Fica difícil responder a esta questão quando tanto adultos como crianças são postos à prova de tantas formas. Esta época do ano, talvez até mais do que em janeiro, é feita de regressos, recomeços e até, possivelmente, inícios ou conclusões de ciclos.É um tempo que não é dado a reflexões e sim a ações. São-nos pedidos ajustes rápidos, respostas prontas, ações imediatas. E se todas estas obrigações por si só já são motivo de ansiedade, quando as associamos ao recomeço das rotinas - ao que, supostamente, não é tão prazeroso - então temos o ambiente ideal para que se alastrem resistências e inseguranças.
A verdade é que nos é pedido que, depois de um período que é, à partida, o mais longo do que qualquer outro no ano, sejamos capazes de desligar o modo férias e ligar o modo obrigações. Mas se repararmos bem, durante o período de férias também existem rotinas e obrigações, e no período de trabalho/escola também existe o direito a pausas, descanso e divertimento. Ou seja, os dois períodos não são opostos, apenas têm proporções diferentes ao longo do ano. Esta perspetiva ajuda-nos a ver estes ciclos mais como uma continuidade do que como ruturas abruptas.
A realidade é que todos nós, uns mais, outros menos, sofremos com este regresso de férias para encarar mais um ano. As razões é que podem ser distintas. Por norma, nós, pais, sofremos mais e temos mais dificuldade em lidar com as mudanças do que os nossos filhos. Isto tem uma razão de base: queremos protegê-los ao máximo. Os adultos têm um conhecimento dos possíveis cenários que podem acontecer, seja por terem passado por alguma situação nas suas vidas pessoais, seja por conhecerem alguém que tenha sofrido de alguma forma na escola — ou até por todas as possibilidades imaginadas, que fazem crescer este sentimento de insegurança e de querer proteger. As crianças, à partida, não conhecem estes cenários. Os seus medos estão mais ligados ao perder de vista as figuras de referência que as fazem sentir-se seguras, e ao enfrentar o desconhecido.
Já entre os jovens, a maior parte da sua ansiedade está relacionada com o sentirem-se aceites. Será que vão ter amigos, será que vão ser capazes de falar no grupo? Estas e muitas outras questões criam inseguranças nos jovens enquanto, para os pais, a maior preocupação está relacionada com a aprendizagem escolar. Será que estão motivados, que vão ter boas notas para assegurar um futuro de sucesso? Ou seja, se para as crianças e jovens o maior desafio é lidar com todo um universo de novidades e expectativas. Para os pais, existe a preocupação constante com a logística, o desempenho e o bem-estar da família. No entanto, as emoções de uns refletem-se nos outros e podem, ou não, potenciar essa ansiedade, dependendo da forma como reagimos. É a chamada ansiedade projetada, quando os pais receiam que o filho não se adapte, não se sinta incluído, ou não corresponda às expectativas de aprendizagem. Nesta tentativa de proteção, acabam por transmitir a própria insegurança.
Não podemos controlar o que vai acontecer e é inevitável que este período traga consigo mudança, mas podemos fazer com que seja uma transição o mais tranquila possível quer para pais, quer para filhos. É possível gerir a ansiedade ao antecipar cenários, ajudar a verblizar os medos e estar preparado para as várias hipóteses que possam acontecer. tudo isto cria uma maior previsibilidade. Por isso é tão importante permitir que todos se expressem e acolher as inseguranças de cada um, mais do que minimizar ou desvalorizá-las. Envolver a todos no processo de mudança, traz sentido de pertença e controlo, bem como deixar que todos participem nas escolhas e na tomada de decisões sobre como vão ser as novas rotinas. Não esquecer que todo este processo pode igualmente ser leve e descontraído. Sabemos que a maneira como os pais encaram as situações é o sentimento que vão passar aos seus filhos e a forma como eles próprios vão reagir.
No final, a questão não é para quem é mais difícil, mas sim como é que todos podem passar por este processo de adaptação da melhor forma possível, apoiando-se mutuamente. Quando os pais acolhem as emoções dos filhos, ao mesmo tempo que cuidam das suas próprias, criam um ambiente de confiança e segurança que faz toda a diferença. O regresso às aulas pode ser, sim, um desafio, mas também uma oportunidade para fortalecer laços familiares, desenvolver competências de resiliência e ensinar, pelo exemplo, que as mudanças fazem parte da vida. No fundo, trata-se menos de um peso e mais de uma viagem partilhada, onde cada um pode aprender e crescer com o outro.