Jessica Chastain Na crista da onda
Jessica Chastain tem dominado o cinema e o seu talento inspira notoriamente Hollywood.

No último Festival de Cannes não se falava de outra coisa que não fosse a atriz-revelação de A Árvore da Vida. A graça que emana da jovem atriz, apaixonada por moda e fiel a Louis Vuitton, deixa adivinhar um futuro promissor… Encontrámo-nos com ela em Nova Iorque.
“Diáfana” é o adjetivo mais recorrente quando pensamos em Jessica Chastain, a estrela em ascensão de Hollywood. Contudo, esta jovem mulher não é apenas essa beleza pré-rafaelita, de pele muito branca e cabelo acetinado, dada a conhecer ao grande público com A Árvore da Vida, de Terrence Malick, Palma de Ouro no último Festival de Cannes. Com 30 anos, filha de um bombeiro, nascida num subúrbio residencial da Carolina do Norte,
Jessica teve de lutar para conseguir entrar na lista A das novas atrizes a ter em conta. Porém, Hollywood já não faz nada sem esta rapariga de uma classe inata e que conta já com sete filmes no currículo, todos no espaço de um ano. Mãe sofredora em A Árvore da Vida, loura platinada, sexy e desajeitada em As Serviçais, de Tate Taylor, um forte candidato aos Globos de Ouro de 2012 e pelo qual está nomeada para melhor atriz secundária, esposa que testemunha a deriva alienada do seu marido em Take Shelter, de Jeff Nichols, na adaptação de Shakespeare,
Coriolano, de Ralph Fiennes, a atriz mantém sempre uma graça e um perfecionismo notáveis. Um rigor e um instinto herdados do seu passado de dançarina, marcado por quatro anos dedicados ao estudo da dança na reconhecida Juilliard School, em Nova Iorque. Jessica Chastain teve aulas na televisão e no teatro (aliás, ela irá regressar à Broadway, desta feita como estrela, no próximo ano), durante as quais caiu nas boas graças de padrinhos de prestígio como Robin Williams, Philip Seymour Hoffman e Al Pacino.
As Serviçais
Algumas pessoas afirmam que, se não a conhecemos ou se não vimos um dos seus filmes nestes últimos seis meses, então, vivemos em reclusão… Em que é que a afeta ser a nova sensação de Hollywood?
O ano de 2011 não foi, de forma alguma, normal. Tudo o que tem acontecido colocou-me na boca-de-cena. Cannes foi uma experiência bastante louca e que eu aproveitei bem. [Sorri] É verdade que as pessoas me reconhecem agora. Aliás, ainda não há muito tempo, fiquei surpreendida por ver que uns fotógrafos me seguiam no meu caminho para a Colette, em Paris. Mas eu mantenho-me lúcida, a minha notoriedade deve-se ao fator sorte. No ano que vem, Hollywood encantar-se-á com uma outra nova atriz…
Acabou de conseguir o papel de Lady Di em Caught in Flight, de Oliver Hirschbiegel...
Ainda não estou em mim, mas é uma grande responsabilidade, uma vez que esse papel é delicado. Eu estou um pouco longe da princesa Diana, ainda preciso de trabalhar muito, especialmente a parte gestual. A princesa parecia-me ser extremamente generosa e esse será, sem dúvida, o meu ponto de partida para vestir a pele da personagem.
Um ano e sete filmes, e outras tantas personagens. Como é que consegue?
Eu pago com o meu próprio corpo. [Jessica mostra os seus joelhos, cheios de nódoas negras e de arranhões como os de uma criança.] Neste momento, a rodagem de Mama [um filme de terror produzido por Guillermo del Toro] exige uma enorme entrega física, como também foi o caso de A Dívida, de John Madden, onde, dada a dimensão psicológica intensa do papel [uma agente da Mossad cuja missão acaba numa catástrofe], tive direito a uma preparação física não menos intensa. Durante quatro meses, três vezes por semana, estive entregue aos cuidados de um instrutor do exército israelita.
Em contrapartida, em As Serviçais, Jessica interpretava o papel de uma dona de casa com tanto de sexy como de desajeitada…
Foi bastante divertido. Procurei saber como poderia ser uma mulher desse género nos anos 50. Para se ser atriz, é necessário, antes de mais, observar, estudar. Por isso, vi filmes e biografias de Marilyn Monroe, assim como, obviamente, o romance de Kathryn Stockett. No fim de tudo, o mais difícil foi encontrar a voz certa para Célia, a minha personagem, uma voz aguda e nasalada.
Take Shelter evoca a história de um homem (Michael Shannon) que, para salvar a sua família de um hipotético fim do mundo, constrói um abrigo contra tempestades. É uma alegoria a uma certa forma de paranoia nos Estados Unidos?
Mais do que uma paranoia, o filme evoca, para mim, a situação crítica do país. A incerteza relacionada com as taxas recordes de penhoras imobiliárias, o empobrecimento, os problemas de saúde. Eu venho de uma família com uma vida não muito fácil e eu sei o que é passar por momentos difíceis. O meu irmão, depois de ter terminado a licenciatura, não encontrou trabalho e, à falta de melhor, foi para o exército.
Neste momento, a sua celebridade deve-se também à sua beleza. Que relação mantém com o seu aspeto físico?
Na vida de todos os dias, não passo horas a arranjar-me. Aliás, quando era pequena, era alvo de chacota na minha turma. As outras crianças gozavam com os meus cabelos ruivos. Eu já era tímida por natureza e isso fazia com que o fosse ainda mais. Felizmente, a minha avó ensinou-me a desabrochar, a libertar-me. Em vez de esconder-me, a minha avó aconselhou-me a mostrar-me, a vestir-me com cuidado e a pôr o meu colo em evidência. Numa palavra, a ser mais sexy…
É essa a sua definição de elegância?
Para mim, a elegância tem sobretudo a ver com a delicadeza e a doçura. Ser afetuosa. Quando penso em alguém com uma aparência bonita, bela, é sempre Grace Kelly que me vem à lembrança.
Nas red carpets dos festivais, vimo-la muitas vezes em Louis Vuitton…
Quando estudava na Juilliard School, em Nova Iorque, por vezes, não tinha nem como apanhar um táxi, mas já sonhava em ter uma carteira da Louis Vuitton. Tive a possibilidade de assistir a um desfile absolutamente louco: uma explosão de cor, uma celebração do corpo feminino. Lembro-me do último look, composto unicamente por umas calças e… um busto de um manequim pintado sobre a pele.
Exclusivo Madame Figaro. Tradução de Carla Sacadura Cabral
