Gropius a Wassily Kandinsky, a ideia de explorar as formas essenciais sem abdicar da sua simplicidade e funcionalidade assentava que nem uma luva no universo da Moda. Este princípio inspirou alguns dos designers mais influentes da década de 1960, incluindo Mary Quant, criadora da minissaia, o minimalista Jil Sander ou o sempre futurista André Courrèges. Até mesmo o macacão da Ziggy Stardust de David Bowie em 1972 absorveu o conceito da escola alemã.

"A Bauhaus vincou um espírito de rutura com o passado, de rejeição de formalidades na roupa e na maneira de pensar o mundo. Basta comparar a modernidade do que por lá se produzia nos anos 20 com os delírios da roupa feminina da Belle Époque, com saias, saiotes, rendas, corpetes, luvas, sombras, véus... toda uma indumentária desenhada para a imobilidade e redução da mulher à figura de sedução ou maternal. E, de repente, as pernas e braços estão soltos, o movimento é possível, o adorno reduz-se ao essencial para transmitir uma ideia ou intenção. No fundo, o nosso guarda-roupa atual vem diretamente disto, desta rutura com o passado", explica-nos ainda João Magalhães. O designer português Luis Carvalho partilha da mesma ideia. "O design e a arquitetura são sem dúvida das maiores fontes de inspiração para a criação de uma coleção, portanto, no meu caso posso dizer que indiretamente há-de sempre influenciar a moda de alguma forma."

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Lá fora, já vimos a coleção primavera-verão 2005 de Jonathan Saunders explorar as formas de interconexão e linhas arrojadas. Dez anos depois, a coleção outono-inverno 2014 da Hugo Boss contou com padrões inspirados nas tapeçarias de Anni Albers, trabalho que também se refletiu nas peças de Paul Smith. A designer de moda grega Mary Katrantzou incorporou pósteres da Bauhaus na sua coleção outono-inverno 2018. E a Longchamp lançou recentemente no desfile de outono-inverno 2019 na Semana de Moda de Nova Iorque o novo monograma da marca, LGP, inspirado precisamente nos artistas da Bauhaus e nas ruas labirínticas de Nova Iorque. O LGP esteve presente em toda a coleção, das carteiras às calças e casacos. Não podemos ainda esquecer a designer sérvia baseada em Londres Roksanda Ilincic, que faz das cores primárias e dos padrões geométricos a sua assinatura.

Se ainda houvesse dúvidas, os elementos do espírito Bauhaus também se encaixaram sem esforço nas nossas vidas, por exemplo em muitas das peças da Ikea.

Para celebrar o centenário do movimento, este ano, a Alemanha preparou uma programação intensa nas três cidades marcadas pela escola, Weimar, Dessau e Berlim. E novos museus Bauhaus estão precisamente programados para abrir em Weimar (este ainda este mês e concentrando-se no período inicial da história da escola), e outro em Dessau, este para setembro e abrigando a vasta coleção de cerca de 49.000 obras da Fundação Bauhaus.

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Inspirado no Bahaus, o novo emblema da marca direciona-se ao público mais jovem e foi aplicado em carteiras, acessórios e pronto-a-vestir unissexo.

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